No dia 11 de maio, o jovem de 22 anos Ronald da Silva Santos foi baleado pela Polícia Militar (PM) com um tiro de fuzil pelas costas na Comunidade Boa Vista, em Niterói. Em entrevista ao AND, a família denuncia que Ronald foi baleado protegendo crianças que estavam sob a mira de policiais, que chegaram atirando na comunidade. O jovem trabalhador se encontra internado em estado grave no Hospital Estadual Azevedo Lima (Heal) e já foi submetido a cinco cirurgias.
A rua estava cheia de crianças quando os policiais começaram a atirar. O crime contra o povo ocorreu às 16h da tarde, quando as crianças voltavam da escola. Em entrevista com o AND, a tia do jovem, Aline Santos, explica que Ronald andava pela comunidade com seu irmão para irem jogar futebol:
– Ele foi correr para poder pegar as crianças, começou aquela correria de crianças. Quando ele foi proteger uma criança, colocar ela para dentro do bar, foi a hora que ele levou um tiro pelas costas.
Sobre o genocídio do velho Estado contra o povo, ela afirma:
– Ele tentou se proteger e tentou proteger uma criança. Hoje é a mãe dele que está chorando porque ele está no CTI [Centro de Tratamento Intensivo], poderia ser mãe de uma outra criança, poderia ser uma criança ali, porque eram crianças que estavam ali [na comunidade] naquele momento.
O dono do bar onde as crianças correram para se abrigar, Rito Rosa da Conceição, relata que os policiais tentaram impedir o socorro do jovem. Aline também afirma que quem socorreu Ronald foram os seus amigos da igreja e os moradores da comunidade.
– Os policiais chegaram lá já com aquelas armas enormes em cima do menino [Ronald], ele já estava caído no chão.
E também exigiu punição aos crimes da PM:
– Hoje a gente está chorando, mas a gente quer justiça! A gente quer justiça! Eu sei que isso não vai parar.
Família denuncia a PM e imprensa reacionárias
Aline ainda relatou o momento em que familiares foram até a delegacia prestar depoimento:
– Você vai, chega na delegacia para você prestar o seu depoimento, você vê a cara daquelas pessoas [policiais], como se estivessem debochando da sua cara, rindo da sua cara, do seu sofrimento, da sua dor, porque você é pobre, porque você mora na comunidade, com se você não tivesse dignidade. Ali [na comunidade] é todo mundo trabalhador, minhas irmãs são todas trabalhadoras.
E sobre a tentativa de criminalizar seu sobrinho, Aline afirmou:
– Ele estendeu a mão pro policial, para falar pro policial que perdoava por ele ter dado um tiro nele, por ele ser um servo de Deus. O policial relatou isso na delegacia como se ele [Ronald] estivesse tentando pegar o fuzil dele. O garoto sem força no chão.
Ela ainda denunciou a abordagem reacionária dos monopólios de mídia sobre a ação das polícias nas favelas:
– Eu acho um absurdo as pessoas falaram que ‘você mora em comunidade, você ouve um tiro, você não pode correr’. Isso não existe, ninguém fica parado esperando a bala chegar em você. Dizem: ‘Atirou nele porque ele correu’. Isso não quer dizer que ele seja traficante.
Guerra contra o povo
No Rio de Janeiro, assim como em todo o Brasil, o velho Estado desata uma guerra civil reacionária contra o povo. Para cercar e controlar os trabalhadores que vivem nas favelas e periferias, o governador do RJ, Claudio Castro assassino e terrorista, diariamente promove operações policiais. O terrorismo é praticado pelos agentes policiais contra aposentados, homens e mulheres trabalhadores, seus filhos e todos aqueles que ali residem, vistos como “inimigo” pelo Estado reacionário.
Entretanto, essa situação de privação de direitos básicos (direito de ir e vir, empregos dignos, saúde e educação) é respondido, cada vez mais, com revolta popular. No dia 4 de março deste ano, moradores da comunidade Kelson, no Complexo da Penha, zona norte do Rio de Janeiro, incendiaram uma base da PM após o assassinato de um jovem estudante à queima-roupa. No dia 25 de novembro do ano passado, moradores do Complexo de Favelas da Maré se rebelaram contra uma operação genocida da PM, resistindo durante 12 horas à operação. Neste dia, os moradores encurralaram caveirões, responderam às agressões da polícia com paus e pedras e fecharam as vias principais movimentadas ao redor da favela.