RS: Rodoviários realizam novo protesto contra a privatização da Carris em Porto Alegre

RS: Rodoviários realizam novo protesto contra a privatização da Carris em Porto Alegre

Rodoviários ligados à empresa estatal Carris realizaram uma paralisação junto a um protesto em frente à garagem da empresa, na zona Leste de Porto Alegre, capital do estado do Rio Grande do Sul. A manifestação aconteceu por volta de 4h40m, do dia 23 de agosto e reuniu cerca de 150 pessoas que fecharam a rua Albion, no bairro Paternon. Os rodoviários denunciaram as políticas anti-povo de Sebastião Melo (MDB), prefeito de Porto Alegre (RS), entre elas a privatização da empresa que seria votada no mesmo dia.

Outras medidas também foram rechaçadas, como a demissão dos cobradores e a retirada de circulação de mais de 100 veículos e um plano de demissões voluntárias. Em assembleia na mesma manhã, os funcionários votaram favoráveis à paralisação por período indeterminado, até o prefeito reacionário atender demandas dos trabalhadores.

Ainda na madrugada de 23/08, centenas de trabalhadores da Carris, ao lado de estudantes e simpatizantes do movimento anti-privatização, se organizaram em frente à sede da empresa no bairro Partenon, bloqueando a saída de ônibus. Às 8:00, dos 60 veículos que regularmente estariam nas ruas, apenas cerca de dez deles conseguiram sair, auxiliados por intervenção da Brigada Militar, que chegou ao local para intimidar os trabalhadores.

Trabalhadores não aceitam demissões

Os rodoviários levaram faixas e cartazes com denúncias contra o projeto da prefeitura de privatização da empresa, contra a demissão de trabalhadores e contra a extinção do cargo de cobrador. A proposta apresentada pela prefeitura à câmara de vereadores propõe a desestatização da empresa.

Os trabalhadores argumentam que a extinção do cargo de cobrador deixará mais de 2.000 trabalhadores desempregados e aprofundará a exploração sofrida pelos motoristas, que realizariam desde modo, duas funções. O protesto é o segundo realizado pelos trabalhadores em um intervalo de apenas dez dias.

Marcelo Weber, um dos motoristas de ônibus que participaram da manifestação, em entrevista ao portal Gaúchazh, disse que se as exigências dos trabalhadores não forem atendidas, a categoria poderá entrar em greve: “Vamos conversar com todos os colegas para conscientizar sobre a importância de cruzar os braços e mostrar que somos totalmente contra o projeto que prevê a desestatização da Carris. Não queremos que o projeto seja votado, afirmou o trabalhador”.

Trabalhadores da Carris votam favorável à greve em assembleia. Foto: Ricardo Giusti

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Melo avança sob trabalhadores com represálias

Em entrevistas de urgência ao monopólio de mídia local simultâneas ao protesto, Melo declarou que não voltaria atrás em suas medidas, e pelas redes sociais anunciou represálias aos trabalhadores, como cortes do ponto e do salário.

Em entrevista à Rádio Gaúcha, Sebastião Melo defendeu a privatização da empresa, dizendo que esta “não tem condições de continuar”. 

Os portais da imprensa reacionária, como a GaúchaZH e Correio do Povo, entre outros, após ter abafado as denúncias dos trabalhadores da Carris nos últimos meses, somaram-se ao prefeito reacionário Melo na reacionária campanha de culpar os trabalhadores em luta pela condição precária de transporte na capital. Com matérias dramáticas, utilizando fotos e gravações da lotação dentro de veículos, e dos trabalhadores esperando ônibus na parada, culpavam os manifestantes pelo transtorno em busca da opinião pública.

Apesar da série de ameaças feitas por Melo e da contrapropaganda dos monopólios de mídia, os trabalhadores não cederam. “Trabalhador acha melhor que corte o ponto a vender a Carris e perder o emprego”, afirmou Sandro Abbáde à Rádio Gaúcha.

Diante disso, Melo, com o aparato da Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC), alocou empresas privadas para cobrir as linhas da Carris, e operou ônibus sem cobradores, tendo que reduzir o valor da passagem destes. Amedrontado, apelou à ameaças de intervenção militar nos transportes, afirmando à Rádio Gaúcha que conversaria com o comandante do Exército. 

Após um decreto de greve aprovado pelos funcionários, Melo cedeu garantindo aos trabalhadores que a pauta de privatização não seria votada nos próximos dez dias. Apesar disto, o corte de ponto foi mantido, e o prefeito reacionário segue reafirmando resolutamente sua convicção em privatizar a empresa. Presos sob o comando de lideranças sindicais e políticas oportunistas, os funcionários da Carris aguardam o andamento das políticas entreguistas, preparados para retomar a paralisação.

A importância da Carris no transporte público porto-alegrense

Apesar das bravatas de Melo sobre a Carris estatal trazer apenas prejuízos ao público, durante os meses de auge da crise sanitária, quando as empresas de transporte privadas se recusaram a cobrir linhas menos rentáveis, deixando milhares de trabalhadores à deriva, quem acabou suprindo tais lacunas foi a Carris.

A crise profunda no sistema de transporte público de Porto Alegre (com cortes de linhas, ônibus sucateados, passagem a 4,80) é, na verdade, resultado da política de benefícios aos grandes empresários e sucateamento do patrimônio público da cidade, política que vem sendo aprofundada pelo gerenciamento de turno de Melo, em aliança com o governo estadual de Eduardo Leite, permeado pelo espectro de privatizações: no estado, Leite vende a luz e a água da população (CEEE e Corsan); na capital, Melo vende o transporte, além do Mercado Público e o que mais conseguir. 

A Carris é a empresa de transporte coletivo mais antiga do país, fundada em 1872. Atualmente, segundo informações da empresa, 107 mil clientes são atendidos diariamente por alguma de suas linhas.

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