Dezenas de trabalhadores foram brutalmente reprimidos pela Brigada Militar (BM) com espancamentos, disparos de bala de borracha e prisões após uma partida de futsal em Camaquã, na região centro-sul do Rio Grande do Sul, no dia 18 de agosto. Ao menos uma pessoa ficou ferida com gravidade e precisou de atendimento médico no hospital. Dois trabalhadores foram detidos.
Os trabalhadores denunciam que policiais da Força Tática da BM presentes começaram o covarde ataque com disparos de bala de borracha na porta do vestiário e em meio à torcida. “A polícia chegou batendo de graça em todo mundo, dando tiro de bala de borracha. Pegou em mim, assim como pegou em várias mulheres, crianças”, relatou uma trabalhadora ao blog BJ News.
Os organizadores do evento, sediado no Ginásio Municipal de Esportes Wadislau Niencheski, afirmam que a partida estava “muito tranquila dentro da quadra” e “muito disputada”, antes da intervenção da BM. Apesar disso, a equipe Frankfurt de Camaquã, denunciou em nota que seguranças do ginásio estavam “ameaçando torcedores durante o jogo”. A repressão foi iniciada após uma discussão entre as duas equipes, descrita como um “bate-boca normal de fim de jogo”.
Fora do ginásio, um homem foi atingido por golpes de cassetete e pelo menos três disparos de munição não letal à queima roupa. Os tiros atingiram o braço direito, o joelho direito e a coxa esquerda. Estilhaços acabaram ferindo também a canela direita do homem. O momento foi registrado em vídeo e publicado nas redes sociais.
Outro vídeo do momento mostra o homem ferido sendo algemado pelos policiais e levado a uma viatura. Os disparos por munições não-letais podem resultar em morte ou graves comprometimentos de órgão, sentido ou função, principalmente quando atingem regiões mais sensíveis do corpo humano, como a face ou olhos. O estado de saúde do trabalhador não foi divulgado.
Violência policial apresentou aumento no estado
De acordo com dados divulgados pela Defensoria Pública do Estado (DPE), foram registrados, ao longo de 2022, 1.061 casos de violência policial no estado, representando um aumento de 41% em relação ao ano anterior. Em 2023, novos casos de violência policial seguem sendo denunciados. Em janeiro, policiais torturaram uma mulher na cidade de Novo Hamburgo, Região Metropolitana de Porto Alegre, asfixiando-a com uma sacola plástica.
Na capital, em fevereiro, quatro policiais militares foram presos suspeitos de atearem fogo e espancar um jovem negro, que faleceu em decorrência dos ferimentos. Em março, em Erechim, norte do estado, o operário Rudimar Rolim Machado foi executado à queima-roupa por PMs, e sua família perseguida por denunciar o caso. Em abril, em Catuípe, noroeste do RS, um PM assassinou o caminhoneiro Gilvane Pinto após ter invadido sua casa armado e vestindo uma touca-ninja.
Mais recentemente, em maio, a BM assassinou o atleta de MMA José Mauro de Chaves Chaulet, de 35 anos, e feriu a tiros Raquel Almeida, companheira do lutador, também em Porto Alegre, capital. O atleta teve o carro fuzilado pelos militares após uma briga generalizada envolvendo PMs à paisana na saída de uma festa. Após serem torturados pelos policiais, Chaulet foi executado e Raquel, que havia sido baleada, teve seu socorro omitido.
Rebeladas, as famílias vítimas de violência policial lutam incessantemente por justiça. Recentemente, em maio, cerca de 80 pessoas, entre familiares e amigos, realizaram uma vigorosa manifestação exigindo a punição dos policiais assassinos do operário Rudimar Rolim Machado.