Manifestantes se concentraram na Central do Brasil em ato por justiça para Werton e em denúncia à precarização do sistema penitenciário. Foto: Bruna Freire
Na manhã desta quinta-feira, dia 13 de julho de 2017, familiares de presos se concentraram na Central do Brasil para uma manifestação que denunciava a morte de Werton do Nascimento Souza, na Cadeia Pública Cotrim Neto, em Japeri, na madrugada de sábado (08/07) para domingo (09/07).
O grupo era composto quase que integralmente por mulheres e o evento foi intitulado por elas nas redes sociais como “Guerreiras do Rio por um sistema melhor” (elas mantêm uma página no facebook chamada “Guerreiras do Rio de Janeiro – Presídios do RJ – Bangu, Japeri e outros”, onde costumam trocar informações básicas e prestar solidariedade umas às outras). A manifestação saiu da Central do Brasil e foi até a Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), onde estava marcada uma reunião com membros da Comissão de Direitos Humanos e uma representante do Mecanismo Nacional de Prevenção e Combate à Tortura (MNPCT).
As mulheres presentes reivindicavam, entre outras demandas, melhorias no sistema público de saúde e no saneamento básico das próprias instalações onde ficam as celas. Devido à superlotação, o risco de transmissão de doenças contagiosas é altíssimo dentro dos presídios, quadro que é agravado pela precariedade do atendimento médico dispensado aos presos. Denúncias relacionadas à constante presença de comidas estragadas, água contaminada e falta de remédios nas unidades foram constatadas.
A mãe de Werton, Sabrina do Nascimento Menezes, estava presente e denunciou as absurdas condições a que era submetido seu filho antes de morrer:
— Meu filho, há um mês vinha me dizendo sobre o quadro dele lá dentro. Com a saúde debilitada, enjoo, falta de ânimo, sem forças pra levantar, pedindo pra mim procurar a VEP (Vara de Execuções Penais) que era onde conseguiria ajuda pra uma consulta médica pro meu filho. E assim eu fiz, eu marquei, fui agendada. No agendamento eu consegui pedir a transferência dele porque ele já estava na semi-aberta. Foi pedido só que [eu aguardasse, porque] o sistema do Rio de Janeiro é lento, como sempre, e o meu filho não é um engravatado como muitos que têm socorro imediato. [Esses engravatados] Vão até de helicóptero, se for preciso, pra poder ter uma consulta. O meu filho há mais de 20 dias estava debilitado, sendo cuidado por amigos detentos, ao ponto de receber alimento via oral por amigos. Banho foi os amigos que deram, fizeram soro com água pobre, que a água é contaminada naquele lugar.
Mãe de Werton, Sabrina, denuncia morte de seu filho. Foto: Bruna Freire
A grave denúncia de Sabrina, como de tantas outras mães e familiares de detentos do sistema penitenciário, evidencia o caráter de classe dos órgãos e agentes desse Estado. Situação esta que se expressa na diferença do tratamento que é dispensado ao povo pobre, – que é a imensa massa carcerária – sem as mínimas condições de dignidade e vida, e o tratamento que é dado aos membros das classes dominantes e os seus políticos envolvidos em vários processos (como Sérgio Cabral e outros que foram presos em operações recentes).
Durante todo o período de concentração do ato, a PM e a Guarda Municipal agiram em clara ação intimidatória contra os familiares, fotografando e vigiando a confecção de cartazes. Mas, toda essa repressão contra o povo, principalmente quando este se engaja na luta por seus direitos, só mostra o medo que os “governantes” têm da força das massas populares unidas.
Ato exige justiça para Werton Souza em frente à Alerj. Foto: Bruna Freire