O prefeito Waguinho de Belford Roxo nomeou o paramilitar Juracy Alves Prudêncio, o “Jura”, para um cargo comissionado na secretaria Municipal de Defesa Civil e Ordem Urbana do Município em 2017; “Jura”, entretanto, cumpre pena de 26 anos de prisão pelos crimes de associação criminosa e homicídio. Segundo as sentenças que condenaram o ex-sargento da PM, ele era chefe do “bonde da jura”, grupo acusado de uma série de homicídios na Baixada Fluminense. A informação da nomeação foi divulgada somente em 2020.
Juracy foi nomeado como assessor de gabinete da secretaria no dia 1º de agosto de 2017 sendo que, três meses antes, o ex-PM havia conseguido na justiça passar do regime fechado para o semiaberto. Após obter o benefício, “Jura” pediu permissão à Vara de Execuções Penais (VEP) para trabalhar fora do cárcere como Diretor do Departamento de Ordem Pública da Prefeitura. A permissão foi concedida no dia 12 de julho de 2017.
De acordo com a decisão da juíza Cristina de Araújo Góes de Lajchter, o paramilitar teria que cumprir “horário de trabalho das 8h às 17h, de segunda a sexta, incluindo 1h de almoço, e sábado das 9h às 14h, mediante controle de presença por folha de ponto, sendo autorizado a saída duas horas antes e o retorno duas horas após as atividades”.
“Jura” estava preso desde 2009 quando foi o principal alvo da Operação “Descarrilamento” da Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas (Draco), que identificou nove policiais integrantes do “Bonde do Jura”.
De acordo com investigações, o bando, além de extorquir moradores e comerciantes e ter monopólio da exploração de TV, gás e transporte alternativo em áreas de quatro cidades da Baixada, tinha pretensões eleitorais. Em 2008, “Jura” foi candidato a vereador de Nova Iguaçu pelo Partido Republicano Progressista (PRP), com 9.335 votos. Ele não conseguiu se eleger. De acordo com a investigação, o ex-PM usou a estrutura do grupo paramilitar para fazer campanha.
A prefeitura de Belford Roxo em nota alegou que “Jura”, apesar de ter sido nomeado, “nunca tomou posse, ficando assim sua nomeação sem efeito”. A prefeitura informou que “nunca pagou salários” ao ex-PM, já ele não foi encontrado para falar do assunto.
O poder de paramilitares na Baixada
Um inquérito aberto nos últimos meses investiga a participação do subcomandante de um Batalhão da zona norte do Rio em uma milícia, apoiando-a em uma disputa por territórios contra outros grupos delinquentes. Segundo a corregedoria, o oficial ordenou operações do batalhão em uma favela com o pretexto de intensificar o “combate ao tráfico”, mas na verdade a ideia central seria enfraquecer o grupo dominantes para facilitar a entrada de outros delinquentes: os paramilitares.
O caso mais recente envolvendo policiais e paramilitares chegou a ser investigado pela corregedoria e foi o caso de furto de petróleo da Petrobras. O crime teve a participação de um policial militar e o seu envolvimento em a organização criminosa veio a tona no dia 05/11 de 2019.
Um dos cinco presos na ação, o sargento Paulo Roberto Ramos Filho Junior, que estava lotado no 8º Batalhão da PM (Campos dos Goytacazes), se beneficiava do cargo para garantir a segurança das ações de paramilitares. Com isso fica-se evidente que os grupos varejistas de drogas e os paramilitares (“milícias”) atuam da mesma forma e estão cada dia mais aparados por lideranças do sistema político.
Em 2016, na última eleição municipal, já havia informações de toda uma expansão e participação dos paramilitares na política e de controle de muitos comércios; hoje temos um quadro de penetração na economia e na política muito grandes, aumentando o poder desses bandos.
Juracy Alves Prudêncio, o “Jura”, condenado a 26 anos de prisão por associação criminosa e Homicídio.