Entre os dias 28 de abril e 2 de maio, centenas de famílias camponesas de dois importantes estados do nordeste, do Rio Grande do Norte (RN) e Bahia (BA), tomaram terras de quatro latifúndios e também ocuparam a sede de uma empresa baiana responsável por promover um despejo de terra dias antes. Um total de 430 famílias participaram das tomadas de terras nos dois estados em meio a um impulsionamento da luta pela terra por todo o país.
Tomadas de terras de semana a semana, com envolvimento de centenas de famílias camponesas, são consequência e atiçadas pela crise mais agonizante do capitalismo burocrático no país, em que a inflação, a cesta básica e o endividamento crescente de mês em mês. No primeiro trimestre de 2023, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), cresceu o desemprego no país. Diante dos altos preços de aluguéis, víveres e falta de vagas de emprego nas cidades, junto da grande quantidade de camponeses que já se encontram sem ou com pouca terra, mais e mais famílias se voltam à necessidade de tomar as terras do latifúndio para nelas viver e trabalhar.
Centenas tomam latifúndios no Rio Grande do Norte
No RN, três latifúndios foram ocupados por centenas de famílias. Além disso, em Macaíba (RN), na região metropolitana da capital potiguar, 70 famílias camponesas tomaram uma área improdutiva pertencente à prefeitura do município na noite do dia 28/04.
No dia seguinte, outros dois latifúndios foram ocupados por 230 famílias: a fazenda Terra Nova, na cidade de Riachuelo, e a fazenda Ubatuba, no município de Ielmo Marinho. Nesta última, camponeses já haviam tomado uma parte de suas terras em 2009 em resposta à exploração do latifúndio.
Luta pela terra prossegue na Bahia
Camponeses ocuparam, no dia 02/05, a sede da Companhia de Ferro das Ligas da Bahia (Ferbasa), empresa que atua nas áreas de mineração, produção de eucalipto e metalurgia, em Maracás. A mobilização ocorreu após a empresa ordenar uma operação de despejo contra os camponeses no dia 27/04, em um latifúndio abandonado de sua posse, no município de Planaltino (BA). Os camponeses estavam na terra desde 30 de março.
Na região da Chapada Diamantina, no município de Boa Vista do Tupim (BA), 130 famílias camponesas tomaram, na madrugada do dia 29/04, a Fazenda Boa Esperança, abandonada há 18 anos e que possui uma extensão de 1.300 hectares de terra improdutiva. As ocupações no RN e BA foram organizadas pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).
Contra a crise, camponeses tomam terras do latifúndio
As 430 famílias mobilizadas nas tomadas de terras nos dois estados totalizam dois mil camponeses mobilizados em tomadas de terra apenas na semana entre o dia 28/04 e 02/05 nesses locais.
A quantidade de famílias de camponeses pobres, sem terra ou pouca terra, que lutam por um pedaço de terra para nela viver e trabalhar ultrapassa dezenas de milhares. Somente em São Paulo, desde o início do ano, foram 1.674 famílias mobilizadas em tomadas de terras. Em Pernambuco, foram 11 mil camponeses. Na Bahia, desde o início deste ano, são mais de quatro mil famílias mobilizadas em tomadas de latifúndios no estado.
A urgência da Revolução Agrária
As tomadas de terra atuais são parte da grande mobilização camponesa que explode por todo o país iniciada pelas grandes batalhas na Área Tiago Campin dos Santos, em Rondônia. Dirigidas pela Liga dos Camponeses Pobres, milhares de famílias derrotaram três campanhas de cerco e operações de despejo que contaram com 3 mil policiais, helicópteros e outros meios de repressão dirigidos pelo Exército. As famílias defenderam seu pedaço de terra e hoje vivem e produzem na área Tiago Campin dos Santos.