Foto: Victor Prat/A Nova Democracia
Moradores de várias favelas do Rio de Janeiro, especialmente do Borel, protestaram contra a Polícia Militar (PM) e contra a política de extermínio de Wilson Witzel e seus antecessores, no dia 17 de agosto. O ato foi organizado pela família do jovem Gabriel Pereira Alves, morto no ponto de ônibus durante uma operação policial da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP), no dia 9 de agosto, enquanto esperava condução para a escola.
Participaram do ato, também, mães e familiares vítimas da violência perpetrada pelo velho Estado, pessoas que perderam seus entes queridos nessa guerra civil antipovo e reacionária. Eles provinham de várias favelas: Chapadão, Alemão, Manguinhos e muitas outras.
Foto: Victor Prat/A Nova Democracia
A marcha, que iniciou-se na entrada do Morro do Borel, na Tijuca (zona norte), e encerrou-se na praça Saens Peña, no mesmo bairro, teve faixas e cartazes de protesto erguidos pelos manifestantes, como a que dizia: Borel pede justiça!, carregada pela família do jovem Gabriel. Centralmente, outros familiares e amigos levavam uma faixa que dizia: Vidas negras e faveladas importam! Ao redor do ato, liam-se faixas como: Se morrer mais um irmão, o morro vai descer e vai ter rebelião!, Se a PM não parar de nos matar, a juventude das favelas vai se rebelar! e outras.
Foto: Victor Prat/A Nova Democracia
Outros cartazes denunciavam a política de genocídio aplicada pelo governador do Rio de Janeiro. Um deles, erguido por um jovem dizia: Witzel assassino e terrorista! Rebelar-se é justo! Outro, levado também por uma moradora do Borel, dizia: Witzel, por que você não joga seus mísseis em Brasília? Lá estão os verdadeiros bandidos! Na praça Saens Pena, no mesmo bairro, uma manifestante queimou a capa de um jornal, onde aparece o rosto de Wilson Witzel.
Durante todo o ato a PM empreendeu um cerco aos manifestantes, mobilizando um número desproporcional de militares. Na parte de trás da marcha havia cinco viaturas das Rondas Especiais e Controle de Multidões (Recom) da PM e, na frente, pelo menos outras três acompanhavam os manifestantes.
Foto: Victor Prat/A Nova Democracia
Ao menos cinco viaturas perseguiu a marcha; PMs tiraram fotos, filmaram e debocharam dos familiares e vítimas
Estiveram presentes também vários movimentos populares, como a Rede de Mães contra a Violência do Estado, Mães sem Fronteiras, Mães de Manguinhos, o Movimento Feminino Popular (MFP), a Unidade Vermelha – Liga da Juventude Revolucionária (UV-LJR), Movimento Estudantil Popular Revolucionário (MEPR), entre outros.
Opressão gera luta
A marcha foi precedida de falas das mães e familiares de vítimas do velho Estado. Dentre os familiares, a tia do Gabriel, Regina, deu um vibrante grito de protesto:
“Eu tenho 56 anos e eu já vi coisas aqui, no Morro do Borel, que a maioria dos jovens não viu. Eu já vi policiais entrarem nas nossas casas revirando, derrubando tudo. Nós não tínhamos voz, não podíamos abrir a boca para falar nada. Somos oprimidos, e isso é angustiante. Éramos acoados como animais! Era assim que eu me sentia, como um animal. Eu não tinha voz, não podia falar, não podia abrir a minha boca. Eu sentia medo”.
Foto: Victor Prat/A Nova Democracia
Regina, tia do jovem Gabriel, denunciou anos de crimes da polícia no Borel
Ela prosseguiu: “Eu tinha sonhos, e um deles era ser policial. Eu achava que se tratava de proteger as pessoas, assim eu pensava. Mas quando eu vi a polícia entrar dentro de uma comunidade e agir como se todos fossem bandidos, chegar ao ponto de apontar o dedo para a minha cara e falar que iriam me matar se eu falasse sobre o que eu estava vendo naquele momento… Aí acabou. Eu não acredito em nenhuma polícia que age assim!”, sentenciou.
“Podem rir!”, disparou uma das mães vítimas do Estado, moradora do Complexo do Chapadão, referindo-se aos policiais que zombavam das vítimas durante as falas. “Podem rir, mas o poder está na nossa mão! E nós não vamos mais admitir que vocês, assassinos, continuem nos matando!”, completou.
“Me solidarizo com a família do Gabriel. Temos que lutar mesmo. Estamos juntos, juntos! Ombro a ombro! Porque, agora, aparece todo mundo, mas na hora do aperto é só a gente, na nossa favela. Todos que entram para essa politicagem acabam se corrompendo! E quem não se corrompe, acaba igual a Marielle! Lá dentro tem que ser ordinários igual a eles, se não fechar com eles acaba morto!”, prosseguiu. E cravou: “Não esperem cair nada no seu telhado, não! É só com uma Grande Revolução popular e democrática que a gente vai conseguir tudo! Contra esse Estado, esses fascistas que querem nos oprimir! Eleição é uma farsa!”.
Foto: Victor Prat/A Nova Democracia
“A morte do Gabriel não é um caso isolado. Não é um engano da polícia e nem uma fatalidade. Só nos primeiros seis meses do ano foram mais de 880 mortos no estado pela polícia. A maioria desses jovens foram mortos como ‘suspeitos’. Quantos deles, jovens trabalhadores e estudantes, inocentes, não puderam sequer provar sua inocência! Na verdade, as ‘autoridades’ sabem muito bem dessa injustiça, mas seguem aplicando essa política”, afirmou uma militante da UV-LJR, movimento que organiza jovens das favelas e periferias, em entrevista ao AND.
“É uma política de extermínio desse velho Estado contra a juventude preta e pobre, para exterminar e aterrorizar esses jovens das favelas que são humilhados e explorados todos os dias. É uma política para impedir que eles se rebelem, porque o velho Estado tem medo da revolução. E a luta é o caminho, e não se candidatar, virar vereador… O caso da Marielle deixou claro: não há nada para as pessoas honestas ali, a não ser corromper-se ou morrer. Nenhuma mudança virá de dentro, porque o parlamento é só um teatro, as decisões e o poder real são dos ricaços, e são eles que têm interesse em prosseguir esse extermínio. Só uma transformação radical, vinda do povo, mudará isso”, concluiu.