Um crescente contingente de supostos “seguranças particulares” tem cercado as terras dos Guaranis Mbyas da comunidade Ponta do Arado, às margens do Rio Guaíba, no bairro Belém Novo em Porto Alegre (RS), segundo denunciou o Conselho Indigenista Missionário (Cimi) em nota publicada dia 18 de janeiro.
O Cimi denunciou também que equipamentos de vigilância como sensores e câmeras estão sendo instalados em cercas com o objetivo de cercar e limitar a liberdade de movimento da comunidade guarani. Além disso, policiais militares têm invadido a área indígena e feito uma série de arbitrários interrogatórios com guaranis e apoiadores da comunidade.
Prosseguimento dos ataques
Isso tudo ocorre após a comunidade Ponta do Arado ter sofrido um ataque à tiros na madrugada do dia 11 desse mesmo mês, conforme noticiado pelo Comitê de Apoio local ao AND. Naquele dia, segundo o Cimi, “dois homens com os rostos cobertos atiraram dezenas de vezes sobre os barracos dos indígenas”. Uma liderança indígena ainda relatou em entrevista para o Cimi que “eles [homens encapuzados] falaram que vão esperar até domingo [dia 20]. Se a gente não sair até domingo, eles disseram que vão matar todo mundo, que não vai sobrar nenhuma pessoa. Foram muitos tiros”.
Os guaranis relatam que desde o dia 9 a comunidade Ponta do Arado sofre constantes ameaças. Segundo eles, as ameaças partem de supostos “gerentes de estabelecimentos comerciais” com seguranças armados, ou dos supostos seguranças patrimoniais que patrulhavam e construíram a extremante vigiada cerca que circunda as terras Guaranis.
O conjunto de terras à beira do Rio Guaíba que forma a comunidade Ponta do Arado foi retomado pelos Guaranis Mbya em junho de 2018, após décadas de luta contra o latifúndio, afirma o Cimi. Localizada em um terreno da antiga Fazenda Arado, que é composta por 426 hectares hoje divididos entre “fazendas e áreas de preservação”, é alvo de intensa grilagem e especulação fundiária.
Os principais suspeitos das ações contra os indígenas são imobiliárias de luxo que planejam uma expansão na área do bairro Belém Novo, e que em setembro de 2018 tentaram inviabilizar o acesso do indígenas à água potável. O Cimi denuncia que o velho Estado tem incentivado a expansão imobiliária predatória no bairro.