Quatro fatores se colocam como desdobramentos na nova situação. Primeiro, a existência de uma articulação da extrema-direita, promovida pelo presidente de turno Bolsonaro apeado do governo, e que se desdobrou como movimento de massas anticomunista armado e obstinado em questionar as eleições e a velha democracia; segundo, a atuação golpista do Alto Comando Forças Armadas reacionárias de pôr abertamente em dúvida o sistema eleitoral e dispararem ataques às demais instituições dessa velha República; terceiro, a eleição de um novo governo pela minoria da nação, que não tem coesão interna, terá uma forte oposição no Congresso (e da extrema-direita, nas ruas, ademais das massas populares) e não poderá cumprir a contento suas promessas demagógicas; quarto, a tendência irrefreável de crescimento do protesto popular – em especial, da luta pela terra e pela Revolução Agrária –, empurrado pelo latente processo de decomposição e crise aguda da economia e de incapacidade do decadente e corrupto sistema político de resolvê-lo a curto e médio prazos, após um enorme boicote eleitoral em que um terço dos brasileiros e brasileiras não votaram no segundo turno (49,64 milhões).
As movimentações golpistas, que bloquearam por alguns dias as rodovias do País e agora concentram-se em açular os quartéis, são os mais ferozes inimigos do povo e da soberania nacional. Conformam um movimento relativamente centralizado, do ponto de vista político, fortemente armado e suficientemente disposto a servir como tropa de choque terrorista da contrarrevolução (como demonstram as ações armadas dos bolsonaristas nos bloqueios do Pará, e o atentado contra a redação de um jornal em Rondônia). Essas hostes, desde o esgoto da sociedade, vieram desavergonhadamente à superfície, tramando e executando suas provocações, atentados políticos e ataques armados, instigados por décadas de berreiro reacionário e anticomunista dessa mesma direita liberal que hoje quer se fazer de “democrata”. Agora, essa extrema-direita, derrotada nas urnas da farsa eleitoral e mais assanhada do que nunca, é – e será, cada vez mais – usada pelas Forças Armadas reacionárias, tanto para combater o protesto e a revolta populares, quanto como fator de instabilidade que justifique crescente militarização do Poder político.
Esse conjunto de fatores dá, ao proletariado revolucionário e demais classes populares, difíceis, mas decisivas tarefas. Ademais de combater sem tréguas e de forma contundente e enérgica a extrema-direita, será preciso desmascarar o futuro governo do oportunismo com a centro-direita civil, que aplicará as medidas mais draconianas para dar novo impulso ao capitalismo burocrático, e buscará encabrestar as massas populares, chantageando as pessoas progressistas para defenderem o governo contra a extrema-direita. A luta contra as falanges bolsonaristas e outras hordas fascistas exigirá necessariamente golpeá-las medida por medida e com toda a fúria. Denunciar sistematicamente as manobras do Alto Comando das Forças Armadas, que jogará ora com a extrema-direita, ora com o governo com oportunismo, em função de avançar com sua ofensiva contrarrevolucionária preventiva por impor sua centralização absoluta de Poder no Executivo e seu controle, tutela e ameaças, para com isto restringir as liberdades democráticas e combater, com mãos de ferro, o protesto popular e a Revolução.
Os democratas e revolucionários terão que lutar, mais que antes, com firmeza inquebrantável para ganhar louros para a luta popular nesse período. A questão central e tarefa decisiva, por toda a parte, é ensinar as massas a defenderem seus interesses imediatos e os direitos e liberdades democráticos, por todos os meios e de modo intransigente. O grande número do boicote, por um lado, e a explosividade das massas, por outro, são o terreno propício para lográ-lo. Não deve haver erro: não se deixar arrastar para a defesa dessa velha democracia corrupta a pretexto de combater a extrema-direita armada e o golpismo dos generais, e nem permitir a estes arrastarem as massas pelo golpe de Estado a pretexto de combater o oportunismo e a velha democracia. Deverão sim, levantar alto, a bandeira da Revolução de Nova Democracia.