Após um ano de espera, um novo júri foi convocado para julgar chacina promovida pela Polícia Militar (PM) no ano de 2013, na ação que ficou conhecida como Chacina do Borel. A audiência está ocorrendo no Fórum na rua Erasmo Braga, centro do Rio de Janeiro, hoje, dia 22/11. Um manifesto foi feito na porta do Fórum pelas mães de filhos mortos pelas mãos do Estado genocida – mães que vêm há muito tempo denunciando a forma brutal que moradores de comunidade são tratados em operações policiais onde as consequências dessas ações resultam sempre em mortes.
Um pouco mais sobre a chacina
No Borel, em 2013, quatro homens foram mortos a tiros em uma operação do 6º Batalhão: Carlos Alberto da Silva Ferreira, pintor e pedreiro; Carlos Magno de Oliveira Nascimento, estudante; Everson Gonçalves Silote, taxista; e Thiago da Costa Correia da Silva, mecânico.
Thiago havia saído para encontrar o amigo de infância, Magno, em uma barbearia na Estrada da Independência, principal rua de acesso ao morro do Borel. Quando saíram do barbeiro, Magno e Thiago, além de Carlos Alberto, que tinha acabado de chegar à barbearia, ouviram sons de disparos e correram em direção a uma vila conhecida como Vila da Preguiça.
Ao entrarem na Vila, os jovens foram baleados por PMs que estavam na laje de uma casa. Magno, que tinha apenas 18 anos, levou seis tiros — sendo três pelas costas — e morreu na hora. Thiago, que tinha 19 anos, ainda agonizou no chão pedindo socorro, dizendo que era trabalhador e, mesmo assim, foi assassinado com cinco tiros, sendo um pelas costas. Carlinhos, como era conhecido Carlos Alberto, tinha 21 anos e foi atingido por doze disparos, sete deles nas costas e outros cinco na parte interna do antebraço direito e mãos direita e esquerda — sinais de que a vítima protegia o rosto quando foi executada.
Outra vítima fatal da operação foi Everson Silote, de 26 anos. O taxista voltava para casa a pé quando foi rendido por policiais na Estrada da Independência. Afirmando ser trabalhador, Everson carregava um envelope com todos os seus documentos e insistiu em mostrá-los, mas foi executado antes de apresentá-los.
Além das quatro vítimas fatais, foram baleados Pedro da Silva Rodrigues e Leandro Mendes. Os policiais registraram as mortes como “autos de resistência” — quando a pessoa é morta em uma troca de tiros com a polícia. No entanto, as investigações concluíram que os quatro rapazes foram executados. Os anos se passaram e, depois de adiamentos de julgamentos, recursos e mais recursos, até hoje, nenhum dos PMs que participaram da chacina foi efetivamente preso — com exceção do cabo Marcos Duarte Ramalho.