Na favela do Jacarezinho, moradores se mobilizaram no dia 16 de maio e protestaram na Avenida Dom Hélder Câmara contra uma operação da Polícia Militar (PM) e seu batalhão de Choque que durou mais de três dias. A comunidade, uma das mais populosas do Rio de Janeiro, já é alvo de duas ocupações militares (UPP e Cidade Integrada) e ainda sofre operações sucessivas. Os militares reacionários foram denunciados pelos manifestantes por cometerem todos os tipos de crimes contra o povo.
Na manifestação, estavam presentes as mulheres da favela, o que não impediu os PM’s de promoverem agressões contra elas. Além de empurrões e coronhadas, um policial quebrou o celular de uma das moradoras que protestava, como mostra um vídeo do momento. Os vídeos revelam, ainda, os policiais empurrando as mulheres, gritando “Vai embora!” e dando tiros pra cima.
Em um dos cartazes levantados pelas mulheres lia-se: “Até quando o dia das mães será sombrio, com mortes e esculachos? Geramos vidas e o Estado vem matando!”, outros exigiam “Queremos nosso direito de ir e vir!”, e questionavam “Que projeto é esse que só veio para tirar vidas?”, sobre o programa do governador assassino e terrorista Cláudio Castro (PL), Cidade Integrada. Outro cartaz, denunciando o monopólio de imprensa, questionou: “Mosquitinho fofoqueiro [helicóptero de reportagem], cadê você nessa hora?”.
Durante o protesto, uma moradora relatou ao jornal Enfoco que estava há quatro anos desempregada, e que recentemente havia conseguido um emprego de carteira assinada, mas que por causa da operação acabou perdendo o emprego. “Nós, mães solteiras, vivemos o drama de ter que deixar os nossos filhos sozinhos em casa. Tem uma semana que eu consegui o emprego de carteira assinada e hoje fui comunicada que perdi o emprego porque não fui ontem [15/05, segunda]. O horário que eu ia para o trabalho foi o mesmo em que os policiais chegaram atirando. Agora a gente volta a viver a rotina de ficar dependente de bolsa família. Não é porque somos moradores de favela que temos que aceitar isso, queremos ter dignidade”, afirma.
Maura Martins, comerciante na localidade conhecida como Campo da Abóbora, denunciou ao Enfoco: “Nós temos família, eu tenho um filho especial, tenho um neto, os policiais estão jogando spray de pimenta nos becos e dentro das casas”.
Ao AND, uma moradora e mãe vítima da violência do Estado, que teve a vida de seu filho ceifada na Chacina do Jacarezinho, no ano de 2021, declarou em condição de anonimato:
– Infelizmente pro Estado e pro seu braço armado, mesmo você estando trabalhando, se levantar a mão [reagir], você é espancado. Você pode levar um tiro e depois vão dizer que foi bala perdida ou confronto.
Sobre a operação terrorista ocorrida no domingo, ela denuncia:
– Dias das mães. Aqui as mães aqui não tiveram direito a esse dia, mais uma vez foi debaixo de bala o domingo delas. O meu não, porque o Estado já me tirou esse direito.
– É necessário fazer protesto, porque a situação de quem mora aqui dentro é muito difícil, você é desrespeitado no seu direito de ir e vir. – conclui a moradora.
Manifestação ocorre após operação no dia das mães
Durante todo o final de semana do dia das mães, 14 de maio, a Polícia Militar (PM) e o seu Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope) realizaram uma operação na favela do Jacarezinho, assassinando pelo menos duas pessoas. Os moradores denunciam que a operação se trata de terrorismo contra os familiares e moradores afetados pela Chacina do Jacarezinho, ocorrida em 06/05 do ano de 2021, que também aconteceu na véspera do dia das mães e ceifou a vida de 28 jovens da comunidade.
Após a Chacina do jacarezinho, promovida pelas polícias Civil e Militar, uma das mais letais de toda a história do Rio de Janeiro e que assassinou 28 jovens, o governo do reacionário Cláudio Castro aplicou o programa “Cidade Integrada” na favela, que é uma das mais pobres e numerosas da capital. Prometendo que o programa seria para trazer melhorias de infraestrutura e benefícios sociais para diversas comunidades no Rio, ele, na realidade, foi aplicado apenas no Jacarezinho, onde foram colocadas mais tropas da PM ocupando o local além da UPP.
Os moradores da favela e familiares das vítimas da chacina afirmam que o programa foi aplicado na comunidade para intimidar as massas e os familiares, que iniciaram sua mobilização e organização para denunciar as atrocidades cometidas pelo velho Estado e para reivindicar seus direitos.