Familiares, amigos e vizinhos de Marlon Anderson Cândido, trabalhador baleado pela Polícia Militar (PM) e preso arbitrariamente durante uma operação na favela de Manguinhos, realizaram uma grande manifestação no dia 4 de janeiro e bloquearam a Avenida Leopoldo Bulhões exigindo a sua liberdade. Marlon, de 23 anos, foi alvejado a caminho de seu trabalho como entregador de água, e se encontra preso sob custódia no Hospital Municipal Getúlio Vargas. Uma testemunha do momento em que Marlon foi baleado afirma que o disparo veio de dentro do caveirão e que a polícia a ameaçou com um tiro nas costas caso socorresse o jovem.
A primeira manifestação exigindo a liberdade do trabalhador teve início ao meio dia e reuniu moradores de Manguinhos e familiares do jovem na Avenida Leopoldo Bulhões. Os manifestantes bloquearam a via por cerca de duas horas. Cartazes levantados pelos moradores exibiam frases como “Marlon é trabalhador, e não bandido!” e “Covardia do Estado!”, foi erguido também o seu uniforme na distribuidora de água. A família do trabalhador denunciou, ainda, através de vídeos divulgados, a presença ostensiva de viaturas da PM e de um blindado na manifestação, que visavam intimidar e dispersar o protesto, tentativa fracassada diante da revolta das massas. “Precisamos resolver essa situação! Marlon é inocente, estamos aqui porque ele é inocente!”, afirma a prima do jovem em um dos vídeos.
Já o segundo ato ocorreu em frente a Secretaria de Administração Penitenciária, ainda na tarde da quarta-feira. Os manifestantes, juntos, exigiam: “Solta o nosso entregador!”.
A PM alega que Marlon está custodiado por “ser envolvido com o crime organizado”. Entretanto, a família rechaça a mentira: “Temos fotos dele trabalhando, agradecendo gorjeta de R$ 10. Ele trabalha no sol, na chuva, temos provas. Tentamos mostrar isso aos policiais e mesmo assim nada. A gente só quer provar a inocência dele, só isso. Agora recebemos a notícia que ele está no CTI”, disse a irmã do rapaz, Thayanne Cândido da Silva, ao monopólio de imprensa G1.
Thayanne narra o acontecido: “Ele saiu de casa para trabalhar e aí começou um tiroteio e um caveirão passou. Ele então correu por causa dos tiros, isso era umas 14h. Ele entra no trabalho de 15h às 23h, em um depósito de água”.
A prima do jovem, Amanda, também expressou sua revolta contra a tentativa de assassinato, seguida de prisão arbitrária: “Meu primo estava saindo de casa para trabalhar e eles estão jogando tudo isso [flagrante] nas costas do meu primo. É preto, favelado! Agora estão acusando que ele estava com pistola, com isso e aquilo. Se ele estava, por que não fazem prova de balística? Se ele deu tiro vai acusar”.
“Mais um pobre na favela, cabelo pintado, preto, eles entram na favela dando tiro em qualquer um que passa. Eles não querem saber se é trabalhador, se é criança, eles chegam dando tiro”, denunciou um morador sem se identificar ao monopólio G1.
Na internet, outros moradores da comunidade também rechaçaram o crime contra o povo: “Garoto atravessando pra ir pro trabalho, além de ser baleado, saiu do centro cirúrgico agora e a família recebe a notícia que ele está preso. Como assim, todos aqui sabem da índole dele. Trabalhador tranquilão”, relatou uma amiga.
PM AMEAÇOU TESTEMUNHA COM TIRO NAS COSTAS E IMPEDIU SOCORRO
Uma testemunha que mora na comunidade e conhece o Marlon desde a infância, presenciou o momento em que ele foi baleado. “Eu estava na padaria tomando café. Ele estava passando no beco quando foi atingido. Veio os tiros e fui olhar e comecei a gritar: ‘ai meu Deus, o Marlon, meu vizinho, meu vizinho'”, relata a testemunha ao monopólio de imprensa G1.
“O Marlon estava saindo para trabalhar, os policiais pegaram e deram tiro nele. O tiro veio de dentro do caveirão. Eu tava lá, eu assisti tudo, foi desesperador. Ele não tava com arma, não tava com nada. Eles passaram na hora e atiraram nele. Ele não é bandido!”, afirma.
A testemunha demarca que os policiais ainda tentaram impedir o socorro da vítima: “Eles nem prestaram socorro, nem desceram do caveirão. Ainda falaram que se eu ajudasse ele, eles iam me dar tiro pelas costas. Eles falaram que iam atirar nas minhas costas! Eu não podia abaixar, não podia fazer nada senão eles iam atirar em mim”, conta.
“Ele é trabalhador, tá preso injustamente. É menino de família. Eles ficaram gritando ‘é bandido, é bandido’. A gente gritou que era morador, eles viram que balearam trabalhador e foram embora”, completa.
Imagem de destaque: Marlon Anderson Cândido, trabalhador baleado e preso arbitrariamente pela PM durante uma operação em Manguinhos. Foto: Reprodução