RS: Matança por descaso já matou 39 gaúchos após temporal

O saldo do descaso histórico do governo estadual e federal se revelou no maior desastre da história do Rio Grande do Sul, superando as chuvas de 2023, que deixaram mais de 70 mortos.
Região ribeirinha de Porto Alegre. Foto: Reprodução

RS: Matança por descaso já matou 39 gaúchos após temporal

O saldo do descaso histórico do governo estadual e federal se revelou no maior desastre da história do Rio Grande do Sul, superando as chuvas de 2023, que deixaram mais de 70 mortos.

O saldo do descaso histórico do governo estadual e federal se revelou no maior desastre da história do Rio Grande do Sul, superando as chuvas de 2023, que deixaram mais de 70 mortos.

O grande volume de chuvas que atingiram o Rio Grande do Sul provocou deslizamentos de terra por toda a região da serra. Até o momento, 39 pessoas morreram, o quádruplo da última vez que foi noticiado pelo AND, e o número de desaparecidos aumentou exponencialmente, até o momento são 68 desaparecidos. Ao todo 234 municípios registraram algum tipo de ocorrência e mais de 17 mil pessoas estão fora de casa, com mais de 7 mil desabrigados. A defesa civil revelou que mais de 300 mil estão sem luz e água.

Avenida da Conceição invadida pela água, Porto Alegre. Foto: Reprodução

Saldo de mortos quadruplicou em menos de 48 horas

Deslizamentos de terra aconteceram em São Vendelino, onde pai e filho foram soterrados pela terra, apenas o corpo do filho foi achado até o momento. Em Santa Maria uma jovem e sua mãe morreram após um deslizamento de terra arremessar uma pedra em sua casa. Em Gramado, onde quatro pessoas morreram após terem a casa destruída por um deslizamento de terra na região da Linha da Pedra Branca da Furna, mais de 10 pessoas estariam ainda soterradas na região, a região da Linha do Quilombo também colapsou mas não há registros de mortos por enquanto, ambas as regiões são habitadas majoritariamente por pequenos produtores. Em Canela, na região do Rancho Grande, duas pessoas morreram após também terem sua casa destruída por um deslizamento.

Em Boa Vista do Sul, um casal morreu após ter o carro soterrado por um deslizamento de terra e em Serafino Correa dois homens foram achados mortos nas ruas alagadas. Em Três Coroas a cidade foi completamente tomada pela água, com a população se acumulando no hospital, também alagado, único local com energia e conexão com a internet, três pessoas foram achadas mortas na cidade. Em Santa Cruz do Sul, mais duas pessoas foram achadas mortas soterradas por deslizamento de terra. Também foram registradas mortes em Segredo, Caxias do Sul, Bento Gonçalves, Taquara, Silveira Martins, Putinga, São João do Polêsine, e Vera Cruz, mas devido ao isolamento dessas localidades, não há informações sobre as mortes.

A maior parte dos desaparecidos se concentra em Roca Sales (10), Marques de Souza (13), Candelária (8), Encantado (6) e Lageado (5).

Barragem rompe anunciando desastre iminente

A barragem 14 de Julho, que fica entre Bento Gonçalves e Cotiporã, na região da Serra, rompeu e gerou uma enorme onda d’água que desceu o fluxo do Rio Taquari. Moradores de Santa Tereza, Lajeado, Roca Sales, Colinas, Arroio do Meio, Muçum e Encantado foram orientados a deixar suas casas imediatamente e se abrigar em locais altos. A barragem que fica em Caxias do Sul, na mesma região, também tem risco de romper.

Além da barragem, em muitos pontos do estado, pontes foram levadas pela correnteza, ilhando diversas cidades com difícil acesso. Na ponte que levava a Lajeado e Estrela, no centro-leste, uma balsa foi arremessada pela correnteza contra a ponte. Dezenas de cidades estão inacessíveis pelas estradas.

Zona Metropolitana Alagada

As chuvas, que se concentram na Região Central e da Serra, causam a cheia dos afluentes do Rio Guaíba, levando a cheia do Guaíba em si. Até o momento as águas já invadiram o cais do Mauá, no centro da capital, e invadiu os bairros Farrapos e São Pedro, e Centro-histórico, fechando metade das estações de trem de Porto Alegre e desativando a estação rodoviária  da cidade, que está embaixo d’água, o aeroporto de Salgado Filho já está sendo invadido pela água e pode ser fechado a qualquer momento.

Mesmo fechando as comportas de emergência que bloqueariam a entrada da água, vazamentos que já haviam sido identificados no ano passado fizeram a água invadir diversas áreas, incluindo o centro administrativo do governo. Na zona sul da capital, a cheia já fez a água invadir o bairro Ipanema, Belém Novo e Lami, as casas mais próximas à margem já estão tomadas pela água. Em uma situação que se torna rotineira, a situação na região das ilhas, parte mais precarizada de Porto Alegre, é de completo caos, com camponeses e pescadores tentando salvar seus animais e pertences da cheia. Mais de 2 mil pessoas já tiveram que deixar suas casas na região. 

A cheia do Guaíba, que subiu 5 metros, é a pior da história da cidade, superando a grande enchente de 1941.

Ruína do campesinato

A água que é jogada para fora da serra drena as lavouras e destrói plantações, quem planta em regiões de várzea, que é o caso das populações ribeirinhas e de muitos camponeses com pouca terra, perdeu toda ou quase toda a plantação. As perdas das plantações de grandes latifundiários e empresas multinacionais são motivo de grande alarde nos grandes jornalões, mas invisível as câmeras dos monopólios de mídia estão os milhares, possivelmente milhões de camponeses e pequenos produtores que têm suas roças destruídas pela água e o vento. Além da perda nas plantações, e criações de animais também sofrem risco, já que quase sempre é impossível evacuar as vacas, cavalos, porcos e galinhas de áreas com risco de alagamentos, além de danos a galpões e nas casas dos camponeses. 

A maior vítima do descaso do velho estado é sempre o campesinato, sobretudo suas camadas mais pobres. Completamente a mercê do velho-estado acéfalo e incompetente, as massas do Rio Grande do Sul se veem abandonadas. Mesmo um ano após as enchentes que mataram mais de 70 pessoas, o governo não planejou ou investiu em nenhum protocolo de segurança ou evacuação, cidades que foram varridas do mapa em 2023, como Roca Sales, hoje são novamente vítimas do descaso assassino. 

Mais do que incompetente, o governo do Rio Grande do Sul que e encabeçado pelo fascista Eduardo Leite se demonstrou completamente inoperante, quase que inexistente, tendo que implorar as forças de salvamento de outros estados devido a Defesa Civil e Corpo de Bombeiros sucateados. A ‘ajuda’ que o velho estado prometeu às massas atingidas em 2023 foi ínfima, e veio em formas de empréstimos de bancos, afundando cada vez mais o povo, principalmente os pequenos produtos, na mais profunda miséria. Quando não há estado, se cria, e a podridão do Rio Grande do Sul, cuja única instituição que parece funcionar é o aparato policial repressivo, é evidente. Os autoritarismos do governo atual assemelham-se a tiranias que levaram o estado a guerra a 101 anos, e com a matança de 2023 e agora em 2024, se prepara o terreno para a grande sublevação do povo.

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