Atualizada em 24/11, às 11h44
Celebrada nacionalmente, a combativa greve de estudantes e professores da Universidade Federal de Rondônia (UNIR) tem importância histórica por seu caráter massivo e direção consequente que conseguiu pela primeira vez derrubar um reitor eleito.
Histórica Greve da Unir completa 10 anos em 2021. Foto: Banco de Dados AND
Em um cenário de gerenciamento do oportunismo que engessava a atuação do Movimento Estudantil por meio do aparelhamento de suas entidades nacionais, de políticas que apresentavam uma falsa valorização do acesso ao Ensino Superior como o Programa Universidade Para Todos (Prouni) e Reestruturação e Expansão das Universidade Federais (Reuni), em uma Universidade Federal no campo, de pouca expressão, explodia um grande movimento grevista que tem muito a nos ensinar.
É fato que naquela universidade, já se acumulava forças e a forja de um movimento estudantil combativo, que vinha de anos anteriores, com inúmeras greves de ocupação, que de certo modo foram temperando suas direções nas inúmeras lutas. Exemplo disso, a ocupação do prédio da reitoria em 2007, que impediu a realização da reunião do Conselho Universitário (Consun), sendo que a reitoria tomou uma decisão jamais vista desde os tempos do gerenciamento Militar, transferindo a reunião para o auditório do Sistema de Proteção da Amazônia (Sipam), na base aérea de Porto Velho, às portas fechadas.
Histórica Greve da Unir completa 10 anos em 2021. Foto: Banco de Dados AND
Fato inconteste é o de que a direção hegemônica da greve de 2011 foi da corrente Movimento Estudantil Popular Revolucionário (MEPR) que foi acusada pelo reitor Januário Amaral de ser uma “organização criminosa”, “baderneira”, “subversiva”, já que os ocupantes da reitoria cobriam o rosto quando da aproximação da reação e dos monopólios de imprensa. O próprio reitor acabou fazendo propaganda para aquela organização – na tentativa de criminalizá-los – em uma coletiva, quando pediu para que os monopólios pesquisassem os princípios da organização em sua página na internet.
A histórica greve durou mais de 77 dias, sendo que destes, 56 dias de ocupação do prédio da reitoria. “Não foi uma ocupação qualquer, como muitas ocupações de pós-modernos e pelegos”, afirmou um dirigente do MEPR à época. Os estudantes não só tomaram a sala da reitoria, mas o prédio da administração inteiro, que se situa fora do campus, no centro da cidade de Porto Velho. Com assembleias diárias dos ocupantes, formação de comissões, escala de guarda diuturnamente para proteger as entradas com barricadas montadas. Na ocupação era proibido consumir bebida alcoólica e uso de drogas. “Isso já era um diferencial frente a outros movimentos que transformam a luta em mero espaço de lazer inconsequente. Nossa posição afastou elementos atrasados das massas de uma luta que para nós era de suma importância”, afirmou outra estudante que participou da ocupação e era caloura à época.
Histórica Greve da Unir completa 10 anos em 2021. Foto: Banco de Dados AND
“Aqui não foi ocupação de brincadeirinha. Aqui estávamos preparados para resistir, como resistimos a todas as tentativas de desocupação. De fato, foi uma experiência que significou de fato, a instauração do co-governo estudantil em uma Universidade. Estávamos com consciência política e moral elevada, tínhamos o apoio de inúmeros professores democráticos, de organizações populares e da população em geral que nos apoiava. Não nos intimidamos com ataques e prisões. Estávamos dispostos a dar o nosso sangue até a vitória final”, foi enfática outra estudante que dirigiu a greve de 2011.
JUSTEZA DA LUTA E COMBATIVIDADE GARANTIRAM A VITÓRIA
Para a professora Marilsa Miranda de Souza, Secretária Geral do Regional Norte I do Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior (Andes), “aquela greve mobilizou todos os setores da Universidade, sobretudo docentes e estudantes, e teve um amplo apoio da sociedade civil a todas as reivindicações das categorias em luta”. A população em geral foi mobilizada para a defesa da universidade. A ocupação foi mantida com apoio de pais, comerciantes e até camponeses. Muitos sindicatos e associações, operários, comerciantes, donas de casa, ajudaram com alimentos, com água, com combustível (para um motor gerador de energia por algumas horas da noite, já que energia elétrica do prédio foi cortada pela administração), etc. Camponeses de áreas da Liga dos Camponeses Pobres (LCP) enviaram um caminhão de alimentos para a ocupação.
A greve da Unir de 2011, iniciou com as mobilizações do curso de Pedagogia no campus de Rolim de Moura (interior do estado) e com a mobilização dos estudantes da capital, Porto Velho. Durante essa greve do campus de Rolim se denunciou a compra superfaturada pela reitoria de um terreno por um valor elevado, o que causou uma grave ameaça de morte à professora Marilsa Miranda de Souza. Havia um cenário de sucateamento e total abandono dos campi, obras paradas e inúmeros problemas em diversos cursos da Universidade, sobretudo os do Reuni, Programa de Reestruturação e Expansão das IFES, criados sem planejamento e para atender interesses eleitoreiros de oligarquias locais, conchavos políticos e esquemas de empreiteiras. Além de todos esses problemas, havia um profundo processo de corrupção e desvio de verbas, especialmente na Fundação de Apoio à Universidade, a Fundação Rio Madeira (Riomar) em que o Reitor estava envolvido. Os grevistas organizaram um Dossiê com mais de 1.500 páginas de denúncias de irregularidades e enviaram ao Ministério da Educação (MEC) e ao Ministério Público Federal. As exigências não atendidas pelo então reitor Januário Amaral, a perseguição aos grevistas (um professor e três estudantes presos) e a intransigência do MEC, que tinha como ministro Fernando Haddad, transformaram as reivindicações pontuais e localizadas em um amplo movimento pelo “Fora Januário!” e atendimento de todas as reivindicações como condição sine qua non para que se encerrasse o movimento.
No dia 23 de novembro de 2011, Januário Amaral renunciou para não ser exonerado pelo MEC e, depois de comprovadas as denúncias e foi condenado por corrupção. Nos dias posteriores, o MEC, por meio da Secretaria de Ensino Superior (Sesu), negociou ponto a ponto as exigências do Movimento Grevista, que foi encerrada em 05 de dezembro daquele ano.
Histórica Greve da Unir completa 10 anos em 2021. Foto: Banco de Dados AND
VASTA PROGRAMAÇÃO MARCA A PASSAGEM DE 10 ANOS DA GREVE DA UNIR
O Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior (Andes), por meio de sua Regional Norte-I, organiza uma série de atividades que marcam a passagem de 10 anos da Greve da Unir. As atividades serão realizadas em parceria com o Diretório Central dos Estudantes (DCE) da Unir.
Foto: Reprodução
Para celebrar os 10 anos dessa histórica e combativa greve, a primeira atividade ocorreu no dia 22/11 e foi uma live do Movimento Docente, dirigida pela Secretária Geral do Andes – Regional Norte I. Ela teve participação de mais de 10 professores, de diversos cursos, que atuaram efetivamente na Greve. A live foi transmitida pelo canal do YouTube do Dce da Unir através do link https://www.youtube.com/watch?v=wlg6HfNPwU8.
Foto: Reprodução
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A segunda atividade será outra live do Movimento Estudantil, dirigida pelo Coordenador Geral do DCE/UNIR, ocorrerá no dia 23/11 no horário das 19h no horário de Rondônia (às 18h no horário de Brasília). A transmissão será pelo Canal do YouTube do Dce da Unir, através do link https://www.youtube.com/watch?v=6D8m7P5_GA0.
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O dia 24/11, quarta-feira, será dedicado a um Ato Político-Cultural promovido pelo Andes e Dce da Unir e reunirá professores, estudantes e população em geral nas escadarias do prédio da Unir/Centro, onde se situa a reitoria e setores administrativos da Unir. O ato, além das intervenções das organizações e manifestações dos grevistas de 2011, terá em sua programação a mobilização da categoria contra a PEC 32, finalizando com atrações culturais da cidade de Porto Velho e de artistas que sempre estiveram na defesa da Unir.
Foto: Reprodução
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