João pedro foi assassinado e sequestrado por policiais militares. Foto: Arquivo de família
Um jovem chamado João Pedro Matos Pinto, de 14 anos, foi sequestrado via helicóptero por policiais militares após ser baleado na barriga durante operação no Complexo do Salgueiro, em São Gonçalo. Ele foi encontrado morto dias depois. A operação ocorreu dia 18 de maio, como parte de uma grande ofensiva em várias partes da região metropolitana.
O corpo de João Pedro foi encontrado no Instituto Médico Legal (IML) no dia 19. Quando foi alvejado, ele estava acompanhado de vários jovens, dentre eles um primo. “A gente tava jogando sinuca, e o helicóptero começou a voar em volta da casa, aí começaram a dar tiro em direção ao morro. A gente entrou dentro de casa e ficou lá, aí todo mundo deitou no chão. O primo D* viu, o M* viu, os policiais entrando, se agachando no deck da piscina”, conta o primo também adolescente de João. E continua:
“Aí a gente foi, deitou no chão, levantou a mão, o M* começou a gritar que só tinha criança… aí eles tacaram duas granadas na porta da sala, quem estava mais perto da porta era eu e o João. Aí ficou um zumbido, eles deram muitos tiros na janela e a gente saiu correndo para o quarto. Nisso que a gente correu para o quarto ficou o João e o D* na sala, na copa, deitado. Os policiais entraram e mandaram a gente deitar no chão e todo mundo calar a boca. Eu olhei para a frente e o João tava deitado, mas eu não sabia o que tinha acontecido. O policial viu a pulsação dele para ver se ele estava vivo diz”.
O primo de João Pedro denuncia ainda o sequestro: “O M* e o amigo dele pegaram o João, botaram no carro, e nisso que o M* tava com ele no carro, a gente escutou o M* gritando e uns tiros. Os policiais deram tiro no M* enquanto ele levava o João para o carro, para o helicóptero pegar ele”, concluiu o primo.
A tia de João Pedro, chamada Georgia Matos de Assis, de 41 anos, contou mais sobre o caso:
“Ele nem estava saindo de casa por conta dessa pandemia. Aí, o primo passou na casa dele e foi lá buscá-lo para brincar. Eles estavam no quintal da casa. Ele se assustou com o policial, e o policial atirou na barriga dele. Até agora não sabemos de nada. Se ele morreu no local ou a caminho do hospital”, disse.
De acordo com ela, os familiares fizeram buscas durante toda a madrugada. “Rodamos tudo isso aqui, São Gonçalo, Niterói, atrás dele. Até no Rio fomos. Só localizamos no IML aqui de Tribobó [em São Gonçalo]. Um descaso com a vida do menino”, lamentou.
“Obrigaram a socorrê-lo até um campo de futebol, onde o helicóptero fez o resgate, mas impediram que os familiares embarcassem junto com ele. A família ficou sem notícias a noite toda e agora de manhã localizaram o João no IML”, afirmou Érika de Souza.
João Pedro é o quarto menino morto em ações genocidas da polícia de Witzel. Rodrigo Mondego, advogado da Comissão de Direitos Humanos da OAB-RJ, acompanha o caso e está atrás de respostas sobre o caso.
“Algumas perguntas precisam ser respondidas. Por que ficaram tanto tempo com o corpo do garoto? Por que só de madrugada indicaram o IML de Tribobó? Como foi essa retirada do corpo dele? Se o corpo dele foi levado para o heliporto, por que não houve nenhum pronunciamento de parte da Polícia Civil e da Polícia Federal?”, questionou o advogado.
Neilton Pinto, pai de Joao Pedro, disse que estava trabalhando na hora que João Pedro foi baleado.
“Um jovem de 14 anos, um jovem com um futuro brilhante pela frente, que já sabia o que queria do seu futuro. Mas, infelizmente a polícia interrompeu o sonho do meu filho. A polícia chegou lá de uma maneira cruel, atirando, jogando granada, sem perguntar quem era. Se eles conhecessem a índole do meu filho, quem era meu filho, não faziam isso. Meu filho é um estudante”, desabafou.
Neilton, revoltado, fez críticas severas ao reacionário e assassino Wilson Witzel: “Quero dizer, senhor governador [Wilson Witzel], que a sua polícia não matou só um jovem de 14 anos com um sonho e projetos. A sua polícia matou uma família completa, matou um pai, matou uma mãe, e o João Pedro. Foi isso que a sua polícia fez com a minha vida”.
Parede de um dos cômodos da casa atingida por balas. Foto: Reprodução/TV Globo