Seguranças de empreendimento privado acompanham de perto visita de apoiadores a indígenas na Ponta do Arado. Foto: Douglas Freitas/Amigos da Terra Brasil
Homens encapuzados ameaçaram e dispararam contra a comunidade Mbya na madrugada de 11/01, segundo denunciou o Conselho Indigenista Missionário (Cimi). De acordo com os guaranis, os pistoleiros encapuzados afirmaram que se eles não saíssem da área até domingo, dia 13, seriam todos mortos. “Não vai sobrar nenhuma pessoa”, ameaçou os pistoleiros.
A área retomada é conhecida como Ponta do Arado e fica às margens do Rio Guaíba, em uma área de preservação ambiental, que também é terra ancestral Guarani. Atualmente, essa área é alvo de forte especulação imobiliária.
Segundo o cacique, no dia 9, um homem que se apresentou como gerente de uma empresa que pretende construir um grande condomínio no local, cujos seguranças já ameaçaram diversas vezes a comunidade, se ofereceu para “ajudar” os indígenas a se mudarem para a Aldeia do Cantagalo, que fica em Viamão, na região metropolitana de Porto Alegre.
No site Sul21, consta que no dia 15 de junho de 2018 os Guaranis retomaram a antiga Fazenda Arado Velho, reconhecida como área de preservação, mas que tem suas matas como propriedade privada. Os guaranis haviam saído justamente da Aldeia do Cantagalo, que é onde a empresa os quer de volta.
Sobre o Cantagalo, o cacique relata que os hectares são insuficientes para comportar mais de 60 famílias e 140 alunos. O local também é composto majoritariamente por morros, além da areia grossa que torna difícil o plantio. A pequena parte plana é usada para a construção de casas. Outro ponto negativo da localidade é a sua proximidade com a cidade, que interfere na preservação da cultura indígena. “Nós somos guarani. Temos que saber mesmo escutar nossa palavra.”, protesta.
O Cacique Karaí Timóteo fala da falta da terra onde possam os indígenas estabelecer sua aldeia e preservar os costumes indígenas: “Sempre… até dor nós temos no coração, né? Porque não temos o lugar para viver à vontade”.
No dia 10, os indígenas relatam que seis seguranças rondaram os barracos falando alto, depois foram para o meio da fazenda que circunda a retomada e disparado muitos tiros. Na madrugada aconteceu o ataque.
Os agressores a serviço da especulação imobiliária, que antes se declararam como policiais, entre as ameaças revelaram que “com o novo governo, eles têm agora poder de polícia para defender as propriedades”.
As recorrentes ameaças aos guaranis
Desde a retomada da área na fazenda, a comunidade sofre com uma série de ameaças e ataques por parte dos agentes reacionário das empresas. O site Amigos da Terra relata que as famílias foram expulsas à força do seu primeiro acampamento no local, sendo cercadas na área ribeirinha da Ponta do Arado.
A vigilância dos seguranças privados, para os quais foi construída uma casa dentro da área da ocupação, é constante e agressiva. Os guardas chegam até a filmar qualquer movimento dos índios ou apoiadores, como forma de intimidação. Não obstante as ameaças, foi negado acesso ao poço artesiano mais próximo da área, privando as famílias de água potável.
A violência reacionária não é destinada só aos indígenas, mas também a pequenos pescadores que pescavam na área e transportavam os indígenas. Eles foram ameaçados e tiveram seus barcos sabotados.
Os empresários Iboty e Eduardo Ioschpe, nomes de peso na indústria imobiliária, pretendem transformar a área de preservação ambiental e solo ancestral guarani em uma série de empreendimentos, assim como em condomínios de luxo da urbanizadora Damha.
Em novembro, militares do Exército reacionário também averiguaram áreas de ocupação guarani em Porto Alegre. Eles fizeram uma série de questionamentos aos indígenas e um mapeamento do local. De acordo com o Cimi, desde a promulgação da constituição federal de 1988 os indígenas nunca haviam sido abordados assim. “O levantamento teria sido feito a pedido do governo do Rio Grande do Sul, a fim de registrar, de forma velada ou explícita, a situação fundiária das áreas indígenas, a infraestrutura construída nessas terras – se foram feitas pelo Estado, pela União, ou pelas próprias comunidades -, bem como acerca do procedimento demarcatório.”, denuncia.
Funai não protege indígenas
A Funai, como já é conhecido, não provê às comunidades sob sua proteção o que lhes é necessário. Como já foi citado no jornal A Nova Democracia, a Funai, assim como “todas essas empresas, possuem um conselho de administração composto por cerca de seis a 12 conselheiros que se reúnem de duas a três vezes ao ano, porém recebem polpudos jetons mensais”.
Contrariando sua fachada “democrática”, a Funai se revela como agente do velho Estado em crimes como quando um funcionário seu atirou em um indígena durante um protesto no Mato Grosso.
Atualmente, no governo do fascista Bolsonaro, foi retirado das mãos da fundação o trabalho de identificar e demarcar as terras indígenas. Essa tarefa agora é de responsabilidade do Ministério da Agricultura, dirigido pela líder da bancada do latifúndio Tereza Cristina.