Robinson Crusoé entre os bilionários ou a nova ciência econômica

Imagine que a nave de um ser extraterrestre humanoide imortal colidiu desastrosamente com a Terra há pouco mais de 274 milhões de anos atrás, no período Permiano

Robinson Crusoé entre os bilionários ou a nova ciência econômica

Imagine que a nave de um ser extraterrestre humanoide imortal colidiu desastrosamente com a Terra há pouco mais de 274 milhões de anos atrás, no período Permiano

Imagine que a nave de um ser extraterrestre humanoide imortal colidiu desastrosamente com a Terra há pouco mais de 274 milhões de anos atrás, no período Permiano, última época da era Paleozoica, tendo se assentado em algum canto da Pangeia. Felizmente, não seria necessário que ele lidasse com os dinossauros, que ainda não teriam surgido. 

O náufrago do espaço, vindo de uma sociedade mais avançada, precisa produzir, distribuir e consumir, pois é isso que aprendeu; além disso, havia aprendido, junto aos maiores economistas de seu planeta, que a riqueza dos grandes proprietários de lá, homens injustiçados por uns tantos, advinha do esforço e da frugalidade. Os pobres, coitados, eram pobres porque não se esforçavam, gastavam sem juízo. Digamos, portanto, que ele produza, distribua e consuma, que ele é esforçado e frugal, pois aprendeu bem.

Por muito e muito tempo, solitário como forma inteligente, é o único a desempenhar tais atividades. Mas, finalmente, após uns 273.726.000 anos, isto é, há cerca de 274,5 mi anos, ele conhece um dos primeiros Homo sapiens, ainda acanhadamente buscando produzir o fogo para se proteger da glacialidade reinante, lutando contra bestas gigantescas, em pleno ponto médio da era Cenozoica. 

A forma de vida extraterrestre ensina a este homem, bondosamente, tudo que lhe poderia ensinar, tudo que aprendera e levara para a vida de sua civilização mais avançada. Ensina-lhe os valores da produção, da frugalidade e do esforço. Ao longo dos anos, tornam-se amigos e decide, também, lhe dar o dom da imortalidade. 

Para fins de experimentação, digamos que esses dois seres, o extraterrestre e o humano, abstraídos de toda sociedade civilizada – as primeiras sociedades mais organizadas e produtivas começaram a surgir há cerca de 12 mil anos, no translado do paleolítico ao mesolítico/neolítico, as primeiras civilizações registradas surgiram há cerca de 5 mil anos atrás –, produzem como se inseridos nela e ganham por isso também como se inseridos nela. Para os mesmos fins, consideremos que ambos, desde o primeiro dia produtivo de suas vidas, ganharam mensalmente o mesmo valor ganho por um assalariado brasileiro atualmente, isto é, R$ 1.518,00 – cerca de 251 dólares na cotação atual, mas, para simplificar, consideraremos uma cotação de dólares fixa em R$ 5. Por fim, vamos excluir qualquer gasto, com roupas, moradia, alimentos ou qualquer coisa do cálculo, assumindo que todo o dinheiro iria para a poupança.

Ensinados, ambos, sobre o valor do trabalho duro e da economia, guardaram, para fins de investimento, por toda sua vida aquilo que ganharam de seu suor, portanto. E, finalmente, no ano de 2025 d.C., decidem que chegou a hora de colocar todo aquele dinheiro honestamente conquistado para “trabalhar por eles”. 

Hoje, este ser extraterrestre e este homem encontrariam um cenário animador. O extraterrestre, de seu lado, teria 1 trilhão de dólares, o que é quase o suficiente para comprar uma empresa como a Alphabet Inc., que apresenta um valor de mercado de 2,19 trilhões de dólares e é a quinta na lista de empresas com maior capitalização de mercado do mundo. Teria de passar mais cerca 326 milhões de anos vivo para isto. O homem imortal, por sua vez, teria 1 bilhão de dólares e estaria apenas 421 vezes atrás da riqueza acumulada pelo homem mais rico do mundo, Elon Musk, o que significa que teria de viver somente 115.250.000 de anos a mais para chegar nele. Em ambos os casos, no espírito de nosso experimento, não há correção para inflação e outras variantes, que fique claro.

Felizmente, porém, os homens podem unir sua riqueza e o extraterrestre também havia, ao perceber que a sociedade caminhava para aproximar-se daquela da qual saíra, concedido a dádiva da imortalidade a um terceiro, em 1751. Sob as mesmas condições dos seus pares, este terceiro homem guardou tudo, em nada gastou, trabalhou arduamente, ganhando o salário como fruto de seu esforço. Ao fim dos 274 anos e meio, pôde contribuir com 1 milhão de dólares para o empreendimento ousado. 

E quem sabe, um dia, esse homem se tornará o próximo bilionário imortal, quem sabe! E quem dirá que não? Dizer que não é duvidar da própria ciência, da grande nova (velha) ciência econômica e quiçá da própria liberdade individual.

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