RJ: Chacina no Complexo do Salgueiro deixa 11 mortos e duas idosas baleadas

Chacina no Complexo do Salgueiro assassina 11 e deixa 2 idosas baleadas em 23/03. Foto: Reprodução

RJ: Chacina no Complexo do Salgueiro deixa 11 mortos e duas idosas baleadas

Mais uma operação policial letal no estado do Rio de Janeiro ceifou a vida de 11 pessoas e deixou duas idosas baleadas, no dia 23 de março, no Complexo do Salgueiro em São Gonçalo. Na chacina, participaram cerca de 80 policiais do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope), da Polícia Militar (PM) e da Coordenadoria de Recursos Especiais (Core), da Polícia Civil, além de dois helicópteros e cinco blindados. A operação levou terror aos 60 mil moradores do complexo.

https://twitter.com/RjPontaaponta/status/1638947208610344961

Outras operações da PM ocorreram ao mesmo tempo no Complexo da Maré, na zona norte da capital, e na Comunidade da Tijuquinha, na zona oeste da cidade. Na Tijuquinha, duas pessoas foram baleadas e faleceram. As três operações, juntas, levaram o terror reacionário do velho Estado para pelo menos 200 mil pessoas no estado do Rio.

Salgueiro tem reedição de chacina

Imagens divulgadas na internet mostram crianças que estudavam nas escolas do Complexo do Salgueiro deitadas no chão para não serem atingidas pelos tiros. Os moradores, por sua vez, não puderam sair durante o dia todo para trabalhar. Vídeos mostram os tiroteios intensos, assim como helicópteros sobrevoando baixo e atirando a esmo.

As idosas baleadas, por sua vez, são Roseni Paulino Dias, 53 anos, e Sonia Maria da Silva, 62, encaminhadas para o Hospital Estadual Alberto Torres (Heat).

https://twitter.com/Camisasrj33/status/1638954527943716864

A atual chacina na comunidade lembra a cometida em novembro de 2021, onde nove corpos foram encontrados em um mangue no bairro Palmeira, após execuções de moradores por vingança da morte de um sargento da PM.

Diante de mais uma chacina nas favelas fluminenses, o governador reacionário do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PL), afirmou: “Confiamos nas nossas polícias. Parabéns ao Bope e à Core.”.

Terror na Maré

Ao mesmo tempo que ocorria a chacina em São Gonçalo, a PM promoveu outra operação no Complexo da Maré, na capital. A operação foi realizada nas comunidades do Parque União, Rubens Vaz e Nova Holanda. Os moradores relataram a presença de um blindado e de policiais circulando a pé. Cerca de 21 escolas municipais tiveram as aulas canceladas e 7.284 alunos foram afetados nesta manhã. A Clínica da Família Jeremias Moraes da Silva também não funcionou durante a manhã.

Um levantamento feito pelo coletivo Redes da Maré mostra que nove em dez mortes (89%) ocorridas durante operações policiais no Complexo da Maré em 2022 apresentaram indícios de execução extrajudicial. A 7ª edição do Boletim Direito à Segurança Pública na Maré, que traz esse e outros dados sobre violência no conjunto de favelas da zona norte do Rio, foi publicado no dia 13/03.

O estudo constatou ainda 259 ocorrências de violações de direitos cometidas por policiais no Complexo da Maré no ano passado, como invasão a domicílio, dano ao patrimônio, furtos, assédio sexual, ameaça, cárcere privado e tortura. Além disso, as operações recorrentes deixaram as crianças sem aula durante 15 dias no ano.

A Redes da Maré analisou 27 operações policiais ocorridas em 2022, das quais 19 eram da Polícia Militar, duas da Polícia Civil e seis eram ações conjuntas entre as duas forças. O número de operações foi o dobro que em 2021.

Maior causador da violência e de chacinas no RJ é a polícia

Chacina no Complexo do Salgueiro, em São Gonçalo (RJ), em novembro de 2021. Foto: Marcos Porto/Agência O Dia/Estadão

Cerca de 67% (2/3) de todos os eventos violentos ocorridos no Rio de Janeiro são causados pela polícia. A informação é do relatório da Rede de Observatórios da Segurança Pública divulgado no ano de 2022. Pelo terceiro ano consecutivo, o estudo analisou 16 indicadores de violência na Bahia, Ceará, Maranhão, Pernambuco, Piauí, Rio de Janeiro e São Paulo, entre agosto de 2021 e julho de 2022. O período resultou em 21.563 eventos violentos analisados nesses locais. No conjunto dos sete estados, os eventos ligados às polícias representam 55% do estudo, mas no RJ, eles chegam a 67%. O estado se destaca ainda por ser o estado em que a polícia mais mata.

Em 15 anos, o RJ teve quase 2.000 mortos em mais de 480 “chacinas policiais”. Desde 2007, as forças de repressão do Rio de Janeiro foram responsáveis por 482 operações com “alta letalidade” na região metropolitana, com um saldo de 1.962 mortos. Só nessas ações ocorreram 15% de todos os homicídios por intervenção policial no Grande Rio (região metropolitana) nos últimos 15 anos. Os dados constam em um levantamento feito pelo Geni (Grupo de Estudos de Novos Ilegalismos) em 2021.

Terror reacionário é incapaz de deixar massas imobilizadas

As operações policiais de “alta letalidade” são rotineiras nas favelas da capital e em seus arredores. O RJ é a cidade com maior número de moradores de favela do Brasil, sendo que 22% dos seus 6,7 milhões de habitantes vivem em favelas, segundo dados desatualizados de 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). 

Já São Gonçalo, onde ocorreu uma nova chacina pela polícia no Complexo do Salgueiro, abriga cerca de 1,1 milhão de habitantes, sendo que a renda per capita (anual) da população é de R$ 972,00. Niterói (município vizinho) possui uma renda per capita de R$ 3.483.

A atual guerra civil reacionária busca manter esse contingente de milhões de pobres subjugados, frente a total ausência de empregos dignos, direitos à moradia, educação e tantos outros que são negados às massas.

Apesar de toda opressão e exploração, o povo enfrenta corajosamente o terror do velho Estado, e na favela do Kelson’s, no Complexo da Penha, no Rio de Janeiro, moradores incendiaram uma base da PM após o assassinato de um estudante, em março deste ano. Já no Complexo da Maré, as massas da favela fizeram o caveirão e soldados da PM recuarem com paus e pedras durante uma operação no ano passado, após uma série de chacinas e execuções sumárias na favela. 

Ao longo das últimas duas décadas, o jornal A Nova Democracia tem se sustentado nos leitores operários, camponeses, estudantes e na intelectualidade progressista. Assim tem mantido inalterada sua linha editorial radicalmente antagônica à imprensa reacionária e vendida aos interesses das classes dominantes e do imperialismo.
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