Moradores da comunidade Cidade de Deus (zona oeste), no Rio de Janeiro, confiscaram galinhas tombadas de um caminhão, enfrentando a repressão policial para matar a fome. O caminhão carregado com os animais tombou no dia 7 de março na Estrada do Gabinal, próxima à comunidade. Um mês antes, na zona da mata em Minas Gerais (MG), mais de vinte pessoas foram presas por confiscarem laticínios de um caminhão. Neste caso, a Polícia Civil afirmou que confiscos são frequentes na Zona da Mata.
Vídeos do acontecido no Rio de Janeiro mostram as massas levando as caixas de galinha apesar de serem acossadas por policiais militares portando fuzis.
Um mês antes do acontecido no Rio de Janeiro, 24 pessoas foram presas na zona da mata mineira por confiscarem caixas de iogurte em um caminhão tombado na BR-116, cidade de Leopoldina. Foi realizada uma ação conjunta entre Polícia Militar (PM), Polícia Civil (PC) e Polícia Rodoviária Federal (PRF) para impedir que as massas confiscassem os alimentos. Além das prisões, seis veículos dos populares que confiscaram os laticínios na estrada também foram apreendidos.
O caminhão havia saído de Araras (SP), com destino ao Espírito Santo, carregado com 32 toneladas de iogurte e demais produtos de laticínio. De acordo com a PC, em entrevista ao monopólio de imprensa reacionário do G1, a ação foi “uma ação conjunta, rápida e que vai se tornar constante, pois é um ato que vem ocorrendo reiteradamente na cidade [de Leopoldina]”.
O confisco de alimentos por todo o país é consequência da fome agonizante a que está submetida o povo. No ano de 2022, o 2º Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil revelou que 33 milhões de brasileiros passam fome. O mesmo estudo apontou que apenas quatro em cada dez famílias brasileiras (40%) têm acesso pleno à alimentação. São 14 milhões a mais de pessoas com fome em comparação com o último inquérito, realizado em 2020, e um crescimento de 7,2% no número de pessoas em algum grau de insegurança alimentar.
Além disso, os pesquisadores da Rede Penssan destacaram no mesmo ano que o valor do antigo Auxílio Brasil de R$ 600 – que continua sendo o mesmo valor do Bolsa Família atualmente – não mudou o quadro da fome, porque a alta inflação dos alimentos, a piora no mercado de trabalho e a fila de pessoas que não conseguem entrar no Cadastro Único (e que, por isso, não recebem o auxílio) agravaram a crise.
Governo Lula/Alckmin cortará Bolsa Família de 1,5 milhões
Agrava o quadro de fome a previsão de corte pelo governo Lula/Alckmin de 1,5 milhões pessoas do Bolsa Família, além da “revisão” do programa Farmácia Popular. Essa medida é incondizente ao fato de o salário médio do brasileiro, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), ser de R$ 2.787, enquanto salário mínimo deveria ser de R$ 6,6 mil, segundo o departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), tendo em vista o custo de moradia, alimentação, transporte, educação e outras necessidades. É evidente que toda a demagogia do governo para justificar o corte de 1,5 milhões de pessoas esconde o fato de que ele afetará aqueles que necessitam da renda para sobreviver, por mais que não se encaixem nos requisitos do Bolsa Família.
