RJ: Estudantes da Uerj protestam em defesa do bandejão e auxílio estudantil

RJ: Estudantes da Uerj protestam em defesa do bandejão e auxílio estudantil

Mobilização na Uerj: estudantes lutam por direito à alimentação. Foto: Banco de Dados AND

Ao longo de todo o final do mês de junho e o início do mês de julho, estudantes do Movimento Estudantil Popular Revolucionário (MEPR), da Revista Veias Abertas e de coletivos independentes protestaram em defesa do auxílio alimentação e do preço do bandejão a R$ 2 e R$ 3 Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj). Hoje, aqueles alunos que recebem um auxílio-alimentação no valor de R$300 são impedidos de pagar o valor normal no bandejão, tendo que pagar R$14,25 por cada refeição. Um ato ocorreu no dia 30 de junho e outro está marcado para ocorrer no dia 25 de julho.

A justificativa da reitoria, dada através da Pró-Reitoria 4, responsável por Políticas e Assistência Estudantil, é que o estado do Rio de Janeiro, de acordo com suas “leis”, não poderia subsidiar o valor para o bandejão já tendo arcado com a manutenção do auxílio alimentação mesmo após o início das aulas presenciais. A alegação é denunciada pelos estudantes como uma arbitrariedade que fere o direito dos estudantes e também como uma medida anti-democrática que não respeita os interesses do corpo discente. Na prática, a reitoria nega dentro da universidade os mesmos direitos que os governos federal e estadual (dos reacionários Jair Bolsonaro e Cláudio Castro) negam a todo o povo.

Faixa defendendo o auxílio e o bandejão por R$ 2 e R$ 3. Foto: Banco de Dados AND

Início das mobilizações

Em fins de junho, no dia 27, os estudantes foram surpreendidos pela obrigatoriedade de mostrar o CPF, documento com foto e matrícula para pagar a entrada no Restaurante Universitário. O processo antes era simples, o aluno apresentava uma matrícula, pagava via pix e ia comer. Os alunos como um todo mas especialmente os cotistas, estavam conseguindo utilizar a matrícula de outros colegas que não recebiam auxílio para pagar o valor de R$ 2 e R$ 3.  Era uma forma de garantir, na prática, o direito à alimentação.

Desde que a reitoria instituiu a obrigatoriedade de comprovação com documento com foto, muitos estudantes foram prejudicados. Afinal, a conta não fecha: se o aluno faz duas refeições por dia gasta R$ 570 no fim do mês, enquanto o auxílio é de somente R$ 300. Esta é a realidade da maior parte dos cursos integrais, fora a maioria dos estudantes que estagia entre aulas e utiliza a estrutura da universidade para almoçar e jantar. Em uma realidade de aumento da miséria e da fome por todo o país, e com a particularidade de o Rio de Janeiro ter uma das cestas básicas mais caras (R$ 733,14 com um aumento de 18,39% em 12 meses), a reivindicação logo ecoou entre os estudantes da Uerj.

Estudantes discutem rumos da luta por direitos. Foto: Banco de Dados AND

Segurança da Uerj tenta impedir a mobilização do ato e constrange estudantes

No processo de mobilização, os estudantes fizeram faixas, cartazes e distribuíram panfletos que propagandeavam a história da luta pelo bandejão a R$ 2 e R$ 3. Nesta ocasião também foram feitos convites aos estudantes para participar do ato em defesa da permanência do auxílio. Aflitos com a recepção cada vez maior das massas estudantis, os seguranças começaram a abordar os estudantes no campus inteiro e proibir a distribuição de panfletos. Uma das seguranças puxou o cartaz da mão de uma estudante que estava entrando no prédio que dizia “Se tirar o auxílio alimentação, vai ter ocupação!” antes do ato acontecer. A estudante puxou de volta e não se intimidou com a atitude.

