Emily e Rebeca entram para a lista de crianças mortas por tiros no Rio de Janeiro. Foto: Reprodução
Moradores de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, protestaram na Praça Raul Cortez, no centro da cidade, no dia 6 de dezembro, após duas crianças serem assassinadas quando brincavam na frente da casa da família na favela Barro Vermelho, no bairro Jardim Gramacho.
As primas Emily Victória de quatro anos e Rebeca Beatriz de sete brincavam no portão de casa, no dia 4 de dezembro, quando foram alvejadas por tiros de fuzil. As meninas vieram a óbito no local. Durante o protesto que reuniu centenas de pessoas, entre moradores da comunidade, vizinhos, familiares e integrantes de movimentos sociais, a avó de Rebeca, Lídia Santos, afirmou que chegou do trabalho por volta de 20h e viu policiais militares (PMs) efetuando disparos para dentro da comunidade. Quando chegou ao portão de casa encontrou a sobrinha morta com o cérebro para fora e a neta estirada no quintal de casa com um tiro no abdômen. “Eu cheguei 20h20m do trabalho, saltei do ônibus, vi a polícia atirando para dentro da favela, eles saíram arrancando. Cheguei na porta da casa da minha mãe e encontrei minha sobrinha de quatro anos com o cérebro no chão, ando mais dois metros e vejo minha neta de sete anos com um tiro no coração dentro do quintal da minha mãe, isso é certo?” perguntou a avó.
Moradores e familiares se emocionam durante protesto por justiça, ocorrido no centro de Duque de Caxias. Foto: Aline Cavalcanti/Agência O Dia
A mãe de Emily, Ana Lúcia Silva Moreira, também afirmou que não havia nenhum confronto no momento em que as meninas foram baleadas e que somente os policiais atiraram “Eles só sabem fazer isso, dar tiro. Olhou, dá tiro. Quando percebi, eu só peguei o documento. Porque eu já sabia, minha filha já estava estirada. A minha filha levou tiro de fuzil na cabeça. A minha filha já estava morta. A minha sobrinha deu tempo de correr e morreu ao lado da caixa d’água da mãe dela. Os moradores estão comigo. Não é vereador, não é prefeito, não é governador. São os moradores” disse a mãe indignada.
Ana Lúcia afirmou que vai luta por justiça: “Não somos lixo, minha filha vai ter justiça. Vou lutar por elas, vou até o fim pelos meus filhos, pela minha sobrinha”.
As duas meninas foram enterradas no dia 5 de dezembro, no cemitério Nossa Senhora das Graças, também em Duque de Caxias. O enterro ocorreu sob forte comoção. O pai de Emily, que trabalha como pedreiro, ajudou a enterrar a filha. Ele desmaiou diversas vezes durante a cerimônia. Na hora de fechar o caixão o pai desabafou: “É isso aí que a gente leva, ó. Duas crianças, minha filha, minha sobrinha. Tô acabando de enterrar, isso fica aí pra comunidade, pros governadores”.
A Delegacia de Homicídios da Baixada Fluminense (DHBF) apreendeu cinco pistolas e cinco fuzis que estavam em porte dos agentes que estavam na região em que as meninas foram assassinadas, para fazer a perícia. Os PMs também prestaram depoimento.