Durante todo o dia 27 de outubro, até a madrugada do dia seguinte, a Polícia Rodoviária Federal (PRF) promoveu operações de terror contra os moradores da Vila Kennedy e Complexo do Chapadão. No Chapadão, um adolescente de 14 anos foi assassinado com um tiro na cabeça enquanto trabalhava entregando hambúrgueres para complementar a renda da casa. As operações terroristas ocorreram após um policial da PRF à paisana e fora de serviço ter morrido durante uma tentativa de assalto ao seu carro, em Magalhães Bastos, e cujos autores do assalto os policiais afirmam ser da Vila Kennedy, cerca de quatro bairros de diferença do local onde ocorreu a morte do policial.
A operação foi comandada pela PRF com a ajuda da Polícia Militar (PM). A PRF, segundo a constituição, desempenha o papel de “agente da autoridade de trânsito”. Entretanto, uma portaria editada pelo ex-ministro da Justiça, o ultrarreacionário Sergio Moro, em 2019, autorizou a PRF a integrar operações conjuntas com outras forças de segurança e a cumprir mandados de busca e apreensão.
Jovem Lorenzo, que trabalhava como entregador de hambúrguer no momento em que foi assassinado pela PRF no Complexo do Chapadão. Foto: Reprodução
Terrorismo de Estado
Helicóptero da PRF sobrevoa Vila Kennedy levando terror aos moradores. Foto: Reprodução/ TV Globo
A morte do policial rodoviário federal durante uma tentativa de assalto ocorreu no início da tarde do dia 27/10. No final da tarde, já estava em curso uma mega-operação policial com helicópteros, caveirões e viaturas na favela Vila Kennedy, migrando depois para o Complexo do Chapadão, que perdurou toda a madrugada do dia 23/10.
A operações ocorreram devido à “suspeita” de que os assaltantes seriam da Vila Kennedy. Entretanto, moradores denunciaram nas redes sociais que além de aterrorizar os moradores das favelas, pelo simples fato de ali residir, a operação serviria também para abrir espaço para que a “milícia” (grupos paramilitares compostos majoritariamente por agentes de repressão do velho Estado ou com ligação com órgãos oficiais do velho Estado) tomasse o controle dessas comunidades.
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Durante a expedição punitiva no Chapadão, um jovem de 14 anos morreu assassinado com um tiro na cabeça disparado por policiais. Naquele exato momento, ele trabalhava como entregador de hambúrgueres na comunidade para complementar a renda da família, que contava apenas com sua mãe. Ele morreu segurando uma nota de R$ 10, que havia recebido pela entrega.
Revoltados diante da execução sumária do adolescente, os moradores do Complexo do Chapadão realizaram um protesto com bloqueio de via com pneus em chamas nas saídas da comunidade às 3h da manhã do dia 28/10, e novamente durante a metade da manhã.
Os moradores também denunciaram que os policiais invadiram casas durante a madrugada e promoveram terror generalizado. Sobrevoavam dois helicópteros da Polícia Civil (PC) e um da PRF sobre a comunidade.
“Já mataram uma criança de 12 anos que entregava hambúrguer. Muito triste essa situação, parece que estão com sede de morte, vão deixar corpos aqui como se não fosse nada” afirmou uma moradora ao monopólio de imprensa reacionário G1. “Acabei de ser acordada pela Bope e Polícia Federal querendo entrar na minha casa, estão entrando nas casas dos moradores, eles não querem saber de nada” denuncia outra moradora do Complexo.
PRF: atuação na guerra civil reacionária contra o povo
Chapadão pede paz, pela covardia quer o estado faz com a nossa favela, mataram uma criança de 12 anos eai @tinojunior vai fala quer a criança e bandido também o mlk tava trabalhando.?️?️???️?️ pic.twitter.com/dXCamR603m
— Tiriça chp.??Ⓜ️?⚒️ (@bxdcv157155) October 28, 2022
A Polícia Rodoviária Federal tem, cada vez mais, exercido tarefas estratégicas na guerra civil reacionária contra o povo, estando lado a lado com o Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope), da Polícia Militar (PM) do estado do Rio de Janeiro e a Coordenadoria de Recursos Especiais (Core), da Polícia Civil (PC) do estado do Rio de Janeiro, em operações policiais que resultaram em chacinas no estado do Rio de Janeiro. No RJ, em especial, a PRF foi responsável por promover o Massacre da Penha, que chacinou mais de 30 moradores em 24 de maio deste ano.
De acordo com a própria constituição brasileira, a função da PRF é patrulhar as rodovias da União e não promover policiamento em favelas, tarefa que tem sido cada vez mais assumida. Segundo o monopólio de imprensa Folha de SP, no período de 2018 a 2021, caíram quase pela metade as autuações de infrações de velocidade (de 4,8 milhões para 2,6 milhões). Enquanto isso, os policiais rodoviários federais promovem crimes contra o povo por todo o Brasil, como o assassinato de Genivaldo de Jesus Santos, em Umbaúba (SE), um pai de família que é esquizofrênico e que foi asfixiado até a morte dentro de uma viatura da PRF, com uma granada de gás lacrimogêneo. Além desse caso, houve a chacina em Varginha (MG), em que a PRF assassinou todas as 26 pessoas que planejavam um assalto a banco, sem promover uma prisão sequer. Inclusive o caseiro foi assassinado, que tinha problemas mentais e nada tinha a ver com o planejamento.
Reacionarização do velho Estado e o levantamento das massas
Moradores se reúnem em torno do corpo de Lorenzo, assassinado durante operação da PRF. Foto: Reprodução
O Editorial de AND do mês de maio, Guerra de apenas um exército, aborda as operações policiais terroristas e as chacinas promovidas nas favelas: “Na história do nosso país os massacres e genocídios de pobres, assim como a resistência destes, são uma constante. Falar da história do país é falar de rios e mais rios de sangue derramado dos pobres nas diferentes circunstâncias de cada época, em cujos episódios macabros esteve e segue presente as forças militares do velho Estado, em especial as suas Forças Armadas, como protagonistas dos mais abjetos e infames crimes de lesa-humanidade, que um dia serão devidamente passados a limpo, julgados e, ainda que tardia, justiça será feita.”.
Acrescenta, ainda: “Essa guerra suja, genocida, sanguinolenta contra os pobres é uma guerra onde só opera um exército: o exército de bandoleiros da reação, as Forças Armadas do velho Estado, suas forças policiais auxiliares, com seus apêndices de ‘milicianos’, esquadrões da morte e grupos de extermínios”. Destacando que: “Não há que clamar por ‘paz nas favelas’, pois essa palavra de ordem é impossível, é ilusão por não ter entendido ainda que os clamores do povo não surtem efeito algum. Tal palavra de ordem significa, na prática: ‘continuem a guerra aos pobres que nós nada faremos a não ser lamentar!”.
Concluindo, o Editorial aponta o seguinte: “A guerra contra as massas das favelas é resultado da sociedade de classes, de suas fundações mesmas, e só desaparecerá com o fim desse velho Estado latifundiário-burocrático e o surgimento de um Estado de democracia nova, nascido das cinzas do seu antecessor. Assim, a situação objetiva está empurrando crescentemente as massas à conclusão de que é necessário se armar como única forma de se defender dessa matança desenfreada.”.