Reproduzimos abaixo denúncia repercutida através do Jornal Resistência Camponesa sobre intimidação policial sobre o Acampamento Manoel Ribeiro e redondezas após tomada das últimas terras de Santa Elina que ocorreram 25 anos após a histórica Batalha de Corumbiara.
Famílias inteiras lutam pelo sagrado direito à terra para viver e trabalhar. Foto: Resistência Camponesa
As famílias do Acampamento Manoel Ribeiro enfrentaram mais uma tentativa de intimidação da polícia a serviço do latifúndio, no dia 6 de setembro, no interior de Rondônia. Estes camponeses lutam pelas terras do latifúndio Nossa Senhora Aparecida, localizado no município de Chupinguaia (a cerca de 675 km de Porto Velho), uma das últimas partes da antiga fazenda Santa Elina, onde ocorreu a Heroica Resistência Camponesa de Corumbiara.
Na tarde daquele domingo, um helicóptero do Núcleo de Operações Aéreas (NOA) das polícias civil e militar fez vôos rasantes sobre o Acampamento. Com a aproximação da aeronave, equipada com o que pareciam ser armas de grosso calibre, camponeses dispararam fogos de artifício para alertarem acampados e apoiadores.
Ao invés de assustar as famílias em luta pela terra, o sobrevoo da aeronave deixou a todos em alerta e prontidão para resistir diante de uma possível tentativa de despejo. Organizados e dando mostras de sua combatividade, os camponeses rapidamente cobriram os rostos a fim de impedir a identificação e perseguição por parte dos policiais que usualmente se utilizam-se de helicópteros para fazer a identificação de territórios e indivíduos antes de operações de invasão.
As famílias também empunharam bandeiras vermelhas e gritaram palavras de ordem, frente à tentativa de intimidação.
Neste dia 6 de setembro o Acampamento Manoel Ribeiro completou vitoriosas três semanas de resistência, e a cada dia mais e mais pessoas se somam à luta pela conquista das últimas terras da antiga Fazenda Santa Elina.
Assista o vídeo:
PM invade lotes e casas, ameaça e humilha trabalhadores vizinhos ao Acampamento Manoel Ribeiro
Dias depois da intimidação promovida pelos militares através de um helicóptero do NOA, uma operação injusta, covarde e abusiva da Polícia Militar (PM) fez uso de duas viaturas e um helicóptero para ameaçar camponeses vizinhos ao Acampamento Manoel Ribeiro, na manhã de 11 de setembro.
Os policiais militares invadiram propriedades e residências, ameaçaram e torturaram famílias. Ao mesmo tempo, uma blitz arbitrária foi realizada, parando todos que passavam na estrada próxima à entrada da Fazenda Nossa Senhora Aparecida, no município de Chupinguaia. Esta é uma ação típica da PM de Rondônia na defesa do latifúndio ladrão de terras públicas e na criminalização de todo o campesinato no entorno de acampamentos, na tentativa de isolar os camponeses em luta pela terra.
Em menos de 1 semana, duas operações com uso de helicópteros da polícia de Marcos José Rocha/PSL foram lançadas contra o Acampamento Manoel Ribeiro. Foto: Resistência Camponesa
Vindo da direção de Vilhena, o helicóptero sobrevoou várias vezes o Acampamento Manoel Ribeiro e depois pousou em uma região que, segundo relatos, seria próxima ou na própria sede da fazenda Nossa Senhora Aparecida. Em seguida, a aeronave retornou ao acampamento em voos rasantes. Neste momento, uma família que cuida de uma das guaritas da fazenda vizinha Bela Manhã, curiosa com este evento incomum na região, filmou a aproximação do helicóptero com o celular.
