Ainda às 3h da madrugada do dia 20, mais de 4 mil soldados das Forças Armadas e 70 policiais civis chegaram aos Complexos da Penha, Alemão e Maré, na zona norte do Rio de Janeiro, para outro dia de terror contra mais de meio milhão de pessoas que vivem na região. Centenas de milhares de moradores não puderam sair de casa em direção ao trabalho e muitos daqueles que tiveram chance de sair, encontraram suas casas destruídas e reviradas ao retornar, lembrando a trágica ocupação dos Complexos da Penha e do Alemão em dezembro de 2010, quando ao menos 19 pessoas foram mortas. Três soldados também foram baleados e dois deles morreram.
Nos Complexos do Alemão e Penha, ao menos seis pessoas foram mortas pelo Exército. Inicialmente, o número divulgado pelo próprio Comando Militar do Leste foi de 11 mortos, mas misteriosamente o número foi corrigido horas depois. Moradores dizem que outros corpos foram escondidos por soldados no alto da Serra da Misericórdia, que divide os dois complexos de favelas. À noite, vários pontos do Complexo do Alemão e Vila Cruzeiro, na Penha, estavam sem luz por conta de transformadores que foram destruídos por disparos de fuzil. No final da manhã, moradores protestaram bloqueando a Linha Amarela e incendiando ao menos um coletivo.
Complexo da Penha foi um dos complexos ocupados por militares, 20/08. Foto: Divulgação.
“Várias moradoras do Complexo do Alemão e do Complexo da Penha procuraram integrantes de nossa equipe para informar que há corpos na mata que liga as duas favelas, mas que a Polícia Civil e o Exército não estão deixando familiares se aproximarem. Precisamos nos posicionar em prol do morador, da moradora, das crianças e jovens da favela, que no dia de hoje receberam o terror em forma de política pública”, divulgou em nota pública nas redes sociais o Coletivo Papo Reto, formado por comunicadores que vivem no local.
“Eu saí para trabalhar e descobri que estavam fazendo uma operação na Penha. Daqui a pouco, meus vizinhos começaram a me mandar mensagens pelo Whatsapp dizendo que estavam quebrando minha casa toda e até minha cachorra já estava na viatura. Só não levaram a bichinha porque meu vizinho não deixou. O restante, só comprando de volta.”, denunciou o motoboy Sergio Rodrigues, pelas redes sociais. E completou: “O ódio deles é contra pobre, não é contra traficante. Eles vêm na favela humilhar quem é pobre, porque do traficante mesmo eles passam longe, morrem de medo. Aí sobre para quem é trabalhador, que perde tudo, é humilhado e até pode tomar um tiro e morrer.”.
No Complexo do Chapadão, também na zona norte, pelo menos um morador foi assassinado durante uma operação de guerra da polícia, segundo denúncias de moradores. O homem, ainda não identificado, aparentava ter 45 anos e trabalhava no comércio local.
Morador do Chapadão executado em operação, 20/08. Foto: Divulgação.
Em todas as localidades houve denúncias de abusos cometidos pelas Forças Armadas, como invasão de residências, revista íntima em mulheres, inspeção arbitrária em celulares e até ofensas.
Casa do morador Sérgio Rodrigues, na Penha, após operação de guerra. Foto: Divulgação.