A partir da meia noite do dia 17 de abril, um domingo, o Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope) da Polícia Militar (PM) iniciou uma operação no complexo da Maré que promoveu terror durante toda a madrugada. Os moradores se encontravam em massa em festas, nas igrejas e na rua. Vídeos mostram multidões correndo com a chegada do blindado e dos policiais armados com fuzis. Um morador foi assassinado e outro ferido.
A PM sequer informou o motivo da operação, entretanto os moradores denunciam que se trata de vingança após um policial ter sido baleado na perna na região, no dia anterior, na Avenida Brasil.
Em relato sobre a operação, uma moradora denuncia que à 1h30 da manhã estava trancada em uma clínica da família, onde se abrigava junto de crianças, quando policiais entraram no local ameaçando os moradores: “O policial colocou o fuzil na minha cara e disse que vai matar todas as crianças”, denunciou ela.
Outras imagens mostram os policiais atirando bombas de gás e sinalizadores contra a massa que se encontrava na rua em momento de lazer. Para atravessarem a rua sem serem alvejados, os moradores têm de gritar “é morador!” para as tropas de militares que andam com fuzis apontados para a multidão nas vielas. Vídeos mostram, também, pessoas baleadas no chão, automóveis largados no meio da rua para tentar fugir dos militares, e rastros de sangue.
A operação aconteceu durante toda a madrugada nas favelas Parque União, Nova Holanda e Rubens Vaz. Ainda na manhã do dia 17/04, ela não havia acabado. As comunidades amanheceram com um posto de saúde e mais de 23 escolas fechadas, impedindo 8.274 alunos de estudar.
Rotina de terrorismo contra favelas da Maré
No dia 14/04, há dois dias da operação terrorista ocorrida nesta segunda-feira, outra operação da Polícia Civil impôs o terrorismo do velho Estado contra as massas. Durante o dia, os policiais civis promoveram tiroteios e cercaram o complexo com caveirões e helicópteros. Um evento na Casa das Mulheres da Maré, no Parque União, onde se encontravam mais de 70 mulheres, foi interrompido com o tiroteio promovido pela polícia, fazendo com que as mulheres tivessem de se deitar no chão.
Diante da crise, velho Estado oprime as massas
Segundo levantamento da Redes da Maré, nove em dez mortes ocorridas durante operações policiais no Complexo da Maré em 2022 foram execuções sumárias. No mesmo ano, o número de assassinatos policiais nas operações cresceu 145% em comparação com 2021.
O agravamento cada vez maior da guerra civil reacionária contra as massas mais empobrecidas do país, em particular as faveladas, é diretamente proporcional ao agravamento da crise econômica e política. Com a piora da crise, é necessário manter as massas trabalhadoras sob um violentíssimo estado de choque permanente, cerco, controle social e intimidação para impedir que lutem pelos seus direitos pisoteados, suas reivindicações mais elementares e seu direito de livre manifestação e organização.
As operações, na verdade, tratam-se de expedições punitivas contra o povo pobre para que este não se rebele. As massas são reconhecidas como inimigas, as favelas como territórios a serem conquistados, as construções pertencentes e posses no “território” inimigo devem ser saqueados, e os civis do território a conquistar são todos potenciais combatentes inimigos. É essa a lógica praticada nas operações policiais na guerra reacionária já instalada.