Lucas Pereira do Espírito Santo, jovem de 21 anos executado sumariamente pela Polícia Militar do estado de Rondônia, foi enterrado no dia 4 de setembro. O Comitê de Apoio – Porto Velho (RO) acompanhou o velório junto da família. O crime ocorreu dois dias antes, em pleno sábado, quando Lucas e um amigo voltavam de um arraial que ocorria em uma praça na zona leste da capital.
No episódio, ambos os jovens foram abordados por uma viatura e empreenderam fuga por conta de o piloto possuir passagem pela polícia e ter medo de sofrer represálias. Durante a fuga, os jovens chegaram a considerar se entregar, mas logo foram alvejados por uma série de disparos por parte da guarnição dos militares. Ao encontrarem um terreno baldio, ambos desceram da moto e tentaram novamente fugir. O piloto conseguiu, mas Lucas foi assassinado com um tiro na cabeça.
As inconsistências do caso
Na sequência da execução, os policiais levantaram a versão de que Lucas teria revidado aos tiros da guarnição com uma arma de fabricação caseira. A história não contou com nenhuma comprovação, e a perícia não foi ao local para fazer o exame de balística e verificar a existência ou não de pólvora nas mãos do rapaz. Além disso, o amigo de Lucas em confidência ao Comitê de Apoio ao AND – Porto Velho, afirmou que ambos não estavam armados e que só não pararam porque a PM efetuou disparos em direção a eles.
Os familiares de Lucas, ao estranhar o fato do rapaz estar demorando a chegar em casa, começaram a ligar e mandar mensagens por volta da 00h30min. Por volta da 01h da madrugada Lucas teria respondido um de seus familiares com a mensagem de texto “sou eu”, o que causou estranhamento já que o jovem se comunicava apenas por áudio no WhatsApp.
Os professores de Lucas relataram a este comitê que o rapaz estava em processo de alfabetização na modalidade Ensino de Jovens e Adultos (EJA) na escola Ulisses Soares e que tinha dificuldades para ler e escrever. Outra coisa que chama atenção é que o segundo rapaz, que conseguiu fugir do local, afirma que o confronto ocorreu por volta da meia noite. Mas se a versão policial diz que o jovem foi baleado na abordagem, como poderia ter respondido as mensagens à 01h da manhã? Após muita insistência, um dos policiais atendeu a ligação da família para o celular de Lucas e contou o que aconteceu, pediu o nome completo e a idade do rapaz (não para identificá-lo no hospital, mas para colocar nas reportagens policiais dos sites da capital).
Outra coisa que alertou a família sobre todo o cenário no entorno da morte do rapaz, é que no boletim de ocorrência consta que Lucas sofreu apenas um disparo na testa. No entanto seu rosto tinha marcas de tortura, nariz quebrado, marcas de coronhada na face e muitos hematomas por todo o corpo, o que contesta a versão policial.
Além disso, funcionários que atestaram a morte do rapaz contaram à família que os policiais tinham comportamento bastante suspeito, querendo saber exatamente o que significava cada palavra que constava no laudo e aparentavam estar muito nervosos.
Os estudantes da Escola Ulisses Soares que conheciam Lucas estão bastante revoltados, sempre relatando que o rapaz era muito alegre, embora tímido, e raramente faltava às aulas. Os familiares e amigos de Lucas têm buscado junto a organizações populares e advogados do povo saber exatamente o que aconteceu no dia do assassinato do rapaz e querem que justiça seja feita e os culpados pela execução sejam punidos.