Protesto de servidores e funcionários terceirizados da prefeitura do Rio, no dia 18 de dezembro. Foto: Márcia Foletto.
Já faz quase 3 meses que há uma onda de protestos por parte dos servidores da saúde, por conta de salários atrasados, falta de remédios, leitos e o mínimo necessário para se ter boas condições não só de trabalho como de atendimento para os pacientes. Desde então a defasagem na saúde só aumenta, pessoas chegam às unidades de atendimento e não conseguem ser atendidas, muitas delas com quadros patológicos graves acabam vindo a óbito.
No dia 18/12, ocorreu o principal protesto dos servidores e funcionários terceirizados da prefeitura do Rio. O protesto aconteceu na parte da manhã em frente à prefeitura, e tinha como pauta a reivindicação do pagamento da segunda parcela do 13º salário e do pagamento atrasado das Organizações Sociais de saúde.
“Sou funcionário do Ronaldo Gazolla e há 3 meses estou sem salário. Está um caos total: maqueiro, limpeza, todos sem salários até agora. As contas chegam, cartão, coisas acabando em casa. Na minha casa já não há mais o que comer. A coisa é triste”, lamenta um trabalhador que não quis se identificar.
Uma outra servidora da área da educação que participou do protesto, Samantha Guedes, de 46 anos, afirmou: “Lá em casa sou eu e minha mãe que sofre de diabetes, labirintite, com uma ponte de safena e problemas de incontinência urinaria. Nós moramos em Madureira onde a única Unidade de Pronto Atendimento (UPA) perto está fechada, pois salários de funcionários não foram pagos. Aí vamos para a clínica da família e também está fechada. Então este dinheiro atrasado [refere-se ao calote da prefeitura aos servidores] não é para presente e sim para remédios, colocar contas em dia e pagar passagem. Esse é o cenário de apreensão sobre esse mês e como o ano que vem vai começar”.
Os servidores denunciam falta de salários há 3 meses e o número de funcionários sem pagamento alcança 22 mil pessoas até o dia 26/11.
Para os pacientes a situação também é parecida, de dificuldade para ter atendimento e para exercer seu direito. “Nós saímos da Ilha do Governador ontem (25/11), fomos para o Evandro Freire, onde meu pai foi atendido em meia hora e mandado para casa. Os médicos disseram ser gases, sendo que ele não evacua e nem consegue fazer xixi. Levamos ele ao Souza Aguiar hoje (26), e lá o médico nem encostou nele, mandou ele ir para a Coordenação de Emergência Regional. Nós viemos para cá e daqui nos mandaram para o Andaraí, porque não há medicamentos”, afirmou Graziele, filha do paciente.
No ano, a prefeitura gastou uma quantia superior à dívida que tinha, no entanto, de uma dívida de R$ 4 bilhões apenas R$ 3,8 bilhões foram pagos. O rombo no orçamento é de R$ 318 milhões.
Na manhã do dia 19/12 iniciou-se por parte da prefeitura o pagamento dos profissionais às pressas, já que só seria anunciado em diário oficial no dia 20, normalizando com isso alguns atendimentos na rede pública de saúde, porém muitos hospitais seguem sem atendimento.
“Precisamos não nos conformar com essa calamidade e entender que não fizeram liberação por preocupação com o povo, e sim pois vem chegando fim de ano e a maquiagem feita para receber os visitantes precisa estar perfeita. O povo precisa se conscientizar que só indo às ruas com seus protestos vamos fazer a máquina chamada governo funcionar a nosso favor. A saúde doente, hospitais sem leitos, pacientes morrendo nas filas, tratamentos de câncer paralisados por um prefeito que decidiu brincar de liderar”, protestou uma usuária da rede pública de saúde, em busca de atendimento para seu filho, à reportagem de AND.
As diversas faces de um mesmo prefeito
Uma das promessas feitas pelo prefeito foi criar clinicas com especialistas, cerca de 20 delas espalhadas pela cidade. No entanto, passados quase 4 anos à frente da prefeitura, a cidade passa pela maior crise na saúde dos últimos tempos.
Em uma de suas entrevistas durante campanha, Crivella disse: “As pessoas que hoje tem problemas específicos demoram muito para ter um encontro com especialistas, demoram muito para fazer um exame e, depois de diagnosticadas, demoram e muito para operar. A clínica de especialistas, umas 20 delas pela cidade vai resolver muito essa demanda que hoje existe na população”, disse.
No primeiro dia de mandato, contrariando as expectativas de seus eleitores, Crivella desistiu de aumentar essa rede e ainda decidiu devolver ao governo do estado os dois hospitais que haviam sido municipalizados pela gestão anterior: Albert Schweitzer e Rocha Faria.
Crivella fechou acordo com Witzel no dia 11/12 após criarem gabinete de crise para supostamente acompanhar a vergonha que se transformou a saúde no estado. Esse acordo foi fechado para beneficiar os hospitais citados. Crivella alega ter herdado de seu antecessor, Eduardo Paes, uma dívida de R$ 4 bilhões. Ele alega que por esse motivo estava impedido de sanar a saúde e de resolver os problemas da cidade. Mas, em julho de 2018, desmentindo sua versão, o Tribunal de Contas do Município (TCM) concluiu que o bispo licenciado da igreja Universal assumiu a prefeitura no azul.
Mesmo com essa afirmação do TCM, a justificativa ainda continua sendo mantida. No dia 27 de novembro, a secretária de Crivella, Beatriz Busch, culpou o governo de Eduardo Paes, pois uma mentira contada mais de duas vezes acaba aos olhos deles se tornando verdade.
“Desde o início do governo, em 2017, havia um déficit na saúde de R$ 1 bilhão, herdado no governo anterior, R$ 266 milhões em empenhos cancelados, 46 clinicas inauguradas naquele ano das eleições em 2016, 288 equipes contratadas no último trimestre, fora as equipes de saúde” bucal”, afirmou cinicamente a secretária.
Servidores protestam em frente a prefeitura do Rio. Foto: Domingos Peixoto