RS: Cheia histórica em Porto Alegre escancara descaso na região das ilhas

Após as fortes chuvas do fim de setembro, mais de 2 mil pessoas tiveram que evacuar suas casas para fugir da cheia do Lago Guaíba.
Região das ilhas de Porto Alegre tomada pela água. Foto: Reprodução

RS: Cheia histórica em Porto Alegre escancara descaso na região das ilhas

Após as fortes chuvas do fim de setembro, mais de 2 mil pessoas tiveram que evacuar suas casas para fugir da cheia do Lago Guaíba.

Após as fortes chuvas do fim de setembro, mais de 2 mil pessoas tiveram que evacuar suas casas para fugir da cheia do Lago Guaíba, que teve um aumento histórico de 3,44 metros, o maior em 82 anos apenas superada pela grande enchente de 1941, com 4,76 metros acima da cota de inundação. A região mais afetada, como sempre, são as mais pobres e historicamente negligenciadas regiões das ilhas, que abrigam mais de 8 mil ribeirinhos que vivem principalmente da pesca.

Até o dia 20 de novembro, pelo menos 800 pessoas haviam sido desalojadas somente na região das ilhas. Além dessa região, áreas rurais e operárias de Porto Alegre também foram inundadas pela cheia. A falta de estrutura por parte do Estado levou à destruição da produção camponesa e perda total de casas e bens por parte dos camponeses e operários. Na zona sul, zona rural de Porto Alegre, a água vem invadindo os bairros próximos à margem do Guaíba desde o início das chuvas neste ano. Já na zona norte, zona que abriga os grandes bairros operários e mais pobres da cidade, uma das comportas que protege a cidade das cheias do Guaíba rompeu, inundando uma grande área. Em todo o estado, são 28 mil desalojados e 8 mortos por conta das enchentes.

Descaso histórico

A origem do descaso do velho Estado com as ilhas é a origem comum de muitas áreas mais carentes da capital. As ilhas foram o lar, desde o final do século XIX, de populações quilombolas que fugiram das grandes propriedades, protegidas na época por uma extensa muralha que cercava a cidade, para a “zona das emboscadas”, como era chamado o extenso matagal onde dezenas de quilombos surgiram. Com o tempo, os quilombos foram sendo engolidos pela expansão da cidade, e hoje, pode-se mapear algumas das zonas mais destituídas da cidade com os exatos locais onde um dia vigorava uma grande população quilombola.

O descaso histórico das ilhas de Porto Alegre foi imortalizado no documentário de Jorge Furtado, Ilha das Flores (1989) que mostrava a trajetória de um alimento até ser descartado em um lixão a céu aberto na Ilha das Flores, a maior ilha de Porto Alegre, cujo antigo nome era Ilha do Quilombo. A cenas com crianças disputando restos de alimentos dados aos porcos mostradas no documentário ainda são um retrato fiel da vida na Ilha das Flores, cujos habitantes agora sentem o descaso criminoso do velho estado não apenas na fome e na miséria, mas também com as enchentes que levam embora suas vidas inteiras.

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