Na tentativa de coibir qualquer registro da operação ilegal, policiais militares vindos em duas viaturas pularam a cerca da propriedade, apontaram armas de fogo para a cabeça do trabalhador, obrigaram-no a ajoelhar-se e invadiram a residência da família. Os policiais perguntaram insistentemente a localização da entrada para o Acampamento Manoel Ribeiro e sobre as lideranças, mesmo após o trabalhador explicar que é funcionário da fazenda e que desconhece qualquer informação sobre o acampamento. Toda esta truculência foi cometida na presença da esposa e dos dois filhos pequenos do pai de família. Os militares também fotografaram a todos sem permissão.
Ato contínuo, as viaturas deslocaram-se para o lote de um camponês vizinho ao Acampamento Manoel Ribeiro. Quatro policiais invadiram a propriedade sem autorização e apontaram armas de grosso calibre para toda a família. Os trabalhadores viveram momentos de terror e tiveram suas vidas postas em grave risco porque, devido ao voo rasante do helicóptero, não conseguiam escutar os policiais que apontavam as armas agressivamente, inclusive para as crianças.
Os policiais obrigaram todos a levar as mãos à cabeça, fizeram ameaças, perguntaram se sabiam informações sobre a ocupação e as lideranças, revistaram e fotografaram a família, bem como as placas dos veículos que se encontravam na residência. Dentre os que presenciaram a ação ilegal estava uma criança de apenas 7 anos de idade e um jovem, também menor de idade, que teve uma arma apontada em sua direção. Um dos agentes chegou a ameaçar o jovem dizendo que iria disparar contra ele caso não obedecesse as ordens. Uma espingarda de caça encontrada na propriedade foi levada pelas forças de repressão, arma comum entre camponeses para sua defesa e alimentação.
Denúncias dão conta ainda de que toda a ação arbitrária da polícia foi acompanhada pelo helicóptero. As invasões e ameças contra as famílias trabalhadoras, além de truculentas e covardes, foram cometidas sem a apresentação de qualquer mandado judicial, o que aponta para o caráter ilegal da operação.
Vários camponeses da região denunciaram também que nas últimas semanas a fazenda Nossa Senhora Aparecida contratou pistoleiros, sendo quatro desses policiais militares. Esta é uma prática comum da polícia, vide a Heroica Resistência Camponesa de Corumbiara, ocorrida nestas mesmas terras que pertenciam à antiga fazenda Santa Elina, quando a PM emprestou fardamento para pistoleiros e cometeu todo tipo de atos terroristas contra camponeses rendidos. Não é demais lembrar que estes crimes seguem impunes e que o atual secretário de segurança de Rondônia, José Hélio Cysneiro Pachá, era um dos oficiais responsáveis pelos crimes hediondos cometidos contra os camponeses, inclusive mulheres e crianças.
A operação teve clara intenção de intimidar os vizinhos a fim de reduzir o apoio dado aos camponeses em luta pela terra e, com isso, isolar o Acampamento Manoel Ribeiro. Mas, o que se pôde perceber na região foi que a ação arbitrária da polícia aumentou ainda mais a revolta popular. Indignados, os moradores relatam que nunca foram sequer incomodados pelos camponeses do Acampamento Manoel Ribeiro. Mas não podem dizer o mesmo da polícia.
Esta já é a terceira vez que policiais vão à região da tomada e a segunda que fazem incursões na área com o uso de helicóptero, indicativo de que preparam futuros ataques de maior porte. Até o momento nenhuma ordem de despejo foi entregue aos acampados.
Batida policial nas proximidades do Acampamento Manoel Ribeiro
A batida policial que interceptou veículos próximo à sede da Fazenda Nossa Senhora na manhã de 11 de setembro contou com o uso de três camburões da PM e também mostrou claros sinais de abuso. Motos e caminhonetes foram paradas, os motoristas foram obrigados a colocar as mãos na cabeça como se fossem criminosos, eram revistados e fotografados, assim como seus documentos e placas dos veículos. Um camponês relatou que ficou detido por aproximadamente uma hora na blitz e que foi insistentemente perguntado se tinha alguma relação ou sabia informações a respeito do Acampamento Manoel Ribeiro.