O ex-presidente Jair Bolsonaro teve ao menos três reuniões secretas com comandantes das três Forças Armadas e outros integrantes de seu círculo imediato nos dias 1º, 2 e 14 de novembro de 2022, semanas seguintes após a derrota eleitoral para Luiz Inácio. As reuniões estão em e-mails enviados pelo ex-ajudante de ordens Jonathas Diniz Vieira Coelho que foram enviados à CPMI do 8 de Janeiro. As informações vieram a público a partir de matéria do jornalista Guilherme Amado, do Metrópoles, e trazem a comprovação de que os generais da ativa sabiam do desejo de Bolsonaro por uma ruptura institucional naquele momento.
A primeira reunião contou com a presença do general Marco Antônio Freire Gomes (então comandante do Exército), o almirante Garnier Santos (ex-comandante da Marinha) e do tenente-brigadeiro Carlos de Almeida Baptista Júnior (ex-comandante da Aeronáutica), além de Walter Braga Netto e dos ex-ministros Paulo Sérgio Nogueira (Defesa), Anderson Torres (Justiça) e Bruno Bianco (AGU).
O segundo encontro foi mais reservado: participaram dele somente o comandante do Exército, da Marinha e o senador Flávio Bolsonaro. Já o terceiro voltou a contar com a presença de Paulo Sérgio Nogueira, Anderson Torres, Braga Netto e adicionou Wagner Rosário (que, então, estava à frente da CGU).
O contexto do país era, resumidamente, o seguinte: após uma ação coordenada de Jair Bolsonaro questionando a segurança das urnas eletrônicas, o resultado do segundo turno da farsa eleitoral deu vitória ao oponente de Bolsonaro. Este manteve-se praticamente sem pronunciamentos públicos, chegando a ficar quase 72 horas para reconhecer o resultado das urnas – e, quando se pronunciou, não reconheceu explicitamente e ainda demonstrou apoio implícito ao fechamento de rodovias por todo o país que pediam intervenção militar (entre 31/10 e 01/11, foram registrados 321 bloqueios em 26 estados do país).
Tudo indica que, nestas reuniões secretas com os generais, Bolsonaro tratou de provocar os comandantes a embarcarem numa ruptura institucional para questionar o resultado das urnas, e a pauta das mesmas só poderia ser essa.
Segundo informações do jornalista Caio Junqueira, do monopólio de imprensa CNN, o Alto Comando rejeitou intervir naquelas condições, por maioria. O colunista reacionário William Waack afirmou que a divisão no ACFA era, então, a seguinte: uma parte achou “as eleições estranhas”, mas sem manipulação de urnas no resultado (maioria), e outra que julgou que houve manipulação nas urnas e que era justificado uma intervenção naquele momento (minoria).
Em 18 de novembro, confirmando essa reunião e toda a agitação de Bolsonaro no Alto Comando, veio a tona uma lista dos “generais melancias”, que foram contra a intervenção – que, posteriormente, as investigações sobre Mauro Cid indicam que foi ele quem passou tais informações ao neto do ex-presidente João Figueiredo, que, por sua vez, divulgou ao público.
São notáveis e explícitas duas conclusões: em primeiro lugar, o Bolsonaro foi – de fato – o grande articulador político, no mínimo, da forte agitação golpista que revolveu o País de novembro a janeiro deste ano; em segundo, que o Alto Comando das Forças Armadas, no mínimo, cometeu crime de prevaricação (sabendo de tudo o que planejava Bolsonaro, nada fez para impedir sua atuação, temerosa de uma cisão nas tropas) e ainda é co-responsável, por todo seu trabalho de interferir na vida política do País e por sua postura de conciliar com a pregação golpista de Bolsonaro, o que só fez alimentá-la no seio das tropas e das vivandeiras de quartel. Objetivamente, são, por isso, co-responsáveis pelo 8 de janeiro.