Indígenas denunciam violência e violações de direitos em Rondônia. Foto: Banco de Dados AND
O novo Relatório de Violência Contra os Povos Indígenas do Brasil, organizado anualmente pelo Conselho Indigenista Missionário (Cimi), foi lançado em um evento que reuniu organizações populares, lideranças indígenas, dirigentes camponeses e representantes de entidades sindicais em Rondônia.
O documento aponta para um crescimento significativo da violência reacionária perpetuada pelo latifúndio e seus representantes realizadas com o aval do velho Estado burocrático-latifundiário contra os povos indígenas em todo país. Em 2021, no seu terceiro ano de governo e segundo ano da pandemia do Covid-19 no país, o governo militar genocida de Jair Bolsonaro e generais manteve a diretriz de paralisação das demarcações de terras indígenas, promoveu a destruição completa da saúde indígena, e impulsionou, através da conivência e do fortalecimento e apoio ao latifúndio, as chacinas e os covardes ataques aos povos indígenas. No ano, houve aumento em 15 das 19 categorias de violência utilizadas pelo Cimi em relação ao ano anterior (2020). Também foram registrados 176 assassinatos de indígenas por todo o país.
O Cimi afirma que, se “do ponto de vista da política indigenista oficial, essa postura representou continuidade em relação aos dois anos anteriores, do ponto de vista dos povos ela representou o agravamento de um cenário que já era violento e estarrecedor”. O relatório também afirma que, dentre os povos mais agredidos pelo avanço criminoso do latifúndio estão os Uru-Eu-Wau-Wau e Karipuna, ambos povos que vivem no território do estado de Rondônia. Durante o evento, representantes destas etnias destacaram o aumento da combatividade através das retomadas, da autodemarcação e utilização de autodefesa como principais táticas de luta utilizada pelos povos indígenas da região.
Uma das lideranças indígenas, Luis Cassupá, representante do povo Cassupá, afirmou: “Nosso povo Cassupá é vítima desse problema, vários outros povos que perderam seus territórios são vítimas dessa tentativa de dizimação. Daí se começa a violência contra os povos indígenas, a violência de retirar seus territórios, dizimar povos, jogar povos contra povos. Houve todo esse tipo de tentativa de violência contra os povos indígenas e nós conseguimos resistir a isso.”.
A liderança também denuncia a atuação de militares das Forças Armadas reacionárias na Fundação Nacional do Índio (Funai), como forma de seguir servindo aos interesses dos latifundiários e tentando desmobilizar os povos indígenas em luta por meio de campanhas demagógicas: “A violência hoje contra os povos indígenas é grande. Você tem dentro da Funai militares comandando, proibindo a nossa reivindicação”, denunciou o indígena.
Evento reuniu organizações populares, lideranças indígenas, dirigentes camponeses e representantes de entidades sindicais em Rondônia. Foto: Banco de Dados AND
Luis Cassupá ainda trata sobre a nomeação para responsável da Secretária Especial de Saúde Indígena (Sesai), o coronel da reserva do Exército Robson Silva: “Temos pessoas dentro dos órgãos como o Sesai, abafando as doenças, negando os atendimentos. Um exemplo é os povos indígenas que estão em contexto urbanos, é negado nosso direito à assistência e saúde, negaram nosso direito de ser indígena.”.
Apontando para o verdadeiro culpado da matança de indígenas, camponeses e quilombolas, a liderança afirma: “Quem tem culpa disso é essa política que o Estado brasileiro criou contra os povos indígenas, e essa política não vai parar enquanto a gente tiver pessoas no comando do país pensando contra o direito dos povos indígenas, tentando acabar com nós, apagar nossa identidade, apagar nossa história, tirar nosso território, nós vamos resistir.”.
Como resistência à situação de guerra que vivem os povos indígenas, em particular na região Norte do Brasil, eles próprios conformam grupos de vigilância e autodefesa, que fazem a segurança das aldeias contra invasões do latifúndio.
Através de inúmeras denúncias das etnias que resistem em Rondônia, comprovou-se que o Brasil que os povos indígenas querem não virá destes parasitas latifundiários e seu podre sistema político da farsa eleitoral. Surgirá, sim, por meio da união da luta dos indígenas, camponeses, quilombolas pela Revolução Agrária, único caminho capaz de dar a terra necessária aos povos indígenas, quilombolas e camponeses para que saiam de sua secular situação de exploração e miséria.
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O relatório pode ser acessado no portal do CIMI.