RJ: Jovem é assassinada e mulher fica ferida após PRF disparar 10 tiros de fuzil durante blitz

Anne Caroline Nascimento, 23 anos, e Cláudia Maria da Silva dos Santos, 54 anos. Foto: Reprodução.

RJ: Jovem é assassinada e mulher fica ferida após PRF disparar 10 tiros de fuzil durante blitz

No dia 17 de junho, a jovem de 23 anos Anne Caroline Nascimento Silva foi atingida por um tiro de fuzil disparado pelo policial Thiago da Silva de Sá, da Polícia Rodoviária Federal (PRF), na rodovia Washington Luiz, em Duque de Caxias, no Rio de Janeiro (RJ). Além do tiro que vitimou a estudante de enfermagem, o assassino disparou outros nove tiros contra o carro em que Anne se encontrava. Por pouco, não assassinou também o marido da jovem, Alexandre Roberto Ribeiro de Mello. Todavia, no mesmo local e horário, uma segunda mulher, Cláudia Maria da Silva Santos, foi alvejada por um tiro no peito. Cláudia foi encaminhada ao hospital, mas se encontrava estável. 

Para o marido de Anne, não há dúvidas sobre como descrever este novo episódio da guerra reacionária contra o povo: “Foi um assassinato. Foi execução. Ele descarregou o fuzil todo no meu carro, os furos estão lá, os tiros estão todos no meu carro”, descreveu o coletor de óleo ao monopólio de imprensa G1. Em seu relato, o homem desmentiu a versão dos policiais, que afirmaram que o carro do casal foi jogado na direção da viatura: “Eu escutei [eles pedindo para parar], imediatamente eu liguei o pisca-alerta. Eu estava no meio da rodovia, procurei um acostamento. Tanto é que eu parei na agulha e minha esposa já estava baleada. Quando eu fui parar, antes de eu parar, meu carro já foi totalmente alvejado”, contou. O casal estava retornando de uma comemoração de 7 anos de casamento quando Anne foi assassinada.

Alexandre denunciou ainda que, após o assassinato, foi xingado e humilhado pelos policiais, que o culparam pelo crime: “Eles me culpando como se eu tivesse apertado o gatilho. ‘A culpa é sua, a culpa é sua. Seu merd*. Falando um monte de coisas, me xingando”. Depois da sessão de xingamentos, Anne foi finalmente levada ao Hospital Getúlio Vargas, na Penha, mas não resistiu. A jovem morreu no dia 18/06.

O assassino foi detido após o assassinato, mas liberado no dia de seguinte após passar por uma audiência de custódia. Apesar disso, o marido de Anne afirma que continuará na luta por justiça: “Minha esposa faleceu, ela não volta mais. Eu quero justiça contra ele. Eu vou até o final para ele ter a justiça merecida. Errou tem que pagar”.

Duas vítimas 

No enterro de Anne, Alexandre recebeu a visita de José Vitorino Gomes dos Santos, marido de Claudia Maria da Silva Santos, também alvejada por um tiro no dia 17 de junho. José Vitorino afirmou que ele e a mulher estavam “na mesma área em que o carro da Anne estava”. Sobre o acontecimento, ele descreve que “nós ouvimos vários tiros. Assim que olhei para a Claudia, ela me disse que tinha sido baleada. Ela estava com a mão no peito e me pediu para levá-la ao hospital. Quando ela tirou a mão, saiu muito sangue. Na hora eu pensei que tinha perdido minha mulher”, disse. 

Após o tiro, José conseguiu interceptar uma ambulância que passava pelo local e pedir ajuda. A mulher, que já estava desmaiada, foi levada para o Hospital Adão Pereira Nunes, em Duque de Caxias, onde ficou internada no CTI e, dois dias depois, foi transferida para a enfermaria. 

