Furiosos com a opressão, moradores se rebelam e promovem grande protesto na Cidade de Deus. Imagem: TV Globo
Dezenas de moradores da Cidade de Deus, na zona oeste do Rio, realizaram um grande protesto na manhã do dia 3 de setembro, reagindo contra uma operação de guerra promovida na região pelo Comando de Operações Especiais (COE) da Polícia Militar (PM). O estopim para a rebelião popular foi a destruição de moradias precárias promovidas por um veículo blindado (“caveirão”) em um local da favela conhecido como Brejo.
Os moradores, revoltados com a rotina de guerra imposta pelas tropas do governador Wilson Witzel, se mobilizaram e trancaram a rua Edgard Werneck e a estrada Marechal Miguel Salazar. Os manifestantes pararam pelo menos cinco ônibus do transporte coletivo, esvaziaram e atravassaram-os nas vias, formando uma grande barreira. Barricadas foram erguidas e incendiadas em vários pontos das vias.
Uma viatura da PM que se deslocou ao local para reprimir os moradores foi obrigada a se retirar em alta velocidade e sob xingamentos. Um dos manifestantes, indignado com a situação de opressão, desabafou seu ódio chutando o carro da repressão, que nada pôde fazer diante da fúria popular.
Moradores esvaziam ônibus e trancam importante via na Cidade de Deus. Imagem: TV Globo
A destruição das moradias, feitas com madeirite e outros frágeis materiais por famílias de trabalhadores, ocorreu após o blindado “caveirão” forçar uma passagem entre esses barracos, mesmo sendo perceptível que não havia espaço para a manobra. Duas moradoras, ao verem suas casas destruídas pela ação, passaram mal e foram socorridas. Crianças ainda dormiam quando o veículo forçou passagem.
“Isso é inaceitável! Tem criança! Assassinos! Nossos barracos! Respeita a gente, nós trabalhamos! Olha a covardia, cara!”, gritam moradores em vídeo feito por um dos trabalhadores que reside no local, durante a ação do blindado (o vídeo foi publicado na página “CDD Acontece”).
“Isso é errado, é isso que esse governador faz. O ‘caveirão’ passando por cima de barraco, a gente sem defesa nenhuma. Eu acordei aos gritos. Isso é errado! Vocês mexeram no formigueiro!”, disse um morador durante o protesto, segundo apuração do portal G1.
Viatura é repelida pelo protesto popular. Imagem: TV Globo
Vila Kennedy se levanta
Na manhã do mesmo dia 3, moradores da Vila Kennedy, também na zona oeste da capital fluminense, promovem um combativo protesto na avenida Brasil contra o assassinato de um pedreiro que trabalhava em uma laje durante uma operação policial. Os moradores iniciaram o protesto às 11h30, queimando pneus nos dois lados da principal via da cidade.
“Acabaram de matar um trabalhador aqui em cima da minha laje, ele estava botando a laje para mim”, diz o homem, sensivelmente emocionado, em vídeo gravado logo após o ocorrido, publicado na página Voz da Vila Kennedy. “O cara trabalhando aqui, gente! Ele trabalhando! O policial veio, deu um tiro, não tinha ninguém, cara! Impressionante, cara, como a gente está sofrendo aqui na Vila Kennedy! Polícia entrando o tempo todo, crianças, trabalhadores indo embora!”, protestou o morador.
Uma moradora desabafou, na mesma página: “Como vão ficar agora os parentes para sustentar a família? De 100% dos policiais, tire 2%, o resto só vai para rua com drogas na mente, é lamentável, [para eles] todo mundo é bandido”.
Durante a manifestação, um ônibus foi incendiado pela fúria popular.
Manifestantes em justa revolta incendiaram ônibus da Vila Kennedy. Imagem: TV Globo