RS: Começa ainda este mês a expulsão da Vila Nazaré para a expansão do aeroporto

RS: Começa ainda este mês a expulsão da Vila Nazaré para a expansão do aeroporto

Moradores se revoltam contra reassentamento, sem saber quando e para onde irão

Foto: Joana Berwanger/Sul21

Desde 2007 os moradores se encontram sob ameaça de remoção. Na época, o objetivo era preparar o aeroporto para a copa de 2014, mas a obra atrasou, dando à comunidade mais tempo no local. Entretanto, a Marchezan e a Fraport (empresa alemã que comprou a administração do aeroporto Salgado Filho no leilão de disputa em 2017) deram um novo prazo para a construção: 2021, e pretendem começar ainda este mês a expulsar a comunidade da Vila Nazaré de suas casas.

De acordo com o portal amigosdaterrabrasil.org.br, para pressionar as pessoas a abandonar o local, a prefeitura há anos corta os investimentos na Nazaré. “Não há nenhum cuidado com as ruas de terra ou com o saneamento do esgoto, que transborda em dias de chuva. Além disso, o posto de saúde que funcionava dentro da comunidade foi desativado. Tudo em nome do interesse da empresa alemã Fraport, que desde 2016 ganhou a concessão para operar o Salgado Filho e tem pressa em ampliar sua pista”. O posto de saúde desativado hoje é usado como local de reuniões na comunidade, demonstrando a resistência e vontade de lutar dos moradores.

Desde o começo de 2018, com o cadastramento no SIC, pela empresa Itazi (contratada pela Fraport), das famílias para a realocação, os moradores relatam ao portal sul21.com.br que a vila é constantemente alvo de violência policial e violações. “Eu vi a polícia, na primeira semana da cadastração (sic), mirando de brincadeira nas crianças. Uma amiga minha que estava ali na frente gritou: não, por favor, não atire. Na primeira semana, eles botaram o terror nessa vila. Aqui a gente não tem medo dos moradores da comunidade, a gente tem medo da polícia que entra atirando”. A empresa Itazi Engenharia, inclusive, é “reconhecida pela agilidade e técnica que conseguem impor ao processo expropriatório”.

“Quando eles entram raivado (sic), eles entram quebrando tudo. Eles usam aquele fardamento e se provalecem”, diz um morador. Os “malhados”, como chamam policiais que usam uniforme do Batalhão de Operações Especiais (BOE) da BM, “são os piores”. “A gente era para se sentir segura quando eles estão aqui. Mas não. Uma mãe segura o filho em casa, por medo que ele saia para rua, porque a polícia está aqui”, complementa uma moradora que está há mais de 20 anos na Vila.

Área marcada no mapa estaria dentro do local afetado pela ampliação da pista. Foto: Joana Berwanger/Sul21

Os moradores continuam sem saber exatamente para onde irão, mas, um dos locais previsto, seria o loteamento Irmãos Maristas, que empurraria a comunidade para um local dominado pelo tráfico. “Já o segundo local, o loteamento Irmãos Maristas, com cerca de mil vagas, fica a mais de uma hora de distância, próximo ao bairro Timbaúva. Os moradores rejeitam a opção porque dizem que a região seria ‘muito perigosa’. Apesar de ser uma região de tráfico de drogas, na Nazaré, dizem eles, não há execuções e cenas de violência como em outros pontos da cidade”. O outro seria o Senhor do Bom Fim, que fica próximo à região atual da Nazaré, mas que tem apenas 364 vagas. As unidades do local foram ocupadas irregularmente e só tiveram a reintegração de posse realizada em março de 2018.

Apesar de todo o descaso e agressão do Estado para com a comunidade, os moradores resistem e deixam claro que não querem sair do local. Há um sentimento de pertencimento dos moradores com a vila, onde chegaram há 50 anos e construíram suas casas onde só havia mato. Lá, eles criaram seus filhos e seus netos e, mesmo com a sabotagem pela prefeitura das coisas mais básicas da Nazaré, como saneamento básico e saúde pública, os moradores continuam vivendo no local.

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