PRF acumula crimes 

Cresce, ano após ano, a lista de vítimas da PRF no Rio de Janeiro e no Brasil. Por pouco, Cláudia, José e Alexandre também não foram assassinados pelos policiais junto da jovem estudante de enfermagem Anne Caroline. Esse incremento sinistro é fruto direto da reacionarização crescente e escancarada das polícias brasileiras, processo no qual a PRF tem ganhado cada vez mais protagonismo. Nos últimos anos, o número de mortos pela PRF totalizaram mais de 90. Em 2019, quatro pessoas foram mortas pelos agentes. Em 2020, o número se elevou para 16. No ano seguinte, a cifra atingiu 35. Nos seis primeiros meses de 2022, já haviam sido 38 mortos. 

Destes episódios da guerra contra o povo, ao menos quatro ficaram nacionalmente conhecidos pela selvageria escancarada. Em novembro de 2021, agentes da PRF realizaram uma chacina em Varginha, em Minas Gerais, contra 26 integrantes de um grupo do chamado “novo cangaço”, que conduzia assaltos em bancos em cidades do interior. A sessão de execuções que ocorreu contra os integrantes do grupo foi planejada desde o início da investigação, que contou com diversos mecanismos de espionagem sem autorização da Justiça. Investigações posteriores revelaram que duas chacinas ocorreram para executar todo o grupo e que os mortos provavelmente estavam dormindo quando os policiais assaltaram os dois locais onde estavam. Em um deles, todos estavam desarmados, segundo uma testemunha.

Evento similar, tanto em brutalidade quanto em número de assassinatos, ocorreu no ano seguinte, no dia 24 de maio de 2022, quando agentes da PRF coordenaram uma operação feita conjuntamente com o Batalhão de Operações Especiais (Bope) na Vila Cruzeiro, favela do Complexo da Penha, no RJ. A operação contou com mais de 40 policiais rodoviários federais do Grupo de Resposta Rápida e Comando de Operações Especiais, forças que também atuaram na Chacina de Varginha. Como resultado da incursão na Vila Cruzeiro, 23 pessoas foram assassinadas, muitas delas em contexto de execução. Foram registrados ainda casos de torturas e tiros contra moradores. 

Coordenado por agentes da PRF, Massacre da Penha, em 2022, foi marcado por execuções macabras, torturas e tiros contra moradores. Foto: Banco de Dados AND
Coordenado por agentes da PRF, Massacre da Penha, em 2022, foi marcado por execuções macabras, torturas e tiros contra moradores. Foto: Banco de Dados AND

Uma dia depois ao Massacre da Penha, agentes da PRF assassinaram Genivaldo de Jesus Santos, em Sergipe, em um novo caso que tomou repercussão nacional pela barbaridade dos agentes. Na ocasião, o homem de 38 anos foi parado por agentes por pilotar uma moto sem capacete, revistado e atacado com spray de pimenta, até ser estrangulado por um “mata-leão” e lançado dentro de uma viatura da PRF, na qual os policiais atiraram uma bomba de gás e fecharam as portas. O homem morreu em menos de um minuto, sufocado na chamada “câmara de gás da PRF”. 

Assassinato de Genivaldo, em Sergipe, por agentes da PRF. Foto: Reprodução

Todos esses casos foram seguidos de pronunciamentos dos policiais com versões extremamente improváveis ou comprovadamente mentirosas sobre os episódios, como também é o caso de Anne Caroline. Ainda em 2022, no mês de outubro, um adolescente de 14 anos foi assassinado com um tiro na cabeça durante uma operação da PRF no Complexo do Chapadão, RJ. São episódios que desmontam quaisquer discursos de “eventos isolados” e escancaram o processo de reacionarização das polícias brasileiras, parte integrante do desenvolvimento da guerra imposta pelo velho Estado contra as massas em todo o País. Todavia, do outro lado, as massas deixam cada vez mais claro que não aceitarão mais a continuidade desta guerra, tampouco a impunidade recebida pelos matadores das polícias.

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