RJ: Bárbaro assassinato de Claudia completa seis anos sem punição

RJ: Bárbaro assassinato de Claudia completa seis anos sem punição

Neste mês de março completaram-se seis anos do bárbaro assassinato de Cláudia Silva Ferreira que chocou o país. Claudia, mãe de quatro filhos e auxiliar de enfermagem teve seu corpo arrastado por uma viatura da PM após ter sido assassinada pelos policiais durante uma operação no Morro do Congonha, em Madureira, zona norte do Rio. As imagens foram exibidas em vários noticiários do Brasil e do mundo e causaram grande comoção e revolta. Até hoje os PMs que cometeram o crime não foram sequer julgados e seguem nas ruas.

Os dois policiais acusados e indiciados pelo assassinato de Cláudia, desde a época, já se envolveram juntos em mais 8 mortes durante operações policiais, todas registradas como “homicídios decorrentes de intervenção policial”, os chamados autos de resistência”. As informações foram publicadas por Rafael Soares em matéria no jornal “Extra”.

O levantamento feito pela referida reportagem revela também que o PM Rodrigo Medeiros Boaventura, que na época era tenente, foi promovido e hoje é capitão. Já o sargento Zaqueu de Jesus Pereira Bueno está lotado no 41º BPM (Irajá) e, apenas quatro meses depois do assassinato da auxiliar de serviços gerais, envolveu-se em outro homicídio. Depois de sua promoção, o capitão Boaventura se envolveu em ao menos dois homicídios durante operações policiais. Já o sargento Bueno, esteve envolvido em pelo menos outros seis casos. Os dois foram acusados pela morte de Cláudia em julho de 2014. A denúncia por homicídio doloso só foi recebida pelo judiciário em março de 2015. Até agora, o processo corre na 3ª Vara Criminal e os PMs nem ao menos foram pronunciados.

FAMILIARES DENUNCIAM O CRIME

Em março de 2014, no dia seguinte ao assassinato da trabalhadora a equipe do jornal A Nova Democracia foi à casa de Cláudia e conversou com o seu marido, o operário Alexandre Fernandes da Silva.
– Arrastaram o corpo da minha mulher como se ela fosse um saco. A perna dela ficou toda em carne viva. Não podiam ter feito isso com ela… Ela era trabalhadora, não bandida. Não sei por que fizeram isso com ela – denunciou o companheiro de Claudia, com quem foi casada por quase vinte anos.

REVOLTA POPULAR POR JUSTIÇA

Na ocasião do assassinato, moradores da comunidade realizaram vários protestos em repúdio ao assassinato da mãe trabalhadora de 38 anos. Barricadas foram erguidas, pneus e ônibus incendiados em revolta contra o hediondo crime das forças de repressão do velho Estado.

Movimentos populares também somaram-se à luta por justiça dos amigos, familiares de Claudia e de toda a comunidade cansada de tantos crimes impunes cometidos pela PM com a chancela do velho Estado.

Revoltados, moradores da comunidade protestaram contra a morte de Claudia, 2014. Foto: Luiz Ackermann/Extra

Em nota daquele ano, o Movimento Feminino Popular denunciou a ação covarde das forças de repressão e o papel auxiliar do monopólio de imprensa que tentou através de sua cobertura individualizar o bárbaro crime que chocou o país e que é expressão de uma política de Estado:

“As cenas da repugnante ação policial foram amplamente divulgadas nas redes sociais. Os veículos do monopólio da imprensa, obrigados a comentar devido à gravidade do fato, como sempre, apontaram o assassinato de Cláudia como um ‘fato isolado’, um ‘erro de maus policiais’ etc. Estes papagaios que até pouco tempo se escandalizavam com os “vândalos” e ‘baderneiros’, agora não ousam levantar um questionamento sério à violência policial, mesmo porque fazem parte dessa máquina genocida que é o velho Estado brasileiro. Canalhas!
A Polícia Militar do Rio de Janeiro, especializada no massacre diário e responsável por inúmeros crimes contra a população dos bairros pobres e favelas da cidade, tirou a vida de mais uma filha de nosso povo! Cláudia é mais uma vítima das políticas de repressão que são implantadas no Rio de Janeiro em nome do grande capital, assim como foi o Amarildo e as vítimas de violência nas favelas ditas ‘pacificadas’.”

A nota prossegue com a denúncia e exalta a revolta popular contra o genocídio promovido pelo velho Estado nas favelas: “Recentemente, em vários bairros do Rio, a população foi às ruas em combativos protestos contra o assassinato de jovens pela polícia. Lins de Vasconcelos, Engenho Novo, Praça Seca, etc., arderam em chamas! Isto só para citar alguns exemplos. Mais do que justo! E um claro sinal de que o povo não aceita mais (e não aceitará) toda sorte de abusos, humilhações, massacres, roubos, torturas e sequestros que os execráveis aparatos repressivos do Estado praticam nas favelas. Esta é a verdade: a polícia de Cabral e Beltrame é treinada para matar o povo!”

E finaliza: “Neste momento de dor, o MFP se solidariza com a família de Cláudia e dedicaremos todos os nossos esforços para denunciar este crime hediondo.”

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