Encurralados por camponeses, policiais envolvidos na Operação “Erva Daninha” desencadeada em Rondônia em 17 de setembro, não conseguem invadir áreas camponesas e operação vira chacota. Quem relata o ocorrido é o latifundiário conhecido como Senador Amorim, ex-parlamentar denunciado por grilagem de terras sobre o Projeto de Assentamento (PA) Nova Floresta, palco do conflito.
A desastrosa operação, assim definida pelos seus próprios apoiadores, visa combater camponeses em luta pela terra, especialmente a Liga dos Camponeses Pobres (LCP) e conta com a Polícia Civil (PC), através das Delegacias Regionais de Ariquemes e Jaru, e com apoio operacional da PM (8ºBPM), Polícia Rodoviária Federal (Del03) e SESDEC (Núcleo de Operações Aéreas). Foram 117 policiais mobilizados para agir em ao menos seis municípios: Ariquemes, Monte Negro, Theobroma, Governador Jorge Teixeira, Campo Novo de Rondônia e Porto Velho.
A motivação da operação é expulsar os camponeses que retomaram “uma fazenda de aproximadamente 4 mil hectares”. Ainda de acordo com as forças de repressão, a área denominada “Fazenda Morro Alto” pertence ao ex-prefeito de Ariquemes, Ernandes Amorim. A área grilada está localizada nos municípios de Campo Novo e Governador Jorge Teixeira em meio ao PA Nova Floresta.
Reunidos, camponeses residentes no PA Nova Floresta se organizam. Foto: Reprodução
As famílias resistem e inimigos se desesperam
Mesmo após anos de conflito e o despejo ilegal coordenado por militares no início de 2021, as 380 famílias acampadas retornaram a área.
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Em entrevista a um dos portais satélites do latifúndio, o ex-senador Amorim revelou que os camponeses voltaram com forças redobradas. Ele disse também que era necessário desarticular a organização e prender os líderes com uma “ação policial forte”. O ex-senador, desesperado, foi até Brasília pedir auxílio para o velho Estado através do reacionário vice-presidente general Mourão e o seu Conselho Nacional da Amazônia.
Culpa no cartório: ex-senador Amorim desmente polícia
Contudo, mesmo após as tentativas de aliança com o velho Estado para manter as áreas griladas sobre sua posse, o ex-senador Amorim exige retratação da polícia e desmente que a área lhe pertença, apesar de alegar ter terras ocupadas pelos camponeses.
Em suas declarações, o latifundiário afirma: “A nota falta com a verdade, pois não tenho 4.000 alqueires de terras nessa região […] Esse número que narram ser propriedade minha não procede. Gostaria que a polícia se retratasse quanto a esta parte do conteúdo que distribuiu para impressa”.
117 policiais são destinados a operação apontada como chacota. Foto: Reprodução
As terras do PA Nova Floresta abrangem uma área de 22 mil hectares (ha), e no ano de 1989 após a desapropriação do latifúndio passaram a pertencer à União. Porém, houve uma expropriação posterior de 4 mil ha denunciada como grilagem praticada por Amorim. É esta a “Fazenda” que os policiais buscam reaver.
O longo histórico de crimes de Ernandes Amorim
O suposto dono de terras defendido pela operação, Ernandes Amorim é um parlamentar de longa data. Já ocupou o posto de senador, deputado federal, deputado estadual, vereador e prefeito de Ariquemes. Tão longo quanto o tempo de serviço para o velho Estado, é a ficha criminal do latifundiário.
Amorim, responde a 138 processos judiciais. Se tornou ex-senador em 2000, após a cassação do cargo por abuso econômico e político na campanha de 1994. Quatro anos depois foi preso por formação de quadrilha especializada em desvio de verbas públicas, formação de empresas fantasmas para ganhar licitações, grilagem de terra e exploração ilegal de minério.
Recentemente, em maio de 2021 seguindo a sanha, ele e sua filha, a ex-prefeita de Ariquemes, Daniela Amorim, foram condenados por improbidade administrativa nos processos de licitação para a construção de 13 escolas e uma creche.
Latifundiário e ex-parlamentar Ernandes Amorim, já foi preso por grilagem. Foto: Reprodução