Em outra tentativa de intimidação do movimento estudantil na Uerj, um segurança perseguiu um estudante que panfletava e chegou a ameaçá-lo, afirmando, erroneamente, que o ativista estaria cometendo um crime de “calúnia contra funcionário público”. A intimidação foi gravada por integrantes da Revista Veias Abertas e divulgada em sua página do Instagram:

Ato denuncia postura antidemocrática da reitoria 

Os estudantes conduziram sua manifestação durante os andares da universidade realizando agitação com cartazes, faixas e palavras de ordem. Durante as falas, foi denunciado a atuação do novo reitor. Para negar o direito dos estudantes, a reitoria afirma que acumular o benefício da bolsa alimentação junto com a manutenção do valor de R$ 2 e R$ 3 seria um “privilégio”. Os estudantes demonstraram a farsa deste argumento denunciando que uma pró-reitora recebeu em fevereiro R$ 31,840.79 mais R$ 62,562.79 de “remuneração eventual”, totalizando (com os descontos) R$ 82 mil. Este é o verdadeiro privilégio de poucos.

O ex-reitor Ricardo Lodi estava nas dependências da universidade durante a manifestação em um evento eleitoral que tratava sobre a “assistência estudantil”. Foi lá que os estudantes foram cobrar ao final do ato. Subindo em passeata os estudantes estavam gritando Pelo auxílio e o bandejão, de nenhum direito nós vamos abrir mão!.

a Reitoria e sua falsa “pequena revolução”

Em campanha eleitoral desde o final de março, o ex-reitor advogado Ricardo Lodi vem afirmando que sua administração é uma “pequena revolução”. Sua administração contou com auxílios implementados durante a pandemia e a compra de alguns prédios para a Uerj. Prepotente e oportunista, Lodi esconde a sua posição autoritária diante da comunidade universitária, que possui reivindicações históricas não atendidas tanto por esta reitoria, como pelas anteriores. A Associação dos Docentes da Uerj (Asduerj) posicionou-se contra a condução de uma reunião online do Conselho Superior da universidade que teve como pauta a mudança na estrutura organizativa com a criação da “Procuradoria Geral da Uerj”. Nela, os advogados da instituição teriam direitos e salários de advogados do estado. Já os estudantes denunciam que todos os auxílios implementados (alimentação, transporte, creche) têm data de validade, e que não se tornaram direitos de fato: não viraram lei e dependem do orçamento da Uerj e a forma que a reitoria vai encaminhar a distribuição dele. Neste ano, o orçamento foi de R$ 1,4 bilhão.

Gabando-se das compras de prédios para a Uerj, Lodi, enquanto foi reitor, não tirou do papel nenhuma pauta histórica da comunidade universitária como a creche universitária, a criação de bandejão nos outros campi da Uerj (de São Gonçalo e Caxias), a construção do alojamento para moradia estudantil. Assim como ignorou outras antigas reivindicações como a estatização do bandejão e a passagem de todos os funcionários terceirizados da universidade à condição de profissionais concursados sem a necessidade da realização de qualquer concurso, uma vez que estes profissionais já empenham estas funções de maneira efetiva ainda que de forma precarizada através de empresas terceirizadas. As ações da reitoria da Uerj ao longo dos últimos dois anos são de caráter populistas e não mudam em nada a estrutura da universidade, uma vez que não garante a permanência dos estudantes depois de dezembro de 2022 – esta é a denúncia dos estudantes.

O bandejão a R$ 2 e R$ 3 é um direito conquistado!

Em 2011, o Restaurante Universitário inaugurou depois de uma série de manifestações exigindo esse direito da permanência estudantil, a construção do bandejão foi em um prédio onde seria uma garagem, sendo inicialmente ao valor de R$ 3 e R$ 4 e a Uerj rapidamente terceirizou o serviço. Desde o início, não havia capacidade em atender todos os alunos dos 4 prédios na área do Maracanã. Na abertura do bandejão, em 2011, os estudantes protestaram contra o valor abusivo e foram agredidos pela segurança. O bandejão da Uerj era e continua sendo um dos mais caros do Rio.

Em 2017, o bandejão estava fechado a 1 ano em meio a ataques que a Uerj estava passando, com cortes de verbas o que impedia a renovação do contrato com a empresa. Em outubro, os estudantes ocupam e reabrem o bandejão pelas próprias mãos, passando a, durante 30 dias, organizar a limpeza, comida, arrecadação e manutenção do espaço. Aplicando o co-governo estudantil, a ocupação conseguiu que o bandejão continuasse aberto até a pandemia e seu batismo em homenagem ao estudante de História Bruno Alves, que faleceu após um acidente no trem. Bruno estava sem receber a bolsa e pulou o muro do trem para poder voltar até sua casa.

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