Policiais militares do Batalhão de Operações Especiais (Bope) e Batalhão de Ação com Cães (BAC) levaram terror aos moradores do Complexo da Maré, na zona norte do Rio de Janeiro, durante uma operação policial realizada na manhã do dia 26 de abril. Durante a operação, uma moradora foi mantida em cativeiro por policiais, casas e carros foram arrombados, escolas, clínicas da família e uma vila olímpica suspenderam as atividades e pequenos comerciantes foram impedidos de trabalhar. Essa foi a quarta operação policial realizada no Complexo da Maré somente no mês de abril.
A operação iniciou às 5h40 da manhã com a chegada de policiais militares e veículos blindados (caveirões) no Complexo. Moradores que saíam para trabalhar foram submetidos a riscos de morte ou graves ferimentos pelos tiros disparados logo no início da operação. Registros da operação foram feitos nas favelas do Parque União, Rubens Vaz, Parque Maré, Tijolinhos, Morro do Timbau, Pinheiro, Sem Terra e Nova Holanda.
Além dos sérios riscos oferecidos, moradores registraram ações de deliberado terror contra o povo. Uma família inteira que teve a casa invadida por policiais foi mantida em cativeiro durante mais de meia hora pelos militares. Vários outros moradores denunciaram casos de invasão de casas, arrombamento de carros e destruição de seus bens como resultado da operação terrorista. Em um dos casos, um morador que havia acabado de chegar do trabalho encontrou sua casa arrombada.
A operação de guerra promovida pelos militares impediu ainda o funcionamento de escolas, clínicas da família e centros de atividade desportivas. Ao menos 12.549 alunos de 35 escolas foram impedidos de estudar durante o dia. As Clínicas da Família Jeremias Moraes da Silva e Augusto Boal interromperam os serviços, deixando centenas de desassistidos. A Clínica da Família Diniz teve que cancelar os atendimentos domésticos por conta da operação. Além disso, todas as atividades da Vila Olímpica da Maré foram canceladas.
Quarta operação em um mês
A incursão promovida no dia 26/04 é a quarta operação policial realizada no Complexo da Maré somente no mês de abril. No dia 05/04, militares do Bope e do BAC promoveram uma ação terrorista contra os moradores da Maré. Iniciada às 5h da manhã, a operação impediu 5.519 alunos de 16 escolas de comparecerem às aulas, impediu a realização da tradicional celebração de Páscoa realizadas por professores e estudantes e ainda invadiu uma das escolas. Na ocasião, dezenas de crianças que ocupavam o pátio da escola fugiram aterrorizadas pelo assalto dos policiais que invadiram o prédio com o uso de caveirões e bombas de gás lacrimogêneo.
Já no dia 14/04, agentes da Polícia Civil promoveram nova incursão no complexo de favelas. Os policiais usaram caveirões e blindados, promovendo terror às massas moradoras da região. Como resultado, um evento na Casa de Mulheres da Maré foi interrompido pela operação, que forçou as 70 participantes do encontro a deitarem no chão para não se tornarem alvo dos tiros disparados.
Dois dias depois, às 00h de um domingo para segunda-feira, agentes da Polícia Militar (PM) e do Bope retornaram ao Complexo da Maré. A operação de guerra durou toda a madrugada e ocupou parte da manhã da segunda-feira (17/04). Como resultado, um morador foi assassinado, um foi baleado, 8.274 alunos de 27 escolas foram impedidos de estudar e diversos moradores foram ameaçados ou intimidados pelos militares.
Uma moradora afirmou que se trancou em uma Clínica da Família com crianças que estavam no prédio para tentar se proteger, mas mesmo assim não conseguiu escapar do terrorismo promovido pelos policiais. Os agentes da PM invadiram o prédio e um deles colocou o fuzil na cara da moradora e ameaçou a ela e as crianças de morte. Em outros pontos do Complexo, moradores que estavam em momentos de lazer ou atividade religiosa tiveram que sair correndo para não se tornarem alvos de bombas de gás atiradas pelos militares.
Guerra contra o povo
Essas quatro operações em um único mês na Maré simbolizam um incremento do cenário assombroso de guerra reacionária imposta pelas forças de repressão do velho Estado brasileiro contra as massas das favelas e periferias. Longe de diminuir, o número de crimes cometidos pelos matadores e torturadores das polícias brasileiras aumentam ano após ano.
No ano de 2022, o número de assassinatos por policiais nas operações policiais realizadas na Maré cresceu em 145%. Desses assassinatos, 89% contavam com sinais de execuções sumárias, nas quais as vítimas foram assassinadas sem oferecer risco algum aos assassinos.
A ação terrorista da PM e do velho Estado estão ocorrendo por todo o Rio de Janeiro e também pelo país. Segundo um boletim da Redes da Maré, ao menos 1.327 pessoas foram assassinadas em “mortes violentas” pelos matadores da PM do Rio de Janeiro. Fatos apontam para uma repetição desse cenário macabro no ano de 2023: somente no mês de março e abril, policiais deixaram cinco mortos no Jacarezinho e 11 mortos no Salgueiro.
Em todo o Brasil, o aumento dos assassinatos e execuções se repetem. Em São Paulo, as mortes cometidas por policiais tiveram um aumento de 25% somente nos dois primeiros meses de 2023. Destaca-se nesse estado o aumento dos assassinatos por policiais em funções paramilitares: no ano de 2022, PMs fora de serviço assassinaram 158 pessoas, 10% a mais que as 144 em 2021. No Paraná, dados registram que 488 pessoas foram mortas por policiais em 2022, um aumento de 17,3% em um ano. Já no Rio Grande do Sul, a violência policial registrou aumento de 41% no último ano. Em 2021, 3.290 pessoas foram assassinadas por policiais nos estados do Rio de Janeiro (1.356), Bahia (1.013), São Paulo (570), Ceará (125), Pernambuco (105), Maranhão (87) e Piauí (34). Os dados são oferecidos por um relatório da Rede de Observatórios da Segurança.
Terrorismo de Estado busca prevenir rebeliões
Essa realidade macabra sofrida pelas massas de todo o país revelam a estratégia contrainsurgente do velho Estado brasileiro. Incapaz de solucionar os efeitos da crise geral que assola o povo brasileiro, a saída para as classes dominantes é impôr o máximo de horror às massas de todo o país na vã tentativa de prevenir, pelo terror, rebeliões e protestos contra a miséria, a carestia de vida e pela conquista de seus direitos e liberdades democráticas negados cotidianamente.
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Desse modo, incrementa-se, dia após dia, o terrorismo de Estado contra as massas. Nas favelas, sobretudo do Rio de Janeiro, aumenta-se a frequência de chacinas com a utilização cada vez mais frequente de helicópteros e blindados como demonstração de força, buscando paralisar as massas que seguem denunciando a violência em suas comunidades. Para o velho Estado e seu aparato de repressão, o povo é o inimigo. Suas casas e seus bens estão ali para serem usados como bases temporárias ou serem destruídos e saqueados. Longe de serem sinal de despreparo policial, são evidências da estratégia contrainsurgente, e da falta de escrúpulos e limites da guerra reacionária.
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