RO: Camponeses do Acampamento Manoel Ribeiro celebram um mês da tomada do latifúndio Nossa Senhora

RO: Camponeses do Acampamento Manoel Ribeiro celebram um mês da tomada do latifúndio Nossa Senhora

Reproduzimos abaixo notícia do Jornal Resistência Camponesa sobre a celebração de um mês da tomada do latifúndio Nossa Senhora.

Celebração de 1 mês da tomada do latifúndio Nossa Senhora lota barracão no Acampamento Manoel Ribeiro. Foto: Resistência Camponesa.

O evento contou com a presença de camponeses das áreas vizinhas, além de movimentos populares e ativistas apoiadores da luta pela terra: professores, estudantes operários e intelectuais honestos vindos de outras cidades, incluindo da capital, Porto Velho.

Todos os acampados compareceram ao animado evento que lotou o barracão da Assembleia Popular.

Após entoar “A Internacional”, hino do proletariado que une operários e camponeses em todo mundo, o evento celebrou os 25 anos da Heroica Resistência Camponesa de Corumbiara e prestou homenagens aos seus heróis, camponeses que tiveram seu sangue derramado na luta pelas terras da Fazenda Santa Elina.

Erguendo cartazes com as imagens dos heróis, os camponeses declamaram a poesia “Os Homens da Terra”, de Vinícius de Moraes.

Também foi feita uma singela homenagem a Manoel Ribeiro, ativo apoiador das famílias que tomaram o latifúndio Santa Elina em 1995 e que, por este motivo, foi covardemente assassinado por pistoleiros naquele mesmo ano. Foi lida uma breve descrição da vida e luta deste herói do povo brasileiro e exibido um cartaz com sua foto.

Os convidados saudaram a luta do Acampamento Manoel Ribeiro, denunciaram a criminosa operação de repressão movida pelo velho Estado contra os camponeses sob o nome de “Garantia da Lei e da Ordem” (GLO) da Amazônia e expuseram a importância de tomar todas as terras do latifúndio como solução para a grave crise do país em meio à pandemia, que já produziu mais de 50 milhões de desempregados.

Além das falas dos apoiadores e entidades presentes, os camponeses também fizeram intervenções nas quais mostraram decisão de seguir a luta e gratidão pelo apoio vindo da cidade.

Os trabalhadores expuseram os motivos que os levaram a lutar por um pedaço de terra: a busca por trabalho e dignidade para suas famílias.

– Estou aqui em nome dos meus filhos, de 4 e 13 anos. O pedaço de terra é para eles. E sempre me lembro dos meus pais que sonharam a vida inteira com uma terra, mas morreram sem ter esta alegria, afirmou uma camponesa.

– O que me incentivou é que aqui estamos dando oportunidade para os jovens, o que na cidade não tem. Lá eles terminam os estudos, mas não tem emprego, muitos acabam nas drogas ou roubando, explicou um pai de família.

– Sou da Área Zé Bentão, consegui um pedaço de terra graças à luta. Já fui acampada e sei a dificuldade que é. Por isso estou aqui hoje, para retribuir o apoio que tivemos também em 2010, relatou outra camponesa.

Os camponeses lembraram de suas histórias de vida e como ingressaram na luta pela terra:

– Minha mãe veio primeiro. Ela me animou e minha irmã. Hoje somos ao todo 11 na ocupação, contou uma camponesa explicando como chegou ao acampamento.

– Antes de vir acampar, não sabia a verdade, apenas ouvia falar que era baderna, coisa de vagabundo. Mas o que eu vi foi pessoas buscando ensinar os filhos a trabalhar. Vi muita união e pessoas acolhedoras, destacou uma senhora, bastante animada.

Outra camponesa, lembrando da história que seus pais lhe contavam, relatou como o velho Estado se utilizou da força de trabalho dos camponeses pioneiros de Rondônia afim de abrir caminho para o estabelecimento do latifúndio nas terras já limpas: – O professor falou a verdade, os grandes fazendeiros se fizeram às custas do suor, sangue e lágrimas dos camponeses. Quando meus pais chegaram em Rondônia tiveram que derrubar de machado, sofreram muito, sem nenhum apoio do governo e acabaram tendo que vender a terra de graça. Depois tinham que implorar por uma diária para poderem comprar um pacote de açúcar pra gente.

Os presentes também denunciaram os crimes do latifúndio, as enganações do Incra e reafirmaram que somente através da luta é possível conquistar o sonho da terra.

– O Incra não dá terra, só a luta. Se nós não tivéssemos entrado na terra não teriam as áreas que têm aqui hoje – cravou um camponês, referindo-se às áreas revolucionárias Zé Bentão, Renato Nathan, Alzira Monteiro e Alberico Carvalho Maranatã I e II, conquistados em 2010 com a tomada da maior parte da antiga Fazenda Santa Elina.

– Nosso hino nos ensina: “Quem gosta de nós somos nós e aqueles que vêm nos ajudar”. Nos traz muito vigor sabermos que temos divulgadores firmes, mostrando como se conquista a terra – declarou firmemente uma camponesa. E prosseguiu: – Latifúndio só traz desgraça e o Incra não dá terra pra ninguém. Só conseguimos com luta. E quando conseguimos, não apenas pegamos um lote para alimentar a nação, mudamos uma estrutura, distribuímos riqueza e a longo prazo destruímos a injustiça.

Durante a conclusão da celebração, quando perguntada sobre o que achou do evento, uma mãe de família apontou: – As palavras de ordem me marcaram. “Conquistar a terra para plantar”. Lembrei de mim, trabalhando pros outros e aguentando humilhação. As pessoas têm vontade de ganhar a terra para produzir, ter casa, seu ganho.

Camponeses, operários e intelectuais honestos cantaram as canções de luta e gritaram as palavras de ordem com bastante vigor, demonstrando a elevada consciência e decisão de luta combativa.

O ato foi encerrado com um lanche preparado por camponeses das áreas revolucionárias vizinhas, em demonstração de apoio ao novo acampamento.

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