Moradores enfrentam repressão durante protesto contra morte de ambulante. Foto: Banco de Dados AND.
Moradores de Niterói, na região metropolitana do Rio, se revoltaram com o covarde assassinato do jovem trabalhador ambulante, Hyago Macedo de Oliveira Bastos, de 21 anos, no dia 14 de fevereiro. O trabalhador foi assassinado com um tiro à queima-roupa pelo policial militar Carlos Arnaud Baldez Silva Júnior, após uma discussão sobre vendas de balas. O militar, que estava à paisana, disse que se sentiu ameaçado e por isso atirou em Hyago, um homem desarmado.
Logo após o assassinato, trabalhadores indignados com tamanha covardia fizeram um combativo protesto e fecharam a avenida Visconde do Rio Branco. Os manifestantes montaram barricadas e colocaram fogo em objetos. Agentes da Polícia Militar (PM) e da Guarda Municipal (GM) reprimiram a massa revoltada com golpes de cassetetes e jatos de sprays de pimenta. Quatro trabalhadores foram detidos pelas forças de repressão. Uma filmagem do monopólio de imprensa SBT, mostrou um GM chamando um manifestante negro que estava sendo detido de “macaco”, o que configura crime de racismo. Também durante o protesto, um outro guarda foi flagrado atirando spray de pimenta em uma criança de colo.
O policial foi levado para a Delegacia de Homicídios de Niterói, São Gonçalo e Itaboraí (DHNSGI), onde foi protegido por agentes que fizeram um cordão de isolamento em volta da unidade para impedir as centenas de trabalhadores que protestavam do lado de fora e ameaçavam invadir o local.
Manifestantes protestam em frente a delegacia de homicídios contra o assassinato deHyiago e pela liberdade dos trabalhadores detidos. Foto: Banco de Dados AND.
Hyago foi assassinado em frente ao terminal da Barcas, onde trabalhava. Foto: Reprodução
De acordo com testemunhas, Hyago foi assassinado logo após uma discussão. Um homem acusou os vendedores de balas que atuam na estação de serem ladrões. Com isso, Hyago e o homem acabaram discutindo, quando Carlos interviu. O militar também começou uma discussão com o ambulante, segundos depois o policial sacou a arma e deu um tiro no peito do ambulante, que morreu no local. Hyago trabalhava no local a dez anos, no momento do crime o ambulante estava junto com seu enteado de 15 anos que também vendia balas no local e presenciou todo o ocorrido. Segundo a esposa de Hyago, Thaís Conceição de Oliveira Santos, seu filho ainda está em estado de choque.
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A esposa do trabalhador disse que eles estavam planejando a festa da filha de 2 anos: “A gente estava planejando a festinha da neném, já tínhamos pago o salão. Hoje ele saiu pra trabalhar e não cometeu crime nenhum. Ele estava com uma caixa de doce na mão. Eu não sabia que vender bala hoje era um crime. Ele estava trabalhando. A minha filha vai fazer dois anos e sem pai”, questionou a mulher.
E continua: “Eu quero justiça. Que isso não fique impune. Que esse homem seja preso. Que ele não fique preso, igual quando eu cheguei aqui na delegacia e ele tá do lado de fora, andando pra lá e pra cá”, denunciou.
Hyago morava com a família na ocupação conhecida como Prédio da Caixa, porém foi despejado junto com sua família em 2019, pela prefeitura de Niterói. Com a expulsão a família passou a morar na comunidade Boa Vista.
Criança é atingida por spray de pimenta da guarda municipal de Niterói pic.twitter.com/LGYeE8gME9
— Brasil 247 (@brasil247) February 15, 2022