RS: Jovem aparece morto após ser detido pela PM e comunidade se revolta

RS: Jovem aparece morto após ser detido pela PM e comunidade se revolta

À esquerda, Gabriel, à direita, o protesto de moradores na delegacia da Polícia Civil. Foto: Maurício Barbosa (Bei)

No município de São Gabriel, um jovem de 18 anos, Gabriel Marques Cavalheiro, foi encontrado morto em um açude no dia 19 de agosto depois de estar desaparecido por uma semana após ser detido pela Brigada Militar (BM). O desaparecimento e morte do adolescente após abordagem policial revoltou profundamente a comunidade da cidade interiorana, que protestou no dia 20/08 em frente à delegacia da Polícia Civil, responsável por investigar o caso.

Desaparecido após abordagem policial

Morador da cidade de Guaíba, região metropolitana de Porto Alegre, Gabriel estava desaparecido desde o dia 12/08, em São Gabriel, após ter sido colocado em uma viatura pela BM (equivalente à Polícia Militar). O menino se encontrava naquela semana na casa do tio para se alistar para o serviço militar obrigatório. Seu tio foi perceber a ausência do sobrinho no dia seguinte.

Na noite do desaparecimento, Gabriel estava na casa do tio, Antônio. A polícia foi acionada pela vizinha de Antônio, Paula, após Gabriel balançar o seu portão e gritar seu nome, ao que a vizinha percebeu que o adolescente não era da vila, nem da cidade, e ligou para a BM.

A família de Gabriel explica que é possível que o jovem tenha confundido a casa da vizinha com a casa de uma parente da família, que morava perto, e também se chamava Paula. Com a chegada da polícia e vendo que a abordagem estava sendo truculenta contra o rapaz, Paula, a vizinha, começou gravar e fotografar. Gabriel foi imobilizado e algemado por três policiais. De acordo com a vizinha, o jovem gritava que não queria ir, mas mesmo assim os policiais o levaram. “Acionei a Brigada na intenção de retirar ele, mas não para fazerem nada contra”, afirmou Paula.

Imagem mostra abordagem feita pela Brigada Militar (BM) a Gabriel Marques Cavalheiro, de 18 anos, em São Gabriel . Foto: Arquivo pessoal

Corpo encontrado na lavoura

Depois, o carro partiu para o lado direito, em direção à localidade de Lava Pés. De acordo com a mãe de Gabriel, Rosane Machado Marques, os policiais disseram que o jovem teve as algemas retiradas na viatura e teria pedido para ser deixado lá, onde pediu carona até um chalé naquela estrada. A família contesta a história da polícia, uma vez que Gabriel não era do município e não conhecia o lugar onde foi deixado, nem para onde iria após.

Em depoimento, os policiais envolvidos na ação confirmaram que levaram o jovem até a localidade de Lava Pés, distante 6 km de onde aconteceu a abordagem. O veículo teve o roteiro registrado por GPS e mostra que foi feita uma parada de um minuto e 50 segundos na região de Lava Pé. Após uma semana de buscas, o corpo de Gabriel foi encontrado na tarde de 19/08, em Lava Pés, após o seu casaco ser encontrado também no local.

Comunidade se revolta

No dia 21/08, mesmo dia em que Gabriel era velado, a comunidade realizou um grande protesto com 200 pessoas em frente à Polícia Civil, que investiga o caso. “Estamos aqui porque somos mães, temos adolescentes em casa. Que isso não se repita nunca mais com nossos filhos” disse Gisela Jobim, manifestante e dona de casa, à reportagem do monopólio de imprensa RBS TV. “Todas as mães de São Gabriel choram neste momento”, complementou Silene Alves, outra manifestante.

Moradores de São Gabriel protestam contra o desaparecimento pela polícia e morte de Gabriel. Foto: RBS TV/Reprodução

O velório de Gabriel também foi marcado por revolta e protesto, com parentes e amigos carregando cartazes exigindo justiça contra os responsáveis pela sua morte.

Comunidade comparece ao velório de Gabriel Marques Cavalheiro. Foto: RBS TV/Reprodução

Familiares e amigos de Gabriel carregam cartaz em velório escrito “Não vamos descansar enquanto não haver justiça!”. Foto: RBS TV/Reprodução

Estudantes e professores protestam

Estudantes e professores se revoltam contra desaparecimento de Gabriel após abordagem policial. Foto: Pedro Molnar

Estudantes da escola Cônego Scherer, onde Gabriel cursava o Ensino Médio, realizaram um protesto no dia 19/08, quando o corpo do menino ainda não havia sido encontrado, exigindo que fosse respondido onde estava Gabriel.

“Nem podemos imaginar a dor desses pais em não saber onde está o Gabriel. E hoje esse motivo de nós estarmos aqui é para pressionar seja quem for, nós queremos é uma resposta: onde está o Gabriel? Porque ele não está aqui em sua turma hoje junto com todos”, afirmou a diretora Maria da Graça Medeiros. “Nós não poderíamos deixar isso passar em branco sem nos posicionarmos, sem nos emocionarmos e sem pedir justiça. Queremos justiça em relação ao Gabriel, esse caso não pode passar em branco, ficar impune e ser mais um na estatística do Rio Grande do Sul”.

Estudantes e professores se revoltam contra desaparecimento de Gabriel após abordagem policial. Foto: Pedro Molnar

Policiais envolvidos no crime já tinham passagem por abuso de autoridade

Os três policiais envolvidos no caso estão, atualmente, presos preventivamente por abandono de pessoa que está sob seu cuidado, guarda ou vigilância e falsidade ideológica, por conta de alteração de documento público. Um registro feito pelos policiais mencionava que Gabriel havia sido liberado no local da abordagem, após o despacho da ocorrência, o que é um crime de fraude processual

Além disso, os policiais já tinham passado por inquéritos de abuso de autoridade e outros que não foram revelados pela BM. Os três policiais envolvidos eram experientes, com tempos de carreira na corporação entre cinco e 16 anos.

Genocídio da juventude pobre 

O assassinato de Gabriel faz parte do genocídio contra a juventude pobre e preta que ocorre em todo o país. Dados do Anuário de “Segurança Pública”, divulgados em 2021, revelaram que as forças de repressão brasileiras nunca mataram tanto quanto em 2020. 

As massas pretas foram as maiores vítimas de policiais — correspondem a 78,9% das 6.416 pessoas mortas por policiais naquele ano. O número de mortos por agentes de segurança aumentou em 18 das 27 unidades da federação, revelando um espraiamento do genocídio em todas as regiões do país. Com relação à idade, 76% das vítimas têm até 29 anos, com maior prevalência entre os jovens de 18 a 24 anos (44,5%). 

Apenas recentemente, o governo Castro, no Rio de Janeiro, promoveu 3 das 5 chacinas policiais mais letais da história do RJ. Tudo isso mostra que o problema do genocídio do velho Estado da juventude pobre é sentido por todo o povo, desde as capitais ao interior do país. 

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