Protesto em Guadalupe contra o assassinato de três jovens pela polícia no Complexo do Chapadão. Foto: Reprodução/ Redes Sociais
Moradores do Complexo do Chapadão construíram barricadas com pneus em chamas, no dia 25 de agosto, nas principais vias que dão acesso às comunidades, para protestar contra o assassinato de três moradores por policiais militares na noite anterior aos protestos. A primeira vítima confirmada foi Lucas Martins, de 22 anos, que trabalhava como entregador. Revoltados com o covarde assassinato de seu colega pela Polícia Militar, entregadores fecharam a via Marcos de Macedo em Guadalupe. Também foram fechadas a Estrada Rio do Pau, Estrada do Camboatá, entre outras.
Mesmo durante o justo protesto contra o assassinato, os trabalhadores continuaram sofrendo todo tipo de ataques e provocações pelas forças de repressão. Para combater a revolta, mais policiais militares foram deslocados para o complexo do Chapadão, incluindo um veículo blindado. O envio de reforços policiais serviu claramente como tentativa de intimidação para conter a revolta da massa. Ainda assim, os protestos seguiram.
Policiais atacam moradores com tróia
Complexo do Chapadão
O blindado saindo da Comunidade pic.twitter.com/tisYSNXkHU
— INSTA:@Favela Caiu no Face (@favelacaiunofa1) August 25, 2022
De acordo com o relato de moradores, o tiroteio começou quando policiais invadiram a comunidade às 22h da noite. De acordo com a denúncia, os policiais assassinaram o morador e trabalhador Lucas através da tática conhecida popularmente como “tróia”, ou seja, através de tocaia dentro de casas de moradores invadidas ou becos e emboscada. Essa é uma tática utilizada diariamente pela Polícia Militar (PM) e cujo resultado só pode ser execuções sumárias. Os moradores também foram submetidos a um apagão em meio ao tiroteio, uma vez que um poste de luz foi atingido pelos tiros.
A versão da PM é de que “policiais militares do 41º BPM (Irajá) faziam patrulhamento pela estrada do Camboatá, no bairro de Guadalupe, quando depararam-se com um grupo de homens armados” e que, após a troca de tiros, “encontraram dois suspeitos caídos ao solo”. Eles também alegam que na “ação” (e não “operação”), foram arrecadadas “uma pistola calibre 9mm, um rádio comunicador, 995 saquinhos de cocaína, 642 trouxinhas de maconha, 103 pedras de crack e munições. Ocorrência registrada na 27ª DP”. Tudo isso sem apresentar quaisquer provas.
Batalhão famoso por suas atrocidades contra o povo
#Nacional | Moradores do Chapadão construíram barricadas com pneus em chamas, em 25 de agosto, nas vias que dão acesso às comunidades, para protestar contra o assassinato de três moradores por policiais militares na noite anterior. Leia mais em: https://t.co/5glD9h9gmb pic.twitter.com/1mkDrVAABx
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O 41° BPM é considerado um dos mais violentos do Rio de Janeiro. Em 29 de outubro de 2015, dois jovens numa moto foram assassinados na Pavuna, após o policial militar “confundir” o macaco hidráulico que um deles segurava com uma submetralhadora. Em 28 de novembro de 2015, cinco jovens foram simplesmente fuzilados com mais de uma centena de tiros por quatro policiais dentro de um carro quando voltavam de uma comemoração para casa, no Complexo da Pedreira. Já em 30 de março de 2017, uma criança foi assassinada dentro da escola após ser atingida por tiros disparados por um policial militar em meio a uma operação. Todos os casos envolvem o 41º BPM. No dia 10 de março de 2018, a vereadora Marielle Franco havia denunciado policiais do batalhão por abusos de autoridade contra os moradores do bairro de Acari. Quatro dias depois, a vereadora foi executada a tiros.