Em protesto, moradores do Complexo do Alemão fecham a Estrada do Itararé. Foto: Banco de Dados AND
Na mesma manhã em que o Batalhão de Operações Especiais (Bope) e a Coordenardoria de Recursos Especiais (Core), das polícias Militar e Civil, realizavam a operação mais letal já realizada no Complexo do Alemão desde 2010, os moradores realizaram uma combativa manifestação denunciando o terrorismo a que foram submetidos. Mototaxistas se reuniram em passeata a partir das 10h30 percorrendo as principais ruas da região. Horas depois, no início da tarde, outro ato ocorreu. Com faixas, barricadas e palavras de ordem, os moradores denunciaram o Massacre do Alemão e exigiram justiça.
Confira a cobertura exclusiva feita pela equipe de reportagem de AND.
Enfrentando as ameaças dos policiais, os moradores fecharam a Estrada do Itararé com uma barricada de pneus em chamas e uma faixa que denunciava a violência policial com a frase Fora da favela polícias assassinas!. Tentando impedir o direito de manifestação, os policiais apontaram os fuzis e jogaram o caveirão para cima dos moradores, que não se intimidaram e prosseguiram com o ato.
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A manifestação passou em frente à Delegacia de Polícia e denunciou a ação genocida. Os manifestantes entoaram a palavra de ordem Chega de chacina, polícia assassina!
Em seguida, a manifestação se dirigiu até o alto do morro, onde outros moradores desde cedo retiravam os corpos dos mortos. Novamente, violações de direitos. Policiais ameaçavam atirar com tiros de fuzil os manifestantes e a equipe de reportagem de AND que acompanhava o resgate dos corpos ficou sob a mira dos agentes e também foram abordados de forma truculenta.
Moradores protestam contra violência policial. Foto: Banco de Dados AND
Policiais tentam apagar barricada levantada na Estradada do Itararé. Foto: Banco de Dados AND
Moradora é assassinada um dia depois
Após mais de 24h do início da Operação, na manhã de 22/07 mais uma moradora foi assassinada pelos agentes genocidas das forças policiais. Solange Mendes, trabalhadora de 49 anos, foi atingida por um policial na localidade da Caixa D’Água. A PM bandida, como sempre, negou o fato.
Na manhã do dia anterior, 21/07, já havia sido assassinada pelos policiais a trabalhadora e mãe Letícia Marinho de Salles, de 50 anos. Seu corpo será velado no sábado, 23/07, no cemitério São Francisco Xavier, no Caju. O sepultamento acontecerá às 11h30.
Rastro de sangue deixados pela PM assassina. Foto: Banco de Dados AND
Cláudio Castro: assassino e terrorista
Em entrevista coletiva, os comandantes das polícias militar e civil do Rio de Janeiro admitiram as ilegalidades ocorridas durante a Operação, dentre elas a invasão das residências dos moradores. A certeza da impunidade dos delinquentes fardados é o que motiva a continuidade dos massacres nas favelas. Em 14 meses, os militares reacionários já mataram mais de 70 pessoas.
Somente na região dos Complexos da Penha e do Alemão mais de 300 mil moradores das favelas e bairros próximos são vítimas das operações terroristas. As favelas de Manguinhos e Jacarezinho reúnem outros 90 mil habitantes que rotineiramente ficam reféns da violência policial. Estas quatro regiões registraram ao menos uma operação nos últimos três meses.
Em Manguinhos, moradores protestaram fechando a avenida Leopoldo Bulhões no dia 13 de julho, após a PM assassinar seis pessoas. Já no Jacarezinho, no dia 11 de maio, a Polícia Civil, a mesma que justificou a ação terrorista no Complexo do Alemão, destruiu um memorial feito pelos moradores para relembrar o massacre realizado um ano antes.
Após o massacre do dia 21 no Complexo do Alemão, Claudio Castro ultrapassou a marca dos 200 mortos em operações policiais. São 40 chacinas no total desde que assumiu, primeiro interinamente em agosto de 2020 e em seguida efetivado em abril de 2021. Castro foi eleito como vice do igualmente assassino e terrorista Wilson Witzel, que desde sua campanha eleitoral já havia anunciado a política genocida de “atirar na cabecinha” e “abater” todos que parecem uma ameaça aos policiais.
As operações seguirão sendo rechaçadas pelo povo das favelas do Rio de Janeiro. E a cada novo ataque covarde, cresce ainda mais a solidariedade de classe no Brasil e também internacionalmente.