No dia 23 de julho, cerca de 500 pessoas protestaram em Volta Redonda, município do sul do Rio de Janeiro, contra a contaminação dos meios naturais promovida pela Companhia Siderúrgica Nacional (CSN). Os moradores denunciaram a instalação de depósitos de escórias na cidade e o despejo constante de materiais poluentes, como pó de ferro, no ar. O chamado “pó preto” tem sido responsável por uma alta significativa nos casos de problemas de saúde do município, sobretudo doenças respiratórias.
A manifestação foi iniciada em torno das 10 horas da manhã na Praça Brasil, no bairro de Vila Santa Cecília, e mobilizou trabalhadores de diversos bairros da cidade. De lá, os manifestantes marcharam até o prédio que sediava o antigo Escritório Central da CSN, onde moradores leram um manifesto contra a contaminação promovida pela empresa e cobriram com um plástico preto um display digital instalado pela CSN responsável por avaliar a qualidade do ar da cidade. Sobre o plástico, um papel colado pelos manifestantes informava a avaliação dos moradores sobre o ar: “Horrível!”.
Ao longo da manifestação, os moradores entoaram palavras de ordem e ergueram cartazes contra a contaminação dos meios naturais promovida pela CSN. Diversos manifestantes denunciaram a condição do ar da cidade. “Minha bronquite está voltando e o médico disse que a rinite do meu neto só vai melhorar quando ele sair da cidade”, afirmou a aposentada Marina Gregória ao jornal local Diário do Vale.
Problema de anos
A contaminação dos meios naturais promovida pela CSN é um problema de anos em Volta Redonda, resultado da negativa dos magnatas da empresa em aplicar as medidas de redução de impacto a fim de alcançar o lucro máximo. Nessa sanha pelos superlucros, nem mesmo as medidas mínimas exigidas pelo velho Estado brasileiro são cumpridas. Em 2018, a empresa chegou a ter a licença de atuação cancelada. Como suposta “punição” à empresa, diversas multas têm sido cobradas desde então, todas incapazes de afetar os superlucros dos magnatas da empresa. Todavia, a situação tem ficado cada vez pior.
“O volume de pó de ferro que estão jogando nos nossos pulmões está absurdo. Todos os dias a gente lava a casa, limpa e horas depois conseguimos juntar com a pá a quantidade de pó absurda que vai para os nossos pulmões”, denunciou Jordana Cavalcanti, moradora do bairro Vila Santa Cecília, ao monopólio de imprensa G1.
Novas manifestações
São diversos os problemas que a inalação de pó de ferro pode causar. Dores de cabeça, coceiras na pele e no couro cabeludo, dificuldades para respirar e rinite alérgica são alguns dos efeitos mais imediatos da contaminação. Entretanto, a longo prazo os problemas podem se agravar, transformando-se em infecções respiratórias, manchas no tórax, câncer no pulmão, doenças obstrutivas das vias aéreas e siderossilicose.
Contra esses ataques diretos à saúde pública e às condições de vida, os moradores de Volta Redonda prometem intensificar a mobilização. Segundo eles, uma nova manifestação será marcada em breve para o mês que vem. Já os grandes industriais, receosos com a radicalização da luta, têm buscado restringir o direito à manifestação. Na última semana, a empresa acionou a “justiça” para proibir ações como o despejo de pó de ferro em instalações da empresa e o bloqueio de vias nas entradas da Usina Presidente Vargas (UPV), táticas comumente utilizadas em manifestações populares.