RJ: Moradores da Maré enfrentam Bope com paus e pedras; operações no estado deixam mais de dez mortos

RJ: Moradores da Maré enfrentam Bope com paus e pedras; operações no estado deixam mais de dez mortos

Moradores se rebelam contra operação policial no Complexo da Maré. Foto: Reprodução

Moradores do Complexo da Maré, no Rio de Janeiro, resistiram com paus e pedras a mais uma operação genocida das Polícias Militar (PM) e Civil (PC) nas favelas cariocas, no dia 25 de novembro, que deixou um morto. As massas da Maré resistiram durante 12 horas de operação, encurralaram caveirões, responderam às agressões da polícia com paus e pedras e também fecharam as vias movimentadas ao redor da favela, entre elas a Avenida Brasil. Ao mesmo tempo em que acontecia a operação no Complexo da Maré, ocorriam outras 13 em diferentes favelas no estado do Rio de Janeiro e, no Morro do Juramento, foram assassinadas pelo menos sete pessoas e nove baleadas.

A operação na Maré se iniciou às 4h da manhã e foi realizada pelo Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope), da PM, e a Coordenadoria de Operações e Recursos Especiais (Core), da PC. Os moradores acordaram com rasantes de helicóptero e caveirões circulando entre os becos. Denúncias de moradores dão conta de casas invadidas e depredadas pelos militares reacionários. 

O morador morto é o jovem Renan Lemos, de 24 anos, que trabalhava como motorista de aplicativo e era pai de duas crianças, uma menina de seis anos e um menino de sete meses. Até o momento de fechamento desta matéria, pelo menos cinco moradores ficaram feridos. Além disso, durante todo o dia, mais de 40 escolas municipais do conjunto de favelas permaneceram fechadas, assim como clínicas da família. 

Renan Lemos foi baleado por policiais no Complexo da Maré, no Rio — Foto: Reprodução/TV Globo.

Vídeos que circulam pelas redes sociais mostram moradores revoltados se rebelando contra a operação policial terrorista. Os militares reprimiram a justa revolta atirando bombas de gás e balas de borracha contra os moradores, que prosseguiram. Destemidos, eles continuaram nas ruas para protestar e bloquearam diversas vezes a Avenida Brasil com barricadas em chamas. 

Um vídeo revela as imagens do momento em que uma jovem moradora atinge com um pedaço de madeira um policial que a agredia. O policial atira com tiros de fuzil, em vã tentativa de dispersar dezenas de moradores revoltados. Os tiros dados contra moradores desarmados não foram para cima, mas na direção destes. Os moradores também construíram uma barricada dentro da favela ao verem o blindado da polícia chegar. Para impedir a incursão do caveirão, objetos e tintas foram atirados. Ao fim, ele recua frente a reação decisiva dos moradores. Em outro momento, dezenas de moradores cercam um caveirão em uma das entradas da favela, não o deixando sair do lugar.

A rebelião das massas no Complexo da Maré ocorre após uma série de operações no local nos últimos meses que resultaram em pelo menos 20 mortes entre setembro e novembro. Entre os assassinados estavam idosos e crianças.

Operações no Morro do Juramento e no Morro do Estado deixam quase dez mortos

Ao mesmo tempo em que ocorria a operação policial no Complexo da Maré, no Morro do Juramento, na zona norte do RJ, pelo menos seis pessoas foram assassinadas e cinco ficaram feridas durante outra operação. Já no Morro do Estado, em Niterói, pelo menos três moradores foram mortos e dois ficaram feridos. A sexta-feira de terror promovida pelo genocida Cláudio Castro deixou, em menos de 24 horas, cerca de dez pessoas assassinadas pela PM e PC no estado do Rio de Janeiro.

Estavam em operação as comunidades de BNH, Marambaia, Apollo e Viúva (todas em Itaboraí, região metropolitana do RJ), Comunidade Vila Joaniza (Ilha do Governador), Complexo de Senador Camará, Vila Aliança, 48 e do Batan (zona oeste), Comunidade Morro do Andaraí, Morro do Juramento e Complexo da Maré (zona norte) e Comunidade da Lagoa (Magé, na Baixada Fluminense).

Velho Estado leva genocídio às favelas impunemente

Familiares e vizinhos carregam o corpo de ente querido assassinado durante a operação na Maré. Foto: Reginaldo Pimenta / Agência O Dia

Através de operações policiais, o velho Estado brasileiro leva terror e genocídio aos moradores das favelas, que são mantidas sob um violentíssimo estado de choque permanente. O cerco, o controle social e a intimidação a que são submetidos milhões de trabalhadores que vivem em favelas tem como objetivo impedir que lutem pelos seus direitos pisoteados. Porém, no Complexo da Maré o terrorismo reacionário contra o povo pobre e preto através das rotineiras operações policiais fracassou frente ao protesto dos moradores.

Moradores fazem barricada em chamas na Avenida Brasil após assassinato de morador em operação policial. Foto: Fabiano Rocha – Agência O GLOBO

O governador Cláudio Castro assassino e terrorista e todo o monopólio de imprensa justificam as operações policiais terroristas e genocidas nas favelas alegando que lá há “armas e drogas”. A hipocrisia manifesta dos monopólios de imprensa é tal que nada falam que a quantidade de entorpecentes que circula nas favelas é o “varejo do varejo, em nada comparável com o volume industrial de cocaína que transborda dos festejos dos ricaços, servida em bandejas nos happy hour nos escritórios dos CEO e financistas da Avenida Paulista, nos honrados lares das coberturas da Avenida Vieira Souto, Barra da Tijuca e luxuosos condomínios alhures”, denunciado pelo AND no Editorial Guerra de Apenas um Exército. Isso, sem mencionar os 37 quilos de cocaína encontrados em avião da Força Aérea Brasileira (FAB).

Investigações dão conta, inclusive, de criminosos dentro da Polícia Civil do Rio de Janeiro. O ex-secretário da Polícia Civil no Rio de Janeiro, Allan Turnowski, foi preso no dia 9 de setembro, “suspeito” de ter recebido propina de bicheiros e de participar de um plano para assassinar o bicheiro Rogério Andrade, na disputa pelo espólio do bicho de Castor de Andrade. À frente da Polícia Civil, ele promoveu a ação mais letal na história da polícia no RJ, com 28 mortos na favela do Jacarezinho, em maio de 2021.

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