Moradores da comunidade Kelson, no Complexo da Penha, zona norte do Rio de Janeiro, incendiaram uma base da Polícia Militar (PM), no dia 4 de março, após o assassinato de um jovem estudante à queima-roupa. Alex Souza Araújo Santos tinha 19 anos, era estudante do 3° ano do ensino médio e jogava futebol no time de base da comunidade. Alex Souza faleceu enquanto era levado por populares para o Hospital Getúlio Vargas.
Os moradores, revoltados, revidaram ao covarde assassinato atirando pedras nas viaturas da PM e fechando uma via da Avenida Brasil próxima à comunidade. Os moradores foram reprimidos em sua justa revolta com tiros de arma de fogo e bombas de gás lacrimogêneo pelo Batalhão de Rondas Especiais e Controle de Multidão (RECOM) da PM assassina. Moradoras não se intimidaram com os tiros da polícia e continuaram o protesto.
Policiais mentem
Ao contrário do que alega a PM, o amigo de Alex, Luciano Santos, afirma que não havia operação na comunidade durante o assassinato: “O moleque não era traficante. Estava no 3º ano do Ensino Médio e jogava como meio de campo no Galáticos, o time de futebol da Kelson’s. Sonhava em ser jogador profissional. O que aconteceu foi um absurdo”, afirmou Luciano em entrevista ao monopólio de imprensa Extra.
André Werneck, que mantém projeto social para crianças e adolescentes na Kelson’s e era treinador de Alex, contou o que aconteceu na hora da execução: “Quando ele saia do beco e viu os PMs se assustou e voltou. Um dos soldados foi atrás e atirou. O Igor, amigo dele, estava também com uma criança no colo. Colocaram três pessoas em risco. Se achava que ele era um suspeito deveria ter dado um tiro para o alto, não fazer o que fez”, denunciou André.
Além disso, os moradores denunciam que a execução foi realizada com um tiro pelas costas.
Família exige justiça e afirma vontade de lutar
Alex era o mais velho de uma família com três irmãos. Seu pai, Robson Araújo dos Santos, de 41 anos, expressa vontade de lutar para que o que aconteceu com Alex não volte a acontecer com outros jovens: “Infelizmente, o que aconteceu com meu filho ocorre a todo momento na comunidade. Há inúmeros casos de gente baleada à toa. Mas vou lutar para que isso não volte a acontecer.”
Alex, como jogador do sub-17, também passou pelo Macaé, Audax e Duque de Caxias. Além de estudar ele iria começar em alguns dias a trabalhar como auxiliar de pedreiro com o tio.
Crimes contra o povo na Kelson’s
Exatos dois meses antes do assassinato de Alex, um protesto ocorreu na Kelson’s, em 4 de janeiro, após um morador ter sido baleado e morto pela PM na comunidade. Na ocasião, os moradores também interditaram uma faixa da Avenida Brasil.
A desculpa dada pelos policiais foi a mesma para Alex, de que “os policiais foram alvos de disparos e revidaram”. Nos dois casos, os policiais alegam que foi encontrado na mochila das vítimas “armas, drogas e rádio comunicador”. Esses três itens são conhecidos popularmente como “kit bandido”, uma vez que os policiais o carregam consigo e implantam junto dos corpos de moradores para forjar flagrante.
Além disso, denúncias de moradores afirmam que o caveirão percorre a comunidade diariamente há pelo menos seis meses, e que a base móvel da Polícia Militar fica estacionada permanentemente na comunidade.
Guerra contra os pobres no Rio de Janeiro
Em 2022, a Rede de Observatórios da Segurança Pública analisou 21 mil “eventos violentos” em sete estados e seus fatores causadores. No total, 55% dos eventos analisados foram causados pelas polícias no estudo. No Rio de Janeiro, porém, os dados ultrapassaram esta marca, chegando a 67%.
Além disso, no período de 2007 a 2021, foram realizadas 17.929 operações policiais em favelas na região metropolitana do Rio, das quais 593 terminaram em chacinas, com um total de 2.374 civis mortos, de acordo com o relatório Chacinas Policiais, produzido pelo Grupo de Estudos dos Novos Ilegalismos da Universidade Federal Fluminense (Geni/UFF).
As operações realizadas diariamente em centenas de favelas da cidade do Rio de Janeiro, assim como as bases policiais da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) implantadas nas favelas enquanto militarização permanente do território, são fruto da guerra civil reacionária contra o povo em todo o país.
A cidade do Rio de Janeiro conta com quase 7 milhões de habitantes, dos quais 22% moram em favelas, sendo o maior percentual de todo o Brasil, em dados subestimados e desatualizados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2010. Em números referentes ao estado, no primeiro trimestre de 2022, o Rio de Janeiro era um dos três estados com mais desemprego no Brasil. Além disso, aproximadamente 35% dos fluminenses não têm sistema de tratamento de esgoto. Diante da falta de direitos agonizante a que estão submetidas as massas fluminenses, o velho Estado brasileiro, particularmente no estado do Rio, aplica sua guerra reacionária à ferro e fogo contra o povo, para que este não se utilize da única forma disponível para exigir e conquistar seus direitos pisoteados: a rebelião.