Jovem baleado na Vila do João, durante operação genocida do Bope, em 27/03
Uma operação ilegal e clandestina aterroriza agora um conjunto de favelas que integram o Complexo da Maré, na zona norte do Rio de Janeiro. A operação iniciou-se às 13h enquanto ocorria uma tradicional feira popular onde os trabalhadores, principalmente idosos, se reúnem para comprar comidas e itens de sobrevivência, contrariando até mesmo os tratados internacionais válidos para países em guerra.
A operação ocorre na Vila do João, Pinheiros, Salsa e Merengue e Esperança, todas favelas na Maré. A campanha de vacinação contra Covid-19, que ocorria na Clínica da Família Adib Jatene e no Centro Municipal de Saúde da Vila do João, precisou ser interrompida; assim como uma distribuição de cestas básicas, feita por voluntários e moradores, teve de ser cancelada.
Os militares chegaram já atirando, na entrada da Vila do João e da tradicional feira, provocando pavor geral em todos os presentes. “Covardia pura! Feira lotada, só deu tempo de correr”, denunciou um jovem morador da Vila do João, na internet.
Orquestrada pelo Batalhão de Operações Especiais (Bope) da Polícia Militar (PM), a operação já deu como saldo um tiro na cabeça de uma senhora, identificada como Nilda, na Vila do João, que por sorte foi atingida de raspão e foi encaminhada para a Unidade de Pronto Atendimento; e uma mulher, que estava escondida em sua própria casa, no Pinheiros. Outros quatro jovens foram alvejados e sequestrados pelos militares, que os empurraram para os veículos blindados da corporação. Até a redação dessa nota, ninguém sabia o paradeiro dos rapazes.
Em vídeos e fotos enviadas à Redação de AND, pode-se ver a fachada das casas repletas de sangue e vãs do transporte local atingidas por disparos de fuzis, enquanto moradores socorrem seus feridos ou lamentam as mortes de seus entes queridos. Em uma das fotos, um homem baleado pode ser visto caído ao chão, sem possuir armas ou nenhum outro flagrante. Durante o conflito iniciado pela operação, um dos militares foi alvejado e morto.
Os militares também estão entrando nas casas dos trabalhadores residentes nessas favelas, arbitrária e ilegalmente, promovendo toda sorte de abusos, agressões e humilhações públicas.
Segundo moradores, a suspeita é de que tal operação foi motivada pelo cancelado do baile que ocorre tradicionalmente na Vila do João – evento aproveitado pelos policiais para pedir o famoso “arrego”, ou suborno, para não provocarem desordens que impeçam a realização da atividade. Hoje, em específico, os organizadores do evento cancelaram sua realização por conta da grave situação pandêmica, decisão que teria motivado a operação de vingança e genocida.
Tais operações, além de escandalosamente criminosas ao justificarem-nas com o velho discurso de “guerra ao crime e ao tráfico de drogas” (tráfico que tem em sua cúpula os próprios policiais, além de grandes magnatas que moram longe das favelas, como latifundiários, grandes capitalistas e políticos, e contra os quais nada é feito), ainda vão contra a determinação do próprio Supremo Tribunal Federal, segundo a qual está vedada a realização de operações durante o estado de pandemia.