Bandeira de Israel em um mastro na favela de Vigário Geral, zona norte do Rio. Foto: Reprodução.
A disputa dos diferentes grupos e facções reacionárias, que buscam exercer o controle de territórios para aumentar seus negócios (drogas, serviços de internet e televisão, extorsão e grupos de extermínio), que tem por palco a cidade do Rio de Janeiro, especialmente na região metropolitana, ganhou novos contornos.
Paramilitares do morro do Quitungo, em Brás de Pina, na zona norte do Rio, se uniram a traficantes de drogas das comunidades de Vigário Geral, Parada de Lucas e Cidade Alta. Juntas as três favelas compõem o chamado “Complexo de Israel”, com adesão dos paramilitares do Quitungo, o complexo expande seus domínios.
A união foi firmada afim de somar forças em invasões a favelas dominadas pela facção Comando Vermelho (CV), que é rival tanto dos paramilitares, quanto dos traficantes do Terceiro Comando Puro (TCP), que domina o Complexo de Israel.
Paramilitares do morro do Quitungo exibem armas. Foto: Reprodução.
O acordo foi descoberto a partir de uma investigação da Polícia Civil, iniciada após a morte de dois paramilitares que tiveram seus corpos carbonizados no porta-malas de um carro, no Quitungo. Jhonatan Batista Vilas Boas Alves, o “Cepacol”, e José Mário Alves da Trindade, o “Cebolão”, segundo as investigações, eram contrários ao pacto e por isso foram assassinados.
Segundo afirmou um parente de um paramilitar em depoimento à Delegacia de Homicídios (DH), o acordo foi firmado, em maio de 2020, a partir de negociações intermediadas por traficantes que tiveram permissão dos paramilitares para visitar parentes que moram no morro do Quitungo. Paramilitares descontentes com a união foram expulsos do morro por seus comparsas, outros, ademais, foram assassinados.
Chefes do grupo paramilitar do Quitungo eram PMs e já tinham envolvimento em outros crimes
A investigação confirmou que os sargentos Zaqueu de Jesus Pereira Bueno, lotado no 7º BPM (São Gonçalo), e Gláucio Ferreira Gomes Damião, do 41º BPM (Irajá) e o cabo Carlos André de Oliveira Sodré, também do 7º BPM são alguns dos integrantes do grupo paramilitar que age dentro do Quitungo. As informações que levaram à identificação dos policiais militares (PMs), foram dadas pelos próprios moradores da comunidade. Os PMs tiveram suas prisões decretadas pela justiça.
O sargento Zaqueu, foi apontado pela investigação como chefe do grupo, ele já foi preso em 2014, acusado de ser o autor do disparo que matou Cláudia Silva Ferreira, dona de casa e mãe de oito filhos, que depois de baleada foi arrastada por 350 metros pendurada no para-choque de uma viatura da PM, em uma cena bárbara que revoltou as massas por todo o país.
Ainda que tenha ocorrido a prisão de Zaqueu e outros 5 militares pelos crimes acima mencionados, todos eles respondem, hoje, em liberdade, após serem liberados poucos meses depois. A primeira audiência sobre o caso ocorreu somente em março de 2019.
O sargento Zaqueu Bueno, de camisa azul e portando um fuzil, é apontado como chefe do grupo paramilitar do Quitungo e um dos assassinos de Cláudia. Foto: Fábio Guimarães.
Outra revelação da investigação foi o elo existente entre o grupo do Quitungo, e o “Escritório do Crime”, famosa quadrilha de matadores de aluguel, fundada pelo ex-capitão do Batalhão de Operações Especiais (Bope), Adriano Magalhães, assassinado em 2019, sob condições suspeitas. O Escritório do Crime é apontado como a organização paramilitar que planejou e executou a ação que assassinou a ex-vereadora do Psol Marielle Franco, em março de 2018.
Uma testemunha identificou o ex-cabo da PM Anderson de Souza Oliveira, o “Mugão”, como integrante do grupo paramilitar e como responsável pela instalação e cobrança do gatonet na favela. “Mugão” teve a prisão decretada em junho de 2020, acusado de ser integrante do Escritório do Crime, ele está foragido desde então.
Complexo de Israel
O Complexo de Israel foi fundado em meados de 2020 por Álvaro Malaquias Santa Rosa, o Peixão, chefe do tráfico de drogas na região. O complexo abrange favelas dos bairros de Parada de Lucas, Cidade Alta, Cordovil, Guaporé, Cinco Bocas e no Quitungo, no local moram aproximadamente 200 mil pessoas.
Nas áreas dominadas pelo grupo, bandeiras e símbolos do Estado genocida de Israel, como a estrela de Davi, são usados para demarcar os territórios.
O fundamentalismo religioso dos traficantes ditos evangélicos, chega ao ponto de proibir cultos a outras expressões religiosas, principalmente das religiões de matriz africana com umbanda, candomblé e etc. Segundo denúncias, pais e mães de santo (babalorixás e ialorixás) foram expulsos das favelas.
Em 2019, “Peixão” e seus comparsas destruíram um centro de umbanda em Nova Iguaçu, na baixada fluminense, na fachada do lugar eles picharam a frase: “Jesus é o dono do lugar”. Até símbolos católicos são atacados, como quando Peixão ordenou que seus homens quebrassem uma estátua de Santa Edwiges, na favela Cinco Bocas.
Estrela de Davi com iluminação foi colocada no alto da favela Cidade Alta, que forma o chamado Complexo de Israel. Foto: Reprodução.