Momento em que Rai Duarte é retirado do ônibus pela Brigada Militar. Foto: Banco de dados AND
A Brigada Militar do Rio Grande do Sul (BMRS) torturou brutalmente o funcionário público Raí Duarte, de 33 anos, no dia 1º de maio. Conforme relatado por testemunhas, Duarte foi retirado por dois policiais de um ônibus de excursão em perfeito estado de saúde. Porém, após sair com os militares, ele deu entrada na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) Hospital Cristo Redentor, em Porto Alegre, em estado grave e com sinais de espancamento.
Raí deu entrada no hospital cerca de uma hora depois de ser retirado do ônibus pelos policiais. O trabalhador estava com hemorragia interna, intestino rompido e com o corpo cheio de hematomas. Segundo o hospital, Duarte foi submetido a duas cirurgias. Ele respira com o auxílio de aparelhos.
O crime ocorreu após a partida de futebol no mesmo dia, entre os clubes São José e Brasil de Pelotas, no estádio Francisco Novelletto Neto, no bairro Passo D´Areia, na zona norte da capital gaúcha.
Na internet, publicações relatam que a ação policial foi marcada por tapas, socos, pontapés, uso de gás pimenta e outros tipos de torturas físicas e psicológicas.
Outros torcedores que acompanhavam Duarte deram relatos ao jornal Diário Popular sobre a tortura realizada pela BM: “Levaram ele para um canto, uma peça, no lado esquerdo ali. Levaram e surraram ele em uma sala. Os colegas trocavam turno para bater nele. Iam lá outros para bater. Depois deixaram ele tomar um gás e recomeçaram. Tudo em um cantinho onde nos encurralaram, no cantinho de cara para o portão. Eu, por exemplo, deitei com a cara no chão, algemado. De vez em quando vinham, pisoteavam. Com o Raí, da última vez, mandaram ele levantar mas não tinha condição nenhuma, e aí arrastaram pelas pernas”, contou um torcedor.
Ainda conforme relato dos torcedores, Duarte caiu de joelhos pouco depois de ser levado para fora do ônibus e reagiu apenas verbalmente. Na sequência, ele foi levado por policiais e não foi mais visto. Só depois veio a informação das lesões sofridas e a internação em um hospital de Porto Alegre.
Outro torcedor também deu relatos sobre as humilhações e torturas praticadas pelos militares: “Levaram o Raí e a gente só escutava o barulho. Era ‘pá, pá, pá, uma atrás da outra’. Depois dali nos levaram ao hospital. […] Nos botaram dentro da viatura para ir até a delegacia. Do estádio até o hospital, eram seis pessoas dentro do porta-malas. Ficamos mais de meia hora, dentro da viatura, apertados, sem liberação. […] Quando nos colocaram no porta-malas da viatura, nos obrigaram a ficar gritando ‘Viva o Choque, viva o Choque’”, contou.
Em entrevista ao jornal do monopólio de imprensa Gaúcha Zero Hora, Marta Moraes Correa, mãe de Raí, acusou o velho Estado e seus gerentes como responsáveis pela tortura de seu filho: “Meu filho já estava dentro do ônibus para ir para casa. Ele foi tirado, algemado e torturado. Torturaram o meu filho. Tinha uma pessoa com ele, que eu não sei quem é, e não era da excursão dele, que falou que o Rai foi torturado por horas. Davam nele e mandavam ele levantar. Ele não conseguia e arrastaram ele. Foi brutalmente torturado. Deram nele com sola e não sei o que mais. Por que os responsáveis não tomam uma providência?”, denunciou.
A família viajou de Pelotas a Porto Alegre sem nenhuma assistência jurídica ou lugar para ficar, e ainda não recebeu nenhuma justificativa do ocorrido. Duarte segue internado em estado grave. Uma campanha de auxílio financeiro para o custeio das despesas da família na Capital está sendo realizada. O Pix para doação é o CPF: 550.289.420-72.