Às margens do Rio Jaguaribe, camponeses bravios ousaram lutar contra o latifúndio local. A região do Vale do Jaguaribe é conhecida no Ceará como terra de “pistolagem”, onde os latifundiários impõem suas vontades através da coerção e violência. Não foi diferente no decorrer da luta por terra travada pela Organização Popular (OPA) na região.
De início, no centro da cidade de Jaguaruana, uma das lideranças do movimento, constantemente ameaçada pelo latifúndio local e identificada aqui, por questões de segurança, como Jessé, recebeu a equipe do AND. Enquanto nossa equipe comia um espeto preparado pelos camponeses, Jessé contava que muitas das lideranças vieram de uma ruptura com o MST: “achava que era um problema de direção do movimento, mas depois compreendi que não, que o movimento mesmo (o MST) tinha seus limites dentro da institucionalidade.” Ele explicou ainda que a OPA realiza um trabalho de “autodemarcação da terra” (ou seja, não espera pelo INCRA e pela burocracia estatal).
Após a refeição, o grupo seguiu para a Ocupação Gregório Bezerra II. A hospedagem ocorreu na casa de Seu Sitoé, considerado a grande raiz da ocupação devido ao fato de seus filhos, netos, noras e enteados representarem uma parte significativa da comunidade local. Agricultor aposentado, ele e sua companheira ofereceram um jantar preparado em fogão a lenha. Na casa de chão de terra batida, o ambiente era marcado por alegria e companheirismo, com a constante circulação de outros camponeses que trocavam informações e saudações, animados pela proximidade da quadra chuvosa.
Seu Sitoé se orgulhava de ter produzido mais de 67 sacas de feijão na Ocupação Gregório Bezerra I, instalada em um depósito de carcinicultura desativado. O objetivo agora era ampliar a produção em um terreno maior, mas mal cuidado, da Ocupação Gregório Bezerra II, abandonada há muitos anos e que pertenceu ao deputado estadual Osmar Baquit Diógenes (PDT).
Conforme amplamente noticiado pelo Jornal A Nova Democracia, o então deputado já enviou dezenas de paramilitares armados e encapuzados para intimidar os camponeses. A ação, no entanto, mobilizou a região, e diversos moradores de Jaguaruana se levantaram em apoio, organizando motociatas que levaram ao recuo do grupo ligado ao latifundiário.
Durante uma atividade de Natal para as crianças promovida pela OPA, realizada na beira do Rio Jaguaribe, em um local conhecido como Prainha, houve a participação de companheiros de diversas ocupações, como Marcelo, de Itaiçaba, além de camponeses interessados em se unir ao movimento. Elizângela, outra importante liderança da OPA, também esteve presente, organizando a mística do movimento junto com Marcelo e duas crianças.
O evento destacou a Solidariedade à Causa do Povo Palestino e, em um gesto de internacionalismo, os camponeses decoraram o ambiente com doces exibindo a bandeira da Palestina. As apresentações ressaltaram a luta das crianças palestinas, que vivenciam o Natal em um contexto de resistência.
Após as falas das lideranças do movimento, os representantes do comitê de apoio ao AND reafirmaram que a luta dos camponeses da Ocupação Gregório Bezerra tem sido noticiada desde o início pelo AND, destacando-a como um exemplo de coragem para lutadores de todo o país. As lideranças relembraram a ocupação da sede do Partido dos Trabalhadores no final de 2023, realizada em protesto contra a recusa do governador Elmano de Freitas em dialogar com o movimento.
Também foram mencionadas outras importantes lutas de 2024, como as de Barro Branco, em PE; dos Posseiros de Messias, em AL; de Mãe Bernadete, na Bahia; e dos Kaiowa, no MS, encorajando os presentes e renovando o sentimento de otimismo. Mensagens de solidariedade dos companheiros de Barro Branco à luta de Gregório Bezerra também foram ressaltadas. Por fim, enfatizaram que novas lutas virão e que a palavra que está na ordem do dia é a Revolução