RJ: Estado espalha o terror na Favela do Jacarezinho

RJ: Estado espalha o terror na Favela do Jacarezinho

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Patrick Granja

Na sexta-feira, dia 12 de janeiro, o delegado de polícia Fábio Monteiro, da Central de Garantias Norte, foi encontrado morto e com marcas de tiros dentro do porta-malas de um carro a mais de 500 metros da favela do Jacarezinho, ao lado do viaduto de Benfica, na zona norte do Rio. Apesar da distância entre o local e a favela, o crime foi a senha para que 250 policiais de todas as 31 delegacias especializadas do Rio de Janeiro invadissem o Jacarezinho despejando todo seu ódio contra o povo e sua sanha de vingança contra os mais de 100 mil trabalhadores que vivem no local.

No fim da tarde, cerca de 40 pessoas foram levadas presas em fila indiana sob a mira dos fuzis de policiais até a cidade da polícia, que fica a 100 metros do Jacarezinho. Contra elas não havia nenhuma acusação e, segundo a assessoria de imprensa da secretaria de segurança pública, todos foram detidos para averiguação. No entanto, até a manhã do dia seguinte, somente duas pessoas haviam sido liberadas. O resto dos presos só foram liberados na tarde de sábado (13). Um deles, que preferiu não se identificar, nos enviou uma mensagem pelo Whatsapp.

Já eram 15h e a comunidade estava em paz, então eu resolvi ir trabalhar, foi quando eu cheguei na Praça da Concórdia e começou a correria. Como eu não tinha nada a ver com aquela situação, entrei em uma loja e fiquei aguardando a chuva de balas passar. Quando vi que estava tudo tranquilo, saí caminhando. Foi quando eu escutei lá do fundo: “Entra porra! Cambada de vagabundos! Levanta a blusa!”. Eu disse a ele [o policial] que não precisava ser agressivo pois eu era trabalhador e mostrei o cartão da empresa onde trabalho. Foi quando ele me deu um chute na perna e jogou o meu cartão no chão — denuncia o homem, que trabalha montando móveis e disse nunca ter passado por tamanha humilhação. Ele continua:

Eu encostei na parede e mandaram eu entrar para uma fila, onde tinha gente com uniforme da Casas Bahia, metalúrgicas, pessoal com roupa de uma loja de açaí. Disseram que eu era suspeito, mas suspeito de quê? Suspeito de ter colocado um parafuso a menos no guarda-roupas? Suspeito de ter demorado 30 minutos a mais na montagem de um painel? E os rapazes do açaí? Será que colocaram granola ao invés de amendoim? Eu fui andando na fila e eles gritavam “olha para baixo porra!”. O homem que estava na minha frente levou um tapa na cara. E assim íamos, alguns homens debaixo de porrada, e algumas mulheres debaixo de xingamentos baixíssimos. Será que minha escolha de ser trabalhador foi errada? — pergunta a vítima.

No domingo, em uma nova operação da polícia civil, do céu, o helicóptero águia disparava a esmo contra as pessoas que circulavam pela favela. Os tiros deixaram perfuradas a Clínica da Família Anthidio Dias da Silveira e até mesmo uma das bases da Unidade de Polícia Pacificadora, na localidade conhecida como Azul. Pelas redes sociais, uma médica que trabalha na clínica da família compartilhou sua revolta com a ação criminosa da polícia.

Quando a polícia não respeita ninguém, o resultado é esse: uma clínica da família com estilhaços de bala e buracos de tiros que vem do alto, que não olha e não se importa com quem mora, trabalha e vive na comunidade. O morador do Jacarezinho, e de qualquer outra favela do Rio de Janeiro, não é respeitado nessa cidade. São mais de 30 mil pessoas que ontem (15) ficaram completamente expostas ao risco de tomar um tiro do alto do helicóptero e aí eu pergunto: Para quê? Qual o real objetivo de fazer uma operação assim? Que expõe os moradores e trabalhadores e não resolve em nada a grande guerra da qual não temos culpa? — pergunta a médica.

No domingo, o presidente da associação de moradores da Favela do Jacerzinho, Leonardo Pimentel, também nos enviou um relato pelo Whatsapp em meio aos tiros disparados pelo helicóptero da polícia civil.

— Não sei se todos conseguiram se abrigar. Foi tudo muito rápido. Estou em uma casa onde uma moradora me permitiu entrar. Aqui há crianças de colo. Estou super nervoso, mas estou bem. Nós estávamos em um grupo de 30 pessoas da Associação dos Moradores e funcionários da administração Regional da Prefeitura e da Light e, do nada, ficamos no meio do fogo cruzado — disse Leonardo.

Segundo o presidente da associação de moradores, por conta da ação da polícia civil, os reparos que a Light teria que fazer na rede elétrica, causados por disparos de outros tiroteios, não foram realizados e, consequentemente, o Jacarezinho continua sem luz na maioria de suas localidades.

 

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