RO: Militares de facção criminosa que atuava contra camponeses e posseiros em Cujubim são presos

RO: Militares de facção criminosa que atuava contra camponeses e posseiros em Cujubim são presos

“Em nome de nosso governador Coronel Marcos Rocha agradecemos o empenho de cada um dos policiais”, afirmou o Secretário de Segurança de RO, coronel da PM José Hélio Cysneiros Pachá (ao centro da imagem) em abril de 2021. Foto: Reprodução

No dia 9 de agosto foram presos nove servidores públicos dos serviços de repressão, entre policiais militares (PM’s) e bombeiros, na operação Soldado da Borracha, levada a cabo pelo Ministério Público de Rondônia (MP-RO). A organização criminosa atuava como paramilitares a serviço do latifúndio. De acordo com as denúncias, os PM’s ameaçavam camponeses, queimavam residências, invadiam e roubavam terras, na zona rural de Cujubim, Rondônia.

O grupo, para realização dos crimes, contava com uma organização e com uma estrutura ordenada, inclusive com divisões das “tarefas”. As denúncias sobre ações de ataque aos moradores datam de ao menos um ano.

Parte dos integrantes da organização paramilitar moram em Ji-Paraná e atuam em Cujubim, região localizada entre dois acampamentos da Liga dos Camponeses Pobres (LCP), a 554 quilômetro do Acampamento Manoel Ribeiro, no município de Chupinguaia e a 324 km do Acampamento Tiago dos Santos, no município Nova-Mutum.

Os ataques do bando paramilitar

Os crimes aconteciam principalmente em uma região de Cujubim conhecida como Estrada do Chaules. Segundo as denúncias, em um fim de semana de agosto de 2020, os militares cometeram dois crimes consecutivos. Eles invadiram uma propriedade e incendiaram um armazém com o material de trabalho de um camponês. No dia seguinte, os paramilitares invadiram armados as residências e ameaçaram trabalhadores, expulsaram camponeses, obrigando-os a caminhar cerca de 10 quilômetros (km) até o perímetro urbano para pedir abrigo. 

Meses após, houve novo crime por parte dos pistoleiros. Em dezembro de 2020 ocorreu um incêndio em uma residência de camponeses na mesma região onde realizaram os crimes anteriores.

Estrada do Chaules 

O grupo paramilitar a mando de Chaules se instalou na região da Estrada do Chaules impedindo o livre acesso. Esta ação foi denunciada por 14 pessoas, entre camponeses e posseiros. E foi ali, nessa região, que aconteceram os principais crimes cometidos pelo bando paramilitar do latifúndio.

O nome da Estrada do Chaules faz referência ao latifundiário Chaules Pazzebon. Conhecido como “maior desmatador do Brasil”, há anos recebeu uma autorização do governo do estado de Rondônia para realizar a manutenção da estrada. Não houve qualquer mudança substantiva na estrada, mas mesmo assim ela era utilizada como praça de pedágio. 

Chaules possuía 120 madeireiras no norte do país e oficialmente era dono das seguintes empresas: CAMP Indústria Madeireira Ltda, CHP Indústria Madeireira Eireli e Muralha Indústria Madeireira Ltda, administrando também dois postos de gasolina em Rondônia e a sociedade de duas holdings, a CMI Participações S.A, voltada para aluguel de imóveis, e a MS Franquia, de gestão de ativos intangíveis não financeiros.

Natural de Capanema (PR), o latifundiário mudou-se para Ariquemes (RO) no ano 2000. Já estabelecido em Rondônia, obteve licença ambiental para explorar uma área equivalente a mil campos de futebol. Chaules já foi processado e condenado inúmeras vezes por crimes ambientais, além de ser processado por trabalho análogo ao escravo. Outras denúncias apontam que entre o período de 2005 e 2015 foram assassinados 18 ativistas com requinte de crueldade, crimes praticados por paramilitares de um grande esquema de madeireiros que incluía também a organização de Chaules.

O promotor do MP-RO, Marcus Alexandre de Oliveira Rodrigues, em entrevista ao portal Agência Pública afirmou que “um grupo armado liderado por Chaules se instalou em uma porteira, trancou-a, impedindo o livre acesso de uma via pública, e montou uma base com capangas armados, policiais militares e civis”, que era “um verdadeiro Estado paralelo na zona rural”, segundo o promotor Rodrigues. A publicação da Agência Pública está disponível clicando aqui.

História se repete 

Diante dos crimes absurdos, as denúncias e as ocorrências dos conflitos constantes que aconteciam e ainda acontecem em Cujubim e sem possibilidade de parcimônia por parte do judiciário em favor do latifúndio, as forças reacionárias oficiais foram obrigadas a investigarem o fato. A Operação Deforest foi deflagrada e junto com Chaules, mais 11 PM’s foram presos em um processo envolvendo uma organização paramilitar composta por policiais e coordenada pelo latifúndio.

Entre os presos estão os latfundiários Djyeison de Oliveira, dono de uma empresa de terraplanagem, José Socorro Melo de Castro, proprietário da Construtora e Transporte Melo e Castro Ltda – denunciada em um esquema de corrupção pela Prefeitura de Cujubim, em 2014 – e Marcelo Campos Berg,  dono de uma empresa de transporte rodoviário de carga que foi atuado em 2017, por transporte ilegal de madeira. 

O caso se assemelha ao já noticiado por AND no início deste ano, quando após o latifundiário Antônio Borges Afonso, contratar um bando de pistoleiros, incluindo PM’s, pagando R$ 900 por dia a cada um, para aterrorizarem os acampados e cometerem toda sorte de crimes, onde diante do escancaramento da situação o judiciário, acatou a denúncia da Defensoria Pública de Vilhena e decretou a prisão de vários pistoleiros, sendo quatro deles policiais.

Leia também: RO: Policiais militares guaxebas que aterrorizavam camponeses são presos em operação

Quem mais pode ser beneficiado com ações destes paramilitares?

Outro conhecido latifundiário envolvido com pistolagem e que também tem interesses na região de Cujubim é Galo Velho.

Segundo a Comissão Pastoral da Terra (CPT-RO) é provável que Antônio Martins dos Santos, conhecido como Galo Velho, seja o maior grileiro de terras pertencentes à União do Estado de Rondônia. Ele teria em seu poder uma área total de um milhão de hectares. Em 2005, o fato foi denunciado pela assessoria jurídica da CPT-RO em audiência pública do Senado da CPMI da Terra.

De acordo com a denúncia, as terras griladas foram adquiridas com a conivência do judiciário favorecendo o latifundiário com total impunidade. As áreas foram griladas com uso da violência por meio da pistolagem, das reintegrações de posse e expulsão de posseiros. Em 2003, na área Sol Nascente, em Cujubim, pistoleiros a mando de Galo Velho assassinaram os camponeses Cícero Ferreira Lima e de Edgar Trevisan, presidente de uma associação.

Atualmente, Galo Velho, apesar das inúmeras denúncias, ainda mantém sob posse grandes latifúndios localizados em Cujubim, Machadinho D’Oeste, Alto Paraíso e nos distritos do município de Porto Velho: União Bandeirantes e Nova Mutum